Caráter – Wikipédia, a enciclopédia livre

 Nota: Para outros significados, veja Caráter (desambiguação).

Caráter (ou carácter em português europeu antes do Acordo Ortográfico de 1990[1]) é um termo usado em psicologia como componente da personalidade. Em linguagem comum o termo descreve os traços morais da personalidade.[2]

Na psicologia da personalidade, o caráter se refere principalmente às características autorregulatórias da personalidade, que são desenvolvidas de maneira incremental e associadas a áreas do cérebro relacionadas a processos intencionais e funções metacognitivas.[3][4] Geralmente é contrastado com o temperamento, que abrange mais aspectos envolvendo reações emocionais básicas e comportamentos automáticos.[3]

Apesar de também dependente de uma complexa interação entre conjuntos de genes,[5] a determinação do caráter aparece de forma mais leve do que em relação ao temperamento: o temperamento é moderadamente estável ao longo da vida, enquanto o caráter surge após a infância, sofre maturação e é influenciado pela aprendizagem social e cultural. O temperamento possui forte predisposição inata de componentes biológicos, e é independente de cultura ou aprendizagem social.[3]

Psicologia e neurociência

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As escolas da caracterologia alemã e franco-holandesa esforçaram-se por dar aos dois termos (personalidade e caráter) um significado diferente, sem que, no entanto, se chegasse a um consenso.[6] René Le Senne, por exemplo, propõe a seguinte distinção: Caráter referiu-se, naquele contexto, ao conjunto de disposições congênitas, ou seja, que o indivíduo possui desde seu nascimento e compõe, assim, o esqueleto mental do indivíduo; já personalidade foi definida como o conjunto de disposições mais "externas", como que a "musculatura mental" - todos os elementos constitutivos do ser humano que foram adquiridos no correr da vida, incluindo todos os tipos de processos mentais.[7]

As definições convencionais são outras atualmente na neurociência. C. Robert Cloninger afirma que o bem estar pessoal máximo é atingido quando um indivíduo possui bem desenvolvidos os três traços formadores do caráter segundo seu Inventário de Temperamento e Caráter: autodirecionamento, cooperatividade e autotranscendência.[8][9]

Os genes que codificam perfis de caráter são diferentes dos genes que codificam perfis de temperamento, mas ambos são integrados juntos por interações ambientais; quanto ao caráter, preponderam genes de RNAs longos não codificantes, que regulam a expressão gênica.[5]

Referências

  1. «carácter (nome masculino)». ILTEC. Portal da Língua Portuguesa. Consultado em 18 de fevereiro de 2011 
  2. verbete "caráter" em Houaiss, Antônio; Villar, Mauro de Salles & Franco, Francisco Manoel de Mello (2001). Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva.
  3. a b c Cloninger, C. Robert; Cloninger, Kevin M.; Zwir, Igor; Keltikangas-Järvinen, Liisa (11 de novembro de 2019). «The complex genetics and biology of human temperament: a review of traditional concepts in relation to new molecular findings». Translational Psychiatry (em inglês). 9 (1): 1–21. ISSN 2158-3188. doi:10.1038/s41398-019-0621-4 
  4. Zwir, Igor; Arnedo, Javier; Del-Val, Coral; Pulkki-Råback, Laura; Konte, Bettina; Yang, Sarah S.; Romero-Zaliz, Rocio; Hintsanen, Mirka; Cloninger, Kevin M. (outubro de 2020). «Uncovering the complex genetics of human character». Molecular Psychiatry (em inglês). 25 (10): 2295–2312. ISSN 1476-5578. doi:10.1038/s41380-018-0263-6. Consultado em 7 de novembro de 2022 
  5. a b Zwir, Igor; Del-Val, Coral; Arnedo, Javier; Pulkki-Råback, Laura; Konte, Bettina; Yang, Sarah S.; Romero-Zaliz, Rocio; Hintsanen, Mirka; Cloninger, Kevin M. (agosto de 2021). «Three genetic–environmental networks for human personality». Molecular Psychiatry (em inglês). 26 (8): 3858–3875. ISSN 1476-5578. doi:10.1038/s41380-019-0579-x 
  6. Fiedler, Peter (2007). Persönlichkeitsstörungen 6. Aufl. Weinheim: Beltz PVU.
  7. Le Senne (1963). Traité de caractérologie. Paris: Presses universitaires de France.
  8. Cloninger, C. R. Feeling good: The science of well-being. New York: Oxford University Press, 2004.
  9. Cloninger, Claude Robert (2013). «A importância da consciência ternária para superar as inadequações da psiquiatria contemporânea» (PDF). Revista de Psiquiatria Clínica. Série mente-cérebro. 40 (3) 
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