Argonauta (molusco) – Wikipédia, a enciclopédia livre

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Uma ilustração da fêmea do molusco Argonauta argo, publicada em 1896 na monografia I Cefalopodi viventi nel Golfo di Napoli, por Comingio Merculiano.
Uma ilustração da fêmea do molusco Argonauta argo, publicada em 1896 na monografia I Cefalopodi viventi nel Golfo di Napoli, por Comingio Merculiano.
Fotografia de uma concha de molusco cefalópode da espécie Argonauta argo; espécime do Museu de Zoologia da Universidade de Cambridge.
Classificação científica
Reino: Animalia
Filo: Mollusca
Classe: Cephalopoda
Subclasse: Coleoidea
Ordem: Octopoda
Família: Argonautidae
Cantraine, 1841[1]
Género: Argonauta
Linnaeus, 1758[1]
Espécie-tipo
Argonauta argo
Linnaeus, 1758[1]
Espécies
Ver texto
Uma ilustração da fêmea do molusco Argonauta argo com sua concha invólucro de ovos, e com seus dois tentáculos, modificados para a confecção de suas conchas,[2] acima dos demais. Também é possível ver o olho do animal através da translucidez de sua concha. Feita em 1879 e retirada da obra Ocean wonders: a companion for the seaside, por William Emerson Damon.
Fotografia da concha de Argonauta nodosus. Espécie por vezes errôneamente denominada Argonauta nodosa.[3]
Espécime fêmea de Argonauta, com sua concha, em praia da Costa Rica. Os argonautas aparecem ocasionalmente pelas praias, em encalhes maciços e periódicos.[4] Por não estarem propriamente fixos às suas conchas, durante muito tempo suspeitou-se que as retirassem de outro molusco desconhecido, agindo como os bernardo-eremitas.[5]
Espécime fêmea de Argonauta nodosus em praia da baía de Port Phillip, no sul do estado de Vitória, Austrália. Esta espécie está mais distribuída em mares subtropicais.[3]

Argonauta (nomeados, em inglês, argonaut, paper nautilus -sing.[3][6] ou paper nautiluses -pl.;[6][7] estas duas últimas frases, na tradução para o português, significando "náutilo de papel" ou "nautiloides de papel"; embora sejam polvos verdadeiros[4][6] e não animais pertencentes à subclasse Nautiloidea.[1][4] Em portuguêsː argonauta -sing., um nome dado a cada um dos lendários heróis gregos que viajaram na mitológica nau Argo em busca do velocino de ouro)[5][8][9] é um gênero de moluscos cefalópodes pelágicos marinhos de distribuição cosmopolita em mares tropicais e subtropicais,[2][3][5][10][11] classificado por Carolus Linnaeus, em 1758,[1] no seu Systema Naturae, ao descrever sua espécie mais conhecida: Argonauta argo, que também habita o mar Mediterrâneo.[9][12] É o único gênero (táxon monotípico) pertencente à família Argonautidae (popularmente conhecidos como argonautídeos -pl.) da ordem Octopoda, na subclasse Coleoidea (polvos, lulas e chocos), contendo quatro espécies extantes.[1][4][8][9]

Argonauta não produz conchas verdadeiras,[7][13] sendo um gênero com grande dimorfismo sexual e dotado de duas fileiras de ventosas em seus tentáculosː suas fêmeas, cerca de oito vezes maiores e bem mais pesadas que os machos, confeccionam uma concha branca ou castanha de ampla abertura; fina, frágil, translúcida, de calcita semelhante ao pergaminho e comprimida lateralmente, feita com dois de seus tentáculos, de abas membranosas, e que serve principalmente como proteção e como um invólucro para seus ovos, tanto que são capazes de abandoná-las; tais conchas podendo ter uma dobra para fora, formando um tipo de "orelha" e podendo alcançar até os 30 centímetros de comprimento;[2][3][5][6][11][14] não tendo estas a mesma origem que a concha de outros moluscos (não sendo produzidas por seu manto),[7][11] por vezes sendo dotadas de uma dupla fila de tubérculos em sua superfície ondulada e altamente variável.[4][5] Aparecendo ocasionalmente pelas praias, em encalhes maciços e periódicos,[4] as suas conchas ainda servem como um tanque de lastroː o argonauta sobe à superfície da água, engole ar com sua concha e, depois, o sela em seu interior; mergulhando em seguida até que a bolha de ar, nela presa, neutralize o peso de seu corpo. Ele então pode nadar sem ter que gastar energia para manter a sua posição na coluna de água.[6] No oceano são encontrados geralmente unidos às medusas.[11] O macho do Argonauta difere da fêmea por sua menor dimensão, por prescindir de concha e por um tentáculo de maior comprimento,[5] denominado hectocótilo[10] e cuja função é fecundar a fêmea.[9] Tal estrutura contém os espermatozoides, é liberada e permanece dentro da fêmea; sua denominação técnica dada pelo naturalista Georges Cuvier, que documentou pela primeira vez a presença de um hectocótilo em uma fêmea e pensou que se tratava de um verme parasita, por ele denominado Hectocotyle octopodis, em 1829.[4][6][10] Machos já foram relatados vivendo dentro das salpas.[11]

