Amos Tversky – Wikipédia, a enciclopédia livre
Amos Tversky | |
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Nascimento | 16 de março de 1937 Haifa |
Morte | 2 de junho de 1996 (59 anos) Stanford (Estados Unidos) |
Cidadania | Israel |
Progenitores |
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Cônjuge | Barbara Tversky |
Filho(a)(s) | Tal Tversky |
Alma mater | |
Ocupação | psicólogo, economista, professor universitário, autor |
Distinções |
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Empregador(a) | Universidade de Michigan, Universidade Stanford, Universidade Hebraica de Jerusalém, Universidade Harvard |
Obras destacadas | Teoria da perspectiva |
Religião | ateísmo |
Causa da morte | melanoma |
Amos Tversky (Haifa, 16 de Março de 1937 - Stanford, 2 de Junho de 1996) foi um pioneiro da ciência cognitiva como psicólogo e teórico influente. É muito conhecido por seu trabalho sobre tomada de decisão e economia comportamental.
Em colaboração com Daniel Kahneman, Tversky desafiou a visão tradicional da racionalidade humana em economia. Suas descobertas tiveram um impacto profundo não apenas na psicologia, mas também em campos como economia, medicina e política. Foi figura chave no estudo do viés humano sistemático e da gestão do risco.
Seus trabalhos iniciais em grande parte diziam respeito aos fundamentos da medição: teoria e metodologia que fundamentam como quantificamos e comparamos diferentes atributos e fenômenos. Foi coautor de um tratado de três volume sobre o tema, chamado, Foundations of Measurement.[1]
Com Daniel Kahneman, seus trabalhos focaram a psicologia da previsão e julgamento de probabilidade. Mais tarde trabalharam juntos para desenvolver a Teoria da Perspectiva. Essa teoria visa explicar as escolhas econômicas humanas irracionais é um dos pilares fundamentais da economia comportamental.
Em 2002, Kahneman foi agraciado pelo Prêmio Nobel Memorial de Ciências Econômicas de 2002,[2] pelo trabalho que realizou em colaboração com Tversky. Trata-se de premiação que por regra não pode ser atribuída postumamente. Porém, Kahneman declarou considerá-lo um prêmio recebido em conjunto, referindo-se ao colega Tversky, falecido 6 anos antes. Em suas palavras: “fomos geminados durante mais de uma década".[3]
Tversky também colaborou com muitos pesquisadores importantes, incluindo Thomas Gilovich, Itamar Simonson, Paul Slovic e Richard Thaler. Uma pesquisa da Review of General Psychology, publicada em 2002, classificou Tversky como o 93º psicólogo mais citado do século 20, empatado com Edwin Boring, John Dewey e Wilhelm Wundt.[4]
Juventude e educação
[editar | editar código-fonte]Tversky nasceu em Haifa, Palestina Britânica (atual Israel), filho do veterinário polonês Yosef Tversky e da judia lituana Jenia Tversky, uma assistente social que mais tarde se tornou membro do Knesset representando o Mapai ("Mifleget Poalei Eretz Yisrael"; Partido dos Trabalhadores da Terra de Israel).[5] Tversky tinha uma irmã, Ruth, treze anos mais velha.
A mãe de Tversky disse que ele foi autodidata em muitas áreas, inclusive matemática.[6] No ensino médio, Tversky teve aulas com o crítico literário Baruch Kurzweil e fez amizade com a colega Dahlia Ravikovich, que se tornaria uma poetisa premiada.
Tversky recebeu seu diploma de bacharel pela Universidade Hebraica de Jerusalém, em 1961, e seu doutorado pela Universidade de Michigan, em Ann Arbor, em 1965. Ele já havia desenvolvido uma visão clara da pesquisa sobre o julgamento.[6]
Serviço militar e carreira
[editar | editar código-fonte]Durante este tempo foi também membro e líder do Nahal, um programa das Forças de Defesa de Israel que combinava o serviço militar obrigatório com o estabelecimento de assentamentos agrícolas.[7]
Tversky serviu com distinção nas Forças de Defesa de Israel como paraquedista, chegando ao posto de capitão e sendo condecorado por bravura.[5] Ele saltou de paraquedas em zonas de combate durante a Crise de Suez, em 1956, comandou uma unidade de infantaria durante a Guerra dos Seis Dias, em 1967 e serviu em uma unidade de campo de psicologia durante a Guerra do Yom Kippur, em 1973.[7]
Carreira acadêmica
[editar | editar código-fonte]Funções acadêmicas
[editar | editar código-fonte]Após seu doutorado, Tversky lecionou na Universidade Hebraica de Jerusalém. Ele então ingressou no corpo docente da Universidade Stanford em 1978, onde passou o resto de sua carreira.
