Tomada da Bastilha – Wikipédia, a enciclopédia livre

Tomada da Bastilha
Revolução Francesa

Prise de la Bastille por Jean-Pierre Houël
Data 14 de julho de 1789
Local Bastilha, Paris, França
Desfecho Bastilha tomada, início da revolução popular
Beligerantes
França Governo francês França Milícia parisiense (antecessora da Guarda Nacional)
Comandantes
França Bernard-René Jordan de Launay
França Charles-Eugène de Lorraine
França Pierre-Augustin Hulin
França Camille Desmoulins
França Georges Jacques Danton
Forças
114 soldados
30 peças de artilharia
600 - 1 000 revoltosos
61 guardas franceses
5 canhões
Baixas
1 (6 ou 8 mortos após a rendição) 98 mortos
73 feridos

A Tomada da Bastilha (em francês: Prise de la Bastille), também conhecida como Queda da Bastilha, foi um evento central da Revolução Francesa, ocorrido em 14 de julho de 1789. Embora a Bastilha, fortaleza medieval utilizada como prisão, contivesse apenas sete prisioneiros na época,[1] sua queda é tida como um dos símbolos daquela revolução, e tornou-se um ícone da República Francesa.[2] Na França, o quatorze juillet (14 de julho) é um feriado nacional, conhecido formalmente como Festa da Federação, conhecido também como Dia da Bastilha em outros idiomas. O evento provocou uma onda de reações em toda a França, assim como no resto da Europa, que se estendeu até a distante Rússia Imperial.

Durante o reinado de Luís XVI, a França passava por uma grande crise financeira, desencadeada pelo custo da intervenção do país na Guerra Revolucionária Americana, e exacerbada por um sistema desigual de taxação. Em 5 de maio os Estados Gerais de 1789 se reuniram para lidar com o problema, porém foram impedidos de agir por protocolos arcaicos, e pelo conservadorismo do Segundo Estado, que consistia na nobreza — 1,5% da população do país na época. Em 17 de junho o Terceiro Estado, com seus representantes vindos da classe média, ou bourgeoisie (burguesia), se reorganizou na forma da Assembleia Nacional, uma entidade cujo propósito era a criação de uma constituição francesa. O rei inicialmente opôs-se a este acontecimento, porém acabou sendo obrigado a reconhecer a autoridade da assembleia, que passou a ser chamada de Assembleia Nacional Constituinte.

A invasão da Bastilha e a consequente Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão formaram o terceiro evento desta fase inicial da revolução. A primeira havia sido a revolta da nobreza, ao se recusar a ajudar o rei através do pagamento de impostos.[3] A segunda havia sido a formação da Assembleia Nacional e o Juramento da Sala do Jogo da Péla.

A classe média havia formado a Guarda Nacional, ostentado rosetas tricolores, em azul, branco e vermelho, que logo se tornariam o símbolo da revolução.

Paris estava à beira da insurreição e, nas palavras de François Mignet, "intoxicada com liberdade e entusiasmo",[4] mostrando amplo apoio à Assembleia. A imprensa publicava os debates realizados na Assembleia, e o debate político acabou se espalhando para as praças públicas e salões da capital. O Palais-Royal e seus jardins tornaram-se palco de uma reunião interminável; e a multidão ali reunida, enfurecida, decidiu arrombar as prisões da Abbaye para soltar alguns granadeiros que teriam sido presos por se negarem a disparar contra o povo. A Assembleia encaminhou os guardas presos à clemência do rei, e após retornarem à prisão, acabaram por receber o perdão. As tropas, até então consideradas confiáveis pelo rei, agora passaram a tender pela causa popular.[5]

A Tomada da Bastilha foi resultado do descontentamento de parcela do povo francês com o aumento do preço dos grãos, alimentado por boatos contrários à aristocracia. O jornalista Camille Desmoulins, por exemplo, fez um discurso em frente ao Palácio Real e pelas ruas dizendo que as tropas reais estavam prestes a desencadear uma repressão sangrenta sobre o povo de Paris. Ele, então, conclamava ao povo a necessidade de se armar. Contudo, Desmoulins não estava sozinho. Jean-Paul Marat também "discursou contra a aristocracia segurando na mão um exemplar Do Contrato Social, de Jean-Jacques Rousseau".[6] Desse modo, a animosidade das multidões parisienses aumentava a cada dia.

