Base de submarinos de Lorient – Wikipédia, a enciclopédia livre

Base de submarinos de Lorient.

A base de submarinos de Lorient, ou ainda base de submarinos de Keroman, é um complexo de bunkers da Segunda Guerra Mundial localizado em Lorient (Bretanha, França). Em 1946 tomou o nome de base de submarinos engenheiro general Stosskopf.

Construída entre 1941 e 1944 pela Alemanha nazi durante a ocupação, é destinada à 2.º e 10.ª flotilha de U-boot da Kriegsmarine, inscrevendo-se no dispositivo da muralha do Atlântico. A sua presença é a causa da destruição da cidade de Lorient pela aviação aliada em janeiro e fevereiro de 1943, e pela resistência alemã a 10 de maio de 1945.

A base de submarinos foi recuperada pela Marinha Nacional da França após o conflito, e foi utilizada até 1997 como base de submarinos. Gerida pela Marinha no quadro do desenvolvimento do programa de submarinos de mísseis balísticos nucleares franceses, e para a criação de construções navais a base de materiais compósitos, o local é, desde então, dedicado a atividades marítimas civis.

Desde o final da década de 1990 que o local foi reconvertido em pólo náutico, acolhendo um centro de serviços marítimo, um museu no interior do submarino Flore e um centro de exposições multimédia denominado Cité de la voile Éric Tabarly.[1]

O complexo da base de submarinos é composto por três bunkers (Keroman I, II e III), dois Dom-Bunkers localizados no espaço do porto de pesca de Keroman e outro bunker em Lanester nas margens do rio Scorff. Foi necessário o trabalho de 15 000 pessoas e a colocação de cerca de um milhão de metros cúbicos de betão. Os três bunkers de Keroman têm entre cinco e sete cavidades destinadas a acolher U-boots, cobertos por tetos de uma dezena de metros de espessura.

A situação de Lorient antes da Segunda Guerra Mundial

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Construção de Keroman em 1920.

A cidade de Lorient desenvolveu-se graças à implantação em 1666 da companhia Francesa das Índias Orientais, e os seus portos marítimos sofreram sucessivas modernizações. Em 1861 é lançado dos estaleiros a primeira fragata integralmente blindada La Couronne.[2][3] Na década de 1920 o engenheiro Henri Verrière desenvolve o atual porto de pesca de Keroman e dota-o de equipamento moderno.[4] Henri Verrière prevê alongar o porto para a península de Keroman, construindo ali novos cais e fábricas de transformação de peixe.[4]

A cidade readquire o seu estatuto de prefeitura marítima por um decreto de 20 de maio de 1939 e dispõe, antes do início da guerra, de uma guarnição de cerca de 5 600 marinheiros e de um arsenal militar empregando cerca de 5 000 operários, tendo uma população de 60 000 habitantes.[2] A cidade de Lorient serve como base de recuo frente ao avanço alemão em junho de 1940. O ouro dos bancos nacionais belgas e polacos é evacuado pelo porto de Lorient a 17 e 18 de junho de 1940. Nesse mesmo dia o almirante François Darlan, então em Bordéus, ordena às forças locais que resistam ao avanço alemão.[5] O vice-almirante Hervé de Penfentenyo, encarregado do cidade, aplica a política da terra queimada destruindo as munições e estruturas chaves. A 21 de junho de 1940 as tropas alemãs, reagrupadas em Quimperlé, atacam Guidel. A cidade de Lorient cai nesse mesmo dia.[6]

Utilização pela Alemanha Nazista

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A escolha de Keroman

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O U-123 no cais.