Trabalho acadêmico
[editar | editar código-fonte]Com Daniel Kahneman
[editar | editar código-fonte]O trabalho mais influente de Amos Tversky foi realizado com Kahneman, seu colaborador de longa data, numa parceria que começou no final dos anos 1960. Seu trabalho explorou os preconceitos e falhas de racionalidade continuamente exibidos na tomada de decisões humanas.[7] Começando com seu primeiro artigo conjunto, "Crença na Lei dos Pequenos Números", Kahneman e Tversky expuseram onze "ilusões cognitivas" que afetam o julgamento humano, frequentemente usando experimentos empíricos de pequena escala que demonstram como os sujeitos tomam decisões irracionais sob condições incertas. A dupla introduziu a noção de preconceito cognitivo em 1972.[8] Este trabalho foi altamente influente no campo da economia, que presumia em grande parte a racionalidade de todos os atores.[9]
De acordo com Kahneman, a colaboração “diminuiu gradualmente” no início dos anos 1980, embora tenham tentado revivê-la.[10] Os fatores incluíram Tversky recebendo a maior parte do crédito externo pelo resultado da parceria e uma redução na generosidade com que Tversky e Kahneman interagiram entre si.[7]
Ignorância comparativa
[editar | editar código-fonte]Tversky e Fox (1995) abordaram a aversão à ambiguidade, a ideia de que as pessoas não gostam de apostas ou escolhas ambíguas, com o quadro de ignorância comparativa.[11] A ideia deles era que as pessoas só têm aversão à ambiguidade quando sua atenção é especificamente voltada para a ambiguidade ao comparar uma opção ambígua com uma opção não ambígua. Por exemplo, as pessoas estão dispostas a apostar mais em escolher uma bola de cor correta de uma urna contendo proporções iguais de bolas pretas e vermelhas do que uma urna com proporções desconhecidas de bolas, quando avaliam ambas as urnas ao mesmo tempo. No entanto, ao avaliá-las separadamente, as pessoas estão dispostas a apostar aproximadamente o mesmo valor em qualquer urna. Assim, quando é possível comparar a aposta ambígua com uma aposta não ambígua, as pessoas são avessas — mas não quando se desconhece essa comparação.
Contribuições notáveis
[editar | editar código-fonte]1. Foundations of measurement - fundamentos da medição
2. Anchoring and adjustment - ancoragem e ajuste
3. Availability heuristic - heurística da disponibilidade
4. Base rate fallacy - falácia da taxa base
5. Conjunction fallacy - falácia da conjunção
6. Framing - enquadramento
7. Behavioral finance - finanças comportamentais
8. Clustering illusion - ilusão de agrupamento
9. Loss aversion - aversão à perda
10. Prospect theory - teoria das perspectivas
11. Cumulative prospect theory - teoria das perspectivas cumulativa
12. Representativeness heuristic - heurística da representatividade
13. Tversky index - índice de Tversky
14. Support theory - teoria do suporte
15. Contrast model - modelo de contraste
16. Feature matching account of similarity - conta de correspondência de características para similaridade
Abordagem de pesquisa
[editar | editar código-fonte]Kahneman disse que Tversky tinha um gosto simplesmente perfeito para escolher problemas e nunca perdia muito tempo com nada que não estivesse destinado a ter importância. Ele também tinha uma bússola infalível que sempre o fazia seguir em frente.[12]
O artigo de Tversky na Science de 1974, com Kahneman, sobre ilusões cognitivas desencadeou uma "cascata de pesquisas relacionadas", escreveu a Science News em um artigo de 1994, que traça a história recente da pesquisa sobre o raciocínio. Teóricos da decisão em economia, negócios, filosofia e medicina, bem como psicólogos, citaram seu trabalho.[13]
Reconhecimento
[editar | editar código-fonte]Em 1980 tornou-se membro da Academia Americana de Artes e Ciências.[7]
Em 1984, ele foi um dos agraciados com a Bolsa MacArthur, e em 1985 foi eleito para a Academia Nacional de Ciências.[14] Tversky, juntamente com Daniel Kahneman, recebeu o Prêmio Grawemeyer de Psicologia da Universidade de Louisville em 2003.[15]
Após a morte de Tversky, Kahneman recebeu o Prêmio Nobel Memorial de Ciências Econômicas de 2002 pelo trabalho que realizou em colaboração com Tversky.
