Cerco de Nísibis (251/252) – Wikipédia, a enciclopédia livre
Cerco de Nísibis | |||
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Segunda campanha romana de Sapor I | |||
Data | 251/252 | ||
Local | Nísibis, Mesopotâmia Superior | ||
Desfecho | Vitória sassânida | ||
Beligerantes | |||
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Comandantes | |||
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O Cerco de Nísibis de 251/252 ocorreu como primeiro movimento do xá Sapor I (r. 240–270) em sua segunda expedição contra o Império Romano.
Antecedentes
[editar | editar código-fonte]Nos anos 240, Sapor conduziu uma desastrosa campanha contra o Império Romano, causando a morte do imperador Gordiano III (r. 238–244) e obrigou seu sucessor Filipe, o Árabe (r. 244–249) a aceitar aquele que os historiadores romanos chamaram de "o tratado mais vergonhoso" para acabar a guerra.[1][2] Não são registrados novos conflitos até 250/251, quando Sapor invadiu a Mesopotâmia e sitiou Nísibis. Segundo Tabari, um sério problema surgiu no distrito do Coração, obrigando-o a marchar para lá. Ao resolver o problema no Oriente, continua Tabari, retomou o cerco.[3]
Cerco
[editar | editar código-fonte]Segundo Tabari, enquanto conduzia o cerco, alegadamente o muro da cidade se dividiu sozinho e uma brecha foi aberta a partir da qual Sapor conseguiu entrar. Ele então matou os soldados da guarnição, escravizou mulheres e crianças e capturou imensas riquezas estocadas lá pelo imperador.[4] Eutíquio de Alexandria, em seus Anais, dá versão diferente. Segundo Eutíquio, quando Sapor retornou para o segundo cerco viu o que os soldados da guarnição conseguiram preparar para defender a cidade e ele acusou-os de traição: "vocês agiram de modo enganoso e astuto." Ele novamente sitiou a cidade, mas foi incapaz de invadi-la, e após gastar muito tempo viu a situação toda como vexatória. Então, teria dito a seus companheiros: "não podem achar ninguém em nosso exército que não está angustiado com o que estamos sofrendo?" Uma investigação foi feita e foram encontrados dois homens entregues ao vinho e música. O rei lhes perguntou: "está claro que nossa situação agrada-os dado que vocês agem como se o que estamos fazendo não lhes concerne."
Os homens responderam, "ó rei, se a situação dessa cidade irrita-o, esperamos poder capturá-la com aquela estratégia que vamos dizer-lhe". Sapor então disse, "então qual é?", e eles responderam que ele deveria avançar com suas forças: "juntando todos suas mãos vocês deveriam proferir suas orações ao Senhor para que ele permita que você invada a cidade." Sapor seguiu o plano, mas nada aconteceu e ele disse: "seguimos seu plano e veja que por nenhum meio alcançamos o objetivo. Então o que vocês dizem agora?" Eles teriam respondido: "receamos que os homens vão menosprezar o nosso plano; mas se você tomar cuidado para que todos, como um homem, profiram suas orações em um genuíno estado de espírito, você obterá seu desejo." Sapor convocou sua comitiva e pediu-lhes que agissem com sentimentos genuínos e com atitude sincera. Eles afirmaram que não repetiram duas orações curtas antes que a muralha da cidade fosse dividida de cima para baixo e que uma abertura se abrisse através da qual os homens poderiam entrar. Os habitantes entraram em pânico e disseram: "esse é o fim de nossa decepção". Sapor entrou na cidade e matou todos