Naquele cenário, uma Comuna conseguiu tomar o poder na cidade em 13 de julho. No dia seguinte, um grupo de insurgentes dirigiu-se ao Palácio dos Inválidos, um antigo hospital onde se concentrava a quantidade de quarenta mil fuzis.[6] Correu o boato de que mais armamentos se encontravam estocados num outro lugar, na fortaleza da Bastilha. Marcharam então para lá. A massa revoltosa era composta de soldados desmobilizados, guardas, marceneiros, sapateiros, diaristas, escultores, operários, negociantes de vinhos, chapeleiros, alfaiates e artesãos. Dos números à época oficiais, dos 954 insurgentes, "661 eram artesãos".[6] A fortaleza, por sua vez, defendia-se com 32 guardas suíços e 82 "inválidos" de guerra, possuindo 15 canhões, dos quais apenas três em funcionamento.

A Tomada da Bastilha, anônimo por volta de 1790, museu da Revolução Francesa.

Durante a Tomada, o marquês de Launay, governador da Bastilha, ainda tentou negociar. Os guardas, no entanto, descontrolaram-se, disparando na multidão. Indignado, o povo reunido na praça em frente partiu para o assalto e dali para o massacre. O tiroteio durou aproximadamente quatro horas. O número de mortos foi incerto. Calculam que somaram 98 populares e apenas um defensor da Bastilha.

Launay teve um fim trágico. Foi decapitado e a sua cabeça espetada na ponta de uma lança desfilou pelas ruas numa celebração macabra. Os presos, soltos, arrastaram-se para fora sob o aplauso comovido da multidão postada nos arredores da fortaleza devassada. Posteriormente, a massa incendiou e destruiu a Bastilha, localizada no bairro Santo Antônio, um dos mais populares de Paris. O episódio, verdadeiramente espetacular, teve um efeito eletrizante. Não só na França mas onde a notícia chegou provocou um efeito imediato. Todos perceberam que alguma coisa espetacular havia ocorrido. Mesmo na longínqua Königsberg (hoje Kaliningrado, na Prússia Oriental), atingida pelo eco de que o povo de Paris assaltara um dos símbolos do rei, fez com que o filósofo Immanuel Kant, exultante com o acontecimento, pela primeira vez na sua vida se atrasasse no seu passeio diário das 18 horas.

A queda da Bastilha, no 14 de julho de 1789, ainda hoje é comemorada como o principal feriado e evento francês.

Demolição da Bastilha

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Embora houvesse argumentos de que a Bastilha deveria ser preservada como um monumento à libertação ou como um depósito para a nova Guarda Nacional, o Comitê Permanente de Eleitores Municipais da Prefeitura de Paris deu ao empresário da construção Pierre-François Palloy a comissão de desmontar o edifício.[1] Palloy começou a trabalhar imediatamente, empregando cerca de 1.000 trabalhadores. A demolição da própria fortaleza, o derretimento de seu relógio retratando prisioneiros acorrentados e a quebra de quatro estátuas foram todos realizados em cinco meses.[1]

Em 1790, Lafayette deu a chave de ferro forjado de uma libra e três onças para a Bastilha ao presidente dos EUA, George Washington. Washington a exibiu com destaque em instalações e eventos governamentais em Nova York e na Filadélfia até pouco antes de sua aposentadoria em 1797. A chave permanece em exibição na residência de Washington em Mount Vernon.[7]

Referências

  1. a b c Simon Schama, p. 399 Citizens: A Chronicle of the French Revolution, ISBN 0-670-81012-6
  2. «Folha de S.Paulo - Saiba o que é o 14 de Julho - 15/07/2002». www1.folha.uol.com.br. Consultado em 16 de maio de 2022 
  3. Gross, David. We Won’t Pay!: A Tax Resistance Reader. [S.l.: s.n.] pp. 139–153. ISBN 1434898253 
  4. Mignet, François. History of the French Revolution from 1789 to 1814, disponível no Projeto Gutenberg.
  5. Sua pesquisa - Queda da Bastilha, durante a Revolução Francesa
  6. a b c CARVALHO, Daniel Gomes de (2022). Revolução Francesa. São Paulo: Contexto. p. 74 
  7. «Bastille Key · George Washington's Mount Vernon». web.archive.org. 15 de abril de 2024. Consultado em 3 de agosto de 2024 

Ligações externas

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