Vida pessoal
[editar | editar código-fonte]Em 1963, Tversky casou-se com a psicóloga americana Barbara Gans, que mais tarde se tornou professora do departamento de desenvolvimento humano do Teachers College, da Universidade de Columbia.[7] Eles tiveram três filhos juntos.
Tversky morreu de melanoma metastático em 1996.[16] Ele era um judeu ateu.[17]
Referências
- ↑ Suppes, Patrick, ed. (2007). Foundations of measurement. 2: Geometrical, threshold, and probabilistic representations / Patrick Suppes. Mineola, NY: Dover
- ↑ Altman, Daniel (10 de outubro de 2002). «A Nobel That Bridges Economics and Psychology». The New York Times. Consultado em 14 de março de 2009
- ↑ Goode, Erica (5 de novembro de 2002). «A Conversation with Daniel Kahneman; On Profit, Loss and the Mysteries of the Mind». The New York Times. Consultado em 14 de março de 2009
- ↑ Haggbloom, Steven J.; Warnick, Renee; Warnick, Jason E.; Jones, Vinessa K.; Yarbrough, Gary L.; Russell, Tenea M.; Borecky, Chris M.; McGahhey, Reagan; et al. (2002). «The 100 most eminent psychologists of the 20th century». Review of General Psychology. 6 (2): 139–152. CiteSeerX 10.1.1.586.1913. doi:10.1037/1089-2680.6.2.139
- ↑ a b A Psychologist Who Shed Light on Our Irrationality Is Born Haaretz, 16 March 2016
- ↑ a b Priceless: The Hidden Psychology of Value By William Poundstone
- ↑ a b c d e f Lewis, Michael (2017). The Undoing Project. New York: W. W. Norton & Company. ISBN 978-0-393-35610-6
- ↑ Kahneman D, Frederick S (2002). «Representativeness Revisited: Attribute Substitution in Intuitive Judgment». In: Gilovich T, Griffin DW, Kahneman D. Heuristics and Biases: The Psychology of Intuitive Judgment. Cambridge: Cambridge University Press. pp. 51–52. ISBN 978-0-521-79679-8
- ↑ «Amos Tversky, leading decision researcher, dies at 59». Stanford University News Service. 5 de junho de 1996. Consultado em 25 de dezembro de 2017. Cópia arquivada em 3 de março de 2021
- ↑ «The Sveriges Riksbank Prize in Economic Sciences in Memory of Alfred Nobel 2002»
- ↑ Fox, Craig R.; Amos Tversky (1995). «Ambiguity Aversion and Comparative Ignorance». Quarterly Journal of Economics. 110 (3): 585–603. CiteSeerX 10.1.1.395.8835. JSTOR 2946693. doi:10.2307/2946693
- ↑ «The Sveriges Riksbank Prize in Economic Sciences in Memory of Alfred Nobel 2002»
- ↑ «Amos Tversky, leading decision researcher, dies at 59». Consultado em 26 de dezembro de 2017. Cópia arquivada em 3 de março de 2021
- ↑ «National Academy of Sciences». nas.nasonline.org
- ↑ «2002- Daniel Kahneman and Amos Tversky». Cópia arquivada em 23 de julho de 2015
- ↑ Freeman, Karen (6 de junho de 1996). «Amos Tversky, Expert on Decision Making, Is Dead at 59». The New York Times. Consultado em 14 de março de 2009
- ↑ Engber, Daniel. "How a Pioneer in the Science of Mistakes Ended Up Mistaken". Slate Magazine, 21 December 2016. "It's a portrait of besotted opposites: Both Kahneman and Tversky were brilliant scientists, and atheist Israeli Jews...