Acácio de Cesareia – Wikipédia, a enciclopédia livre
Acácio de Cesareia | |
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Morte | 366 |
Ocupação | Bispo |
Acácio de Cesareia (em grego: Ἀκάκιος Mονόφθαλμος), morto em 366, foi um bispo cristão, pupilo e sucessor na sé episcopal de Cesareia Marítima de Eusébio em 340, e cuja biografia ele escreveu[1]. Ele é lembrando principalmente por sua amarga oposição à São Cirilo de Jerusalém pelo papel que ele representou nos momentos mais agudos da controvérsia ariana. Na famosa vigésima-primeira oração de São Gregório de Nazianzo, o autor fala dele - sem nomeá-lo - como sendo "a voz dos arianos"[2]. Se, como é provável, ele de fato falava de Acácio em termos tão ruins, o que pode ser dito é que a história de sua carreira justifica completamente estas implicações[3].
Proeminência no partido ariano
[editar | editar código-fonte]Nada se sabe da data ou país de seu nascimento, mas ele era provavelmente um sírio romano. Durante toda sua vida ele teve o apelido de "um olho" (em grego: `o Mονoφθαλμος), sem dúvida por causa de um defeito de nascimento, segundo Jerónimo de Estridão em De Viris Illustribus[4], embora seja uma referência maliciosa à sua tendência geral de conduta e sua rara habilidade em propor argumentos ambíguos.
Sua grande habilidade intelectual, adicionada ao seu prestígio já adquirido como amigo e sucessor de Eusébio, naturalmente acabaram por destacá-lo como o mais provável interlocutor e guia dos arianos, mesmo antes que o primeiro grande líder deles, Eusébio de Nicomédia, morresse em 342. Já em 341, Acácio já tinha participado do Concílio de Antioquia[5] quando, na presença do imperador romano Constâncio II, a "Basílica Dourada" foi dedicada por um conjunto de noventa bispos e ele subscreveu aos credos ambíguos então preparados e dos quais o termo Homoousios e toda referência à "substância" foram excluídos. Por isto, junto com outros bispos do partido de Eusébio, ele foi deposto no Concílio de Sárdica em 347. Recusando-se a aceitar a sentença que lhe fora dada, ele se retirou com os demais bispos excomungados para Filipópolis (atual Plovdiv, na Bulgária), onde ele, por sua vez, ajudou a assegurar a sentença de excomunhão e deposição contra seus juízes, inclusive Júlio I e Ósio de Córdoba. Estas penalidades que lhe foram infligidas pelas mãos do partido de Niceia nada fizeram contra a sua reputação. São Jerônimo nos diz que seu crédito com Constâncio II era tão grande durante estes anos que, quando o papa Libério foi deposto e exilado em 357, Acácio foi capaz de assegurar a eleição de Félix II em seu lugar.
Discussões com Cirilo de Jerusalém
[editar | editar código-fonte]O ano de 358 marcou o ápice de sua discussão com Cirilo, bispo de Jerusalém. O mal-entendido, que já vinha desde logo após a instalação de Cirilo como bispo (que ele apoiou quando São Máximo, um ortodoxo, morreu), tinha a ver com a questão de precedência canônica. Acusações e contra-acusações de heresia se seguiram por alguns anos, até que Acácio conseguiu a deposição de Cirilo com a ajuda dos bispos da Palestina, os quais ele induziu a examinar a acusação de contumácia (desobediência). Cirilo foi exilado, retornando apenas dois anos depois por uma decisão do Concílio de Selêucia. Mas o crédito de Acácio com o imperador Constâncio foi capaz de desfazer a restauração e, em 360, Cirilo foi novamente condenado, desta vez pelo Concílio de Constantinopla (360). Cirilo cedeu e deixou sua sé para o exílio até que Juliano subiu ao trono em 361.
Concílio de Selêucia
[editar | editar código-fonte]Acácio tomou um lugar de liderança entre os prelados que conseguiram dividir em dois o concílio ecumênico que Constâncio II propôs, minando assim sua autoridade. Enquanto os bispos do ocidente estavam reunidos num Concílio em Rimini em 359, ele e sua irmandade do oriente se reuniram noutro em Selêucia Isaura (atual Silifke, na Turquia). O número de bispos presentes tem sido estimado como algo entre cento e cinquenta e cento e sessenta. Os semiarianos estavam em larga maioria, enquanto Acácio tinha um bem-disciplinado grupo de seguidores, batizados em sua homenagem de acacianos. Com os anomoeanos, ele podia contar com mais quarenta bispos do seu lado. Após a maioria ter sido confirmada - o semiariano credo de Antioquia (Credo da Dedicação) - Silvano de Tarso propôs confirmar o credo luciânico, quando Acácio e seu partido deixaram a assembleia como forma de protesto. A despeito disto, este novo credo foi assinado na manhã seguinte por trás de portas fechadas, um procedimento que Acácio prontamente qualificou como o "ato da escuridão". Na quarta, Basílio de Ancira e Macedônio I de Constantinopla chegaram com Hilário de Poitiers, Cirilo de Jerusalém e Eustácio de Antioquia. Cirilo já estava sob censura e Acácio se recusou a trazer seus seguidores de volta para o sínodo até que ele e os outros bispos acusados presentes fossem retirados. Após um caloroso debate, seu plano foi aceito e Leonas, o representante de Constâncio na deliberação, levantou e leu uma cópia de um novo credo que Acácio havia posto em suas mãos. Ele rejeitava os termos homoousios e homoiosius como "alheios às Escrituras" e anatemizava o termo anomoeaon, claramente professando a "similaridade" do Filho com o Pai. Esta fórmula, que interpretava a "similaridade do Filho com o Pai" como "similaridade na vontade apenas" (em grego: oμοιον κατα την βούλησιν μόνον), a maioria semiariana rejeitou e logo Acácio e seus seguidores foram depostos.