No início do mês de junho de 1940, o contra-almirante Karl Dönitz, então comandante superior dos submarinos da Kriegsmarine, envia uma delegação do seu estado-maior para inspeccionar os portos da costa francesa que poderiam servir como base para os seus submarinos. O armistício é assinado a 22 de junho[7] e ele chega a Lorient a 23 de junho de 1940.[6] A 28 de junho escolhe estabelecer na cidade de Lorient o seu quartel general, assim como ali colocar a 2.ª flotilha de U-boote:[8] esta última fica dotada de instalações modernas, ligadas por via férrea e menos exposta aos britânicos do que em Brest.[9] Dönitz instala-se a 16 de outubro de 1940 num villa do bairro de Kernével, em Larmor-Plage, frente à península de Keroman[10] e o ministro da guerra alemão, o almirante Erich Raeder, visita a cidade a 8 de agosto de 1940.[11]

Operários alemães deixam a base de Wilhelmshaven em junho para chegarem a Lorient em agosto para fazerem reparações, além do local ser inspeccionado contra minas magnéticas. A 6 de junho o porto é declarado aberto.[9] Um primeiro U-boot, o U-30, chega no dia seguinte para ser abastecimento.[8] São feitas obras nas infraestruturas portuárias de forma a permitir uma melhor utilização de submarinos. Em setembro 17 submarinos vêm abastecer-se na cidade; no mês seguinte chegam 40.[10]

A 22 e 23 de agosto de 1940 um primeiro ataque de 12 bombardeiros atinge Lorient.[12] Os bombardeiros atingem a região de forma regular até julho de 1941. São tomadas várias medidas de defesa passiva e Dönitz encontra-se com Hitler a 28 de outubro de 1940, nos arredores de Paris, para lhe pedir a construção de 3 bases: em Lorient, Brest e Saint-Nazaire.[13] A 7 de novembro de 1940 Hitler ordena a construção de bunkers de proteção para submarinos na costa Atlântica, e uma primeira reunião sobre o assunto tem lugar em Lorient, na presença de Fritz Todt, a 15 e 16 do mesmo mês.[14] Finalmente, a 23 de dezembro de 1940, Hitler aprova o plano de construção.[15]

Notas e referências

  1. Éric Tabarly fora um dos ilustres administradores do Museu nacional da Marinha (francesa), localizado no Palais de Chaillot (Paris), museu esse cuja existência e continuidade ele defendeu ferozmente para conseguir oferecer à juventude o testemunho histórico da Marinha. Assim o Museu da Marinha em Paris, ancorado ao passado, e a Cité de la voile em Lorient, ancorado ao presente e ao futuro, complementam-se na perfeição, oferecendo hoje, juntos, uma visão dinâmica da marinha.
  2. a b (em francês) Louis Chaumeil (1939). «Abrégé d'histoire de Lorient de la fondation (1666) à nos jours (1939)». Persee.fr - Annales de Bretagne (artigo do número 1-2, tomo 46, págs 66-87). Consultado em 3 de junho de 2011 
  3. La Couronne foi a primeira fragata blindada do tipo La Gloire com casco integralmente em ferro, com três mastros. ((em francês) La Couronne)
  4. a b Christophe Cérino e Yann Lukas (2003), p. 112
  5. Christophe Cérino e Yann Lukas (2003), p.12
  6. a b Christophe Cérino e Yann Lukas (2003), p. 14
  7. Luc Braeuer (2008), p.4
  8. a b Christophe Cérino e Yann Lukas (2003), p. 15
  9. a b Luc Braeuer (2008), p.5
  10. a b Christophe Cérino e Yann Lukas (2003), p. 18
  11. Christophe Cérino e Yann Lukas (2003), p.17
  12. Luc Braeuer (2008), p. 49
  13. Luc Braeuer (2008), p. 9
  14. Christophe Cérino e Yann Lukas (2003), p. 24
  15. Luc Braeuer (2008), p.10
  • Christophe Cérino e Yann Lukas, Keroman : base de sous-marin, 1940-2003, Plomelin, Éditions Palantines, 2003, 127 p. (ISBN 2-911434-34-X)
  • Luc Braeuer, La base de sous-marins de Lorient, Le Pouliguen, Liv'Édition, 2008, 64 p. (ISBN 978-2-9525651-20)
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