Ângelo Kretã – Wikipédia, a enciclopédia livre
Ângelo Kretã | |
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Vereador de Mangueirinha | |
Período | 1º de janeiro de 1976 a 29 de janeiro de 1980 |
Dados pessoais | |
Nascimento | 12 de dezembro de 1942 Terra Indígena Mangueirinha, Paraná |
Morte | 29 de janeiro de 1980 (37 anos) Pato Branco, Paraná |
Ocupação | líder indígena e político |
Ângelo dos Santos Souza Kretã (Aldeia Indígena de Mangueirinha, 12 de dezembro de 1942[1] — Pato Branco, 29 de janeiro de 1980) foi uma liderança indígena brasileira do povo caingangue.
Era filho do professor branco Gentil Souza e da índia Balbina da Luz Abreu. Para ter direito a uma posição na sociedade da sua aldeia, foi batizado com o sobrenome indígena que havia pertencido a seu bisavô materno, o cacique Antônio Joaquim Kretã. Foi criado por um tutor, o líder João Antônio de Morais.[2] Quando criança sua aldeia foi expulsa da Terra Indígena de Mangueirinha, que foi fracionada e vendida pelo governo. Em 1963 a FUNAI começou a trabalhar para reaver as terras para os índios, mas sem sucesso.[3] Nesta época Kretã deixou a casa de Morais e passou a viver na aldeia.[4]
Viveu como agricultor e se destacou em trabalhos comunitários. Em 1971 foi eleito cacique, e ao discursar em sua posse afirmou o compromisso de recuperar o protagonismo dos índios nos assuntos que lhes diziam respeito.[2] Kretã começou a se tornar mais conhecido quando foi eleito vereador pelo MDB em 1976, o primeiro indígena brasileiro a assumir uma legislatura, defendendo a demarcação das terras indígenas. Entre 1978 e 1979 liderou a retomada de posse das Terras Indígenas de Chapecó, Rio das Cobras e Mangueirinha, nesta recuperando mais de 9 mil hectares para seu povo, de uma área original de 18 mil ha, expulsando posseiros que lá estavam instalados,[5] e dando início a um movimento que se espalhou por vários estados.[2] Em 1979 foi um dos principais articuladores na criação da União das Nações Indígenas.[6]
Sua atividade desencadeou resistências de latifundiários e madeireiros, passando a receber ameaças, e em 22 de janeiro de 1980 sofreu um acidente automobilístico, vindo a falecer no dia 29 no hospital de Pato Branco, havendo indícios de ter sido um atentado. Sua morte recebeu ampla divulgação.[3][5] O sepultamento contou com a presença das principais lideranças indígenas dos três estados do sul do Brasil e de São Paulo.[5] Foi casado com Elvira dos Santos, deixando o filho Romancil e a filha Eloy. Romancil Kretã tornou-se cacique e continua suas lutas.[2]
Ângelo Kretã tornou-se um símbolo das lutas indígenas no Brasil.[5] Hoje é visto como uma importante liderança indígena brasileira[7][8] e a maior liderança do sul nos primórdios do movimento de retomadas.[9] O dia de sua morte é comemorado como Dia de Luta e Resistência dos Povos Indígenas da Região Sul.[8] Seu nome batiza uma escola em São Paulo, por conta "da relevância dos serviços prestados à comunidade indígena",[10] uma praça em Curitiba e a Sala Angelo Kretã no Solar do Barão em Curitiba. Em 2017 um evento no Solar do Barão recuperou sua memória,[9] quando o prefeito Rafael Greca abriu oficialmente o seminário Em Memória de Ângelo Kretã: Balanços e Perspectivas sobre a Questão Indígena no Sul do Brasil, realizado na Universidade Federal do Paraná.[11][7] Em 2020 várias entidades indígenas do sul do país organizaram uma grande festividade na Terra Indígena Tupã Nhe'é Kretã para homenageá-lo.[5] Na ocasião as lideranças publicaram uma carta aberta denunciando as violações dos direitos indígenas e fazendo várias reivindicações.[12] No mesmo ano a Assembleia Legislativa do Paraná instituiu a Semana Ângelo Kretã de Luta pelos Direitos dos Povos Indígenas, a ser comemorada na primeira semana de abril.[4][13]
Ver também
[editar | editar código-fonte]Referências
- ↑ CASTRO, Paulo Afonso de Souza. Ângelo Kretã e a retomada das terras indígenas no Sul do Brasil. Mestrado. Universidade Federal do Paraná, 2011. Disponível em <https://acervodigital.ufpr.br/bitstream/handle/1884/26277/DISSERTACAO%20BIO%20KRETA%20FINAL%2012%20DE%20JULHO.pdf?sequence=1>.
- ↑ a b c d Baptista, Patrick Leandro. Cacique Kretã: aquele que olha por cima da montanha e enxerga mais alto. Mestrado. Universidade Federal do Paraná, 2015, pp. 20-25
- ↑ a b Coutinho, Carlos. "Ângelo Kretã, o líder indígena de Mangueirinha, Paraná". Globo Repórter, 1980
- ↑ a b Assembleia Legislativa do Estado do Paraná. Projeto de Lei nº 403/2020
- ↑ a b c d e "PR: Povos indígenas relembram a memória de Ângelo Kretã, e levantam a bandeira das retomadas de terra". A Nova Democracia, 03/02/2020
- ↑ Krenak, Aílton. "Os índios não estão preparados para votar, para trabalhar, para existir..." In: Lua Nova: Revista de Cultura e Política, 1984, 1 (1)
- ↑ a b "Prefeitura participa de série de debates sobre questão indígena". Prefeitura Municipal de Curitiba, 19/09/2017
- ↑ a b "Indígenas relembram Cacique Kretã, nos 38 anos de sua morte". Racismo Ambiental, 29/01/2018
- ↑ a b "Memória do líder indígena Angelo Kretã é reverenciada em evento no Paraná". Revista do Instituto Humanitas — Unisinos, 14/09/2017
- ↑ Prefeitura Municipal de São Paulo. Decreto nº 44.097 de 12 de novembro de 2003.
- ↑ "Seminário na Gibiteca saúda a memória do cacique Ângelo Kretã". Prefeitura Municipal de Curitiba, 21/09/2017
- ↑ Povos Indígenas da Região Sul. Carta dos Povos Indígenas da Região Sul/Sudeste. Terra Indígena Tupã Nhe'é Kretã, 29/01/2020
- ↑ "Deputado assina o Manifesto pela Defesa dos Direitos dos Povos Indígenas". Jornal da Fronteira, 09/04/2021
Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- Lançamento da 1ª Semana Ângelo Kretã. APIB — Articulação dos Povos Indígenas (Obs: a primeira hora do evento é dedicada a cantos indígenas e há vários problemas de som, com trechos inaudíveis. Na marcação de tempo 1:01:00 iniciam os depoimentos)