Sínodo de Constantinopla e depois
[editar | editar código-fonte]Acácio e seus seguidores não esperaram pelas consequências da deposição. Ao invés disso, fugiram para Constantinopla e reclamaram perante o imperador. Acácio logo conseguiu a atenção dele. Um novo concílio foi rapidamente convocado em Constantinopla, do qual Acácio era a alma [6], e, com sua ajuda, o concílio acabou rapidamente aceitando a confissão de Rimini. Para completar seu triunfo, ele e Eudóxio de Antioquia, então bispo de Constantinopla, usaram suas influências para colocar os éditos do Primeiro Concílio de Niceia, e todas as menções a homoousius, em desuso e no esquecimento[7]. Em seu retorno para o oriente em 361, Acácio e seu partido consagraram novos bispos nas sés que estavam vagas, Melécio sendo colocado na de Antioquia. Quando o trono imperial foi preenchido pelo imperador niceno Joviano, Acácio e seus amigos mudaram de ponto de vista e, em 363, eles voluntariamente aceitaram o credo de Niceia[8]. Quando da ascensão do imperador ariano Valente em 364, Acácio voltou ao arianismo assim como Eudóxio de Antioquia[9]. Porém, ele não teve a complacência do Concílio de Lâmpsaco, de bispos de fé macedoniana, e sua deposição anterior em Selêucia foi confirmada.
Acácio morreu em 366.
Obras
[editar | editar código-fonte]Ele era um prelado de grande erudição, um patrono dos estudos, enriquecendo com pergaminhos a Biblioteca de Cesareia, fundada por Eusébio[10]. Ele escreveu um tratado em dezessete volumes sobre o Eclesiastes, seis livros sobre Miscelâneas (em grego: σύμμικτα ζητηματα) - ensaios sobre assuntos variados. Além destes, também o livro que ele escreveu sobre Eusébio, se perderam. Por outro lado, Epifânio, em seu Panarion, preservou um grande trecho da obra de Acácio (em grego: Aντιλογια) contra Marcelo de Ancira.
Referências
- ↑ Sócrates Escolástico. «4». História Eclesiástica. On the Death of Eusebius Pamphilus, Acacius succeeds to the Bishopric of Cæsarea. (em inglês). II. [S.l.: s.n.]
- ↑ Gregório de Nazianzo. «21». Orações (em inglês). XXI. [S.l.: s.n.]
- ↑ "Acacius (2)" na edição de 1913 da Enciclopédia Católica (em inglês). Em domínio público.
- ↑ "De Viris Illustribus - Acacius the bishop", em inglês.
- ↑ Sozomeno. «12». História Eclesiástica. The Bishops of the Party of Julius and Hosius held another Session and deposed the Eastern High Priests, and also made a Formulary of Faith. (em inglês). III. [S.l.: s.n.]
- ↑ Filostórgio iv. 12.
- ↑ Sozomeno. «26». História Eclesiástica. Death of Macedonius, Bishop of Constantinople. What Eudoxius said in his Teaching. Eudoxius and Acacius strenuously sought the Abolition of the Formularies of Faith set forth at Nicæa and at Ariminum; Troubles which thence arose in the Churches. (em inglês). IV. [S.l.: s.n.]
- ↑ Sócrates Escolástico. «25». História Eclesiástica. The Macedonians and Acacians meet at Antioch, and proclaim their Assent to the Nicene Creed. (em inglês). III. [S.l.: s.n.]
- ↑ Sócrates Escolástico. «2». História Eclesiástica. Valentinian goes into the West; Valens remains at Constantinople, and grants the Request of the Macedonians to hold a Synod, but persecutes the Adherents of the 'Homoousion.' (em inglês). IV. [S.l.: s.n.]
- ↑ Jerônimo, Epistula ad Marcellam, 141.
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- John Henry Newman (1833). «Arians of the Fourth Century» (em inglês). Consultado em 1 de outubro de 2010
- "Dictionary of Christian Biography and Literature to the End of the Sixth Century", Acacius, bp. of Caesarea, em inglês.
- Christie, Albany James (1867). «Alexander». In: William Smith. Dictionary of Greek and Roman Biography and Mythology (em inglês). 1. Boston: Little, Brown and Company. 4 páginas
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