Espécies e denominação vernácula inglesa

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Argonauta e a Humanidade

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Em 300 a.C., o filósofo Aristóteles já sugerira que a fêmea desse polvo usasse a sua concha como barco, flutuando na superfície do oceano e usando os seus tentáculos como remos e velas. Apesar da total falta de evidências para esta "hipótese da navegação", ela fora defendida por Júlio Verne, centenas de anos depois, escrevendo sobre a navegação dos argonautas em seu romance de 1887, Vinte Mil Léguas Submarinas. Apenas após 1923 e pelo trabalho de Adolf Naef é que se soube que tal estrutura não era uma espécie de barco, mas um recipiente de ovos.[15] Antes, no século XIX, uma mulher, costureira e bióloga autodidata cujo nome era Jeanne Villepreux-Power, se concentrou no estudo dos argonautas e descobriu a verdadeira função de sua concha e tentáculos modificados.[14][16] O agrônomo Eurico Santos, divulgador da fauna do Brasil,[17] também erra ao citar que nada lhe falta ao símile de embarcação, pois o argonauta só difere dos outros polvos porque, dos oito braços que lhe cercam a cabeça, dois deles formam palhetas ovais nas extremidades e que, levantando aos céus aquelas duas "velas", lá se vão sobre a doçura das brisas com a sua concha que é uma verdadeira embarcação que lhe permite navegar sobre a superfície das águas.[5] O Dicionário Aurélio cita a fêmea "tendo também dois braços com dilatação apical que lhe serve de vela para locomoção".[9] Estas conchas têm uma longa história e suas ilustrações adornam artefatos que remontam à Civilização Minoica ou aparecem nas primeiras obras conquiliológicas.[7]

Ligações externas

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Referências

  1. a b c d e f g h i j k l «Argonauta Linnaeus, 1758» (em inglês). World Register of Marine Species. 1 páginas. Consultado em 6 de maio de 2024 
  2. a b c RIOS, Eliézer (1994). Seashells of Brazil (em inglês) 2ª ed. Rio Grande, RS. Brazil: FURG. p. 319-320. 492 páginas. ISBN 85-85042-36-2 
  3. a b c d e f g h i ABBOTT, R. Tucker; DANCE, S. Peter (1982). Compendium of Seashells. A color Guide to More than 4.200 of the World's Marine Shells (em inglês). New York: E. P. Dutton. p. 376. 412 páginas. ISBN 0-525-93269-0 
  4. a b c d e f g h i j k l Hausheer, Justine E. «Meet the Argonaut, The World's Weirdest Octopus» (em inglês). Cool Green Science - Stories of The Nature Conservancy. 1 páginas. Consultado em 6 de maio de 2024 
  5. a b c d e f g h i SANTOS, Eurico (1982). Zoologia Brasílica, vol. 7. Moluscos do Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia. p. 134-137. 144 páginas 
  6. a b c d e f «Argonaut» (em inglês). National Geographic. p. 1. Consultado em 6 de maio de 2024 
  7. a b c d e Finn, Julian K. (2018). «Recognising variability in the shells of argonauts (Cephalopoda: Argonautidae): the key to resolving the taxonomy of the family» (PDF) (em inglês). Memoirs of Museum Victoria 77 (Museums Victoria). pp. 63–104. Consultado em 6 de maio de 2024 
  8. a b HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Salles; FRANCO, Francisco Manoel de Mello (2001). Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa 1ª ed. Rio de Janeiro: Objetiva. p. 284. 2922 páginas. ISBN 85-7302-383-X 
  9. a b c d e f FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda (1986). Novo Dicionário da Língua Portuguesa 2ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. p. 162. 1838 páginas 
  10. a b c d e f «Argonautas, o fim justifica a morte». National Geographic. 22 de Fevereiro de 2020. p. 1. Consultado em 6 de maio de 2024 
  11. a b c d e «Argonautidae». Conquiliologistas do Brasil: CdB. p. 1. Consultado em 6 de maio de 2024 
  12. «Argonauta argo Linnaeus, 1758» (em inglês). World Register of Marine Species. 1 páginas. Consultado em 6 de maio de 2024 
  13. a b c WYE, Kenneth R. (1989). The Mitchell Beazley Pocket Guide to Shells of the World (em inglês). London: Mitchell Beazley Publishers. p. 178. 192 páginas. ISBN 0-85533-738-9 
  14. a b Carnall, Mark (27 de março de 2018). «Argonauts: the Astronauts of the Sea» (em inglês). The Guardian. 1 páginas. Consultado em 6 de maio de 2024 
  15. a b Yong, Ed (18 de maio de 2010). «Scientists solve millennia-old mystery about the argonaut octopus» (em inglês). National Geographic. 1 páginas. Consultado em 6 de maio de 2024 
  16. Endicott, Rachel. «The Argonauts» (em inglês). Project Manaia. 1 páginas. Consultado em 6 de maio de 2024 
  17. Fioravanti, Carlos (março de 2015). «Prazer em descrever». Pesquisa FAPESP. Edição 229. 1 páginas. Consultado em 6 de maio de 2024 
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