Angelus Novus – Wikipédia, a enciclopédia livre

Angelus Novus
Angelus Novus
Autor Paul Klee
Data 1920
Técnica tinta nanquim, tinta a óleo, papel, aquarela
Dimensões 31,8 centímetro x 24,2 centímetro
Localização Museu de Israel

Angelus Novus (em português, 'anjo novo) é o título latino de um desenho a nanquim, giz pastel e aquarela sobre papel, feito por Paul Klee em 1920. Atualmente faz parte da coleção do Museu de Israel, em Jerusalém.[1]

Na nona tese do seu ensaio "Sobre o Conceito de História", o filósofo e crítico literário Walter Benjamin, que adquiriu o desenho em 1921, escreveu:

Há um quadro de Klee que se chama Angelus Novus. Representa um anjo que parece querer afastar-se de algo que ele encara fixamente. Seus olhos estão escancarados, sua boca dilatada, suas asas abertas. O anjo da história deve ter esse aspecto. Seu rosto está dirigido para o passado. Onde nós vemos uma cadeia de acontecimentos, ele vê uma catástrofe única, que acumula incansavelmente ruína sobre ruína e as dispersa a nossos pés. Ele gostaria de deter-se para acordar os mortos e juntar os fragmentos. Mas uma tempestade sopra do paraíso e prende-se em suas asas com tanta força que ele não pode mais fechá-las. Essa tempestade o impele irresistivelmente para o futuro, ao qual ele vira as costas, enquanto o amontoado de ruínas cresce até o céu. Essa tempestade é o que chamamos progresso.[2]

Após a morte de Benjamin, que se suicidou em setembro de 1940, Gershom Scholem (1897-1982), um notável estudioso do misticismo judaico e grande amigo do filósofo, herdou o desenho. Segundo Scholem, Benjamin tinha uma espécie de identificação mística com o Angelus Novus e incorporou isso em seus escritos sobre o "anjo da história", numa melancólica visão do processo histórico como um incessante ciclo de desespero.[1]

Segundo a tradição hebraica, um anjo novo é criado para executar uma ordem de Deus ou cantar um cântico novo e se extinguir em seguida.[3][4] Walter Benjamin explica isso na apresentação da revista Angelus Novus: "Uma lenda talmúdica nos diz que uma legião de anjos novos é criada a cada instante para, depois de entoar seu hino diante de Deus, terminar e dissolver-se no nada".[5][6]

Otto Karl Werckmeister observa que a interpretação de Benjamin sobre o anjo novo de Klee fez com que a imagem se tornasse "um ícone da esquerda".[7] O nome e o conceito do anjo também inspiraram artistas e músicos.[8][9]

Referências

  1. a b Angelus Novus. Israel Museum, Jerusalem.
  2. BENJAMIN, Walter. "Sobre o Conceito de História" (1940). In: Obras Escolhidas, v. I, Magia e técnica, arte e política. Tradução de Sérgio Paulo Rouanet. Prefácio de Jeanne Marie Gagnebin. São Paulo: Brasiliense, 1987, p. 226.
  3. «Jewish Angelology and Demonology» (em inglês) 
  4. Ajuntament de Port Bou (Gerona) (ed.). «Walter Benjamin en Port Bou» 
  5. «Atlas Walter Benjamin». Círculo de Bellas Artes (CBA) 
  6. Avner Shapira (12 de julho de 2012). «Walter Benjamin's Berlin, 120 years on». Haaretz 
  7. WERKMEISTER, Otto. Icons of the Left: Benjamin and Einstein, Picasso and Kafka After the Fall. Chicago: University of Chicago Press, 1997; pp. 9.
  8. «zing6 - reviews - angelus nova». Zing Magazine. 1997. Consultado em 9 de outubro de 2013 
  9. «Seventh Munchener Biennale». 4–19 de maio de 2000. Consultado em 9 de outubro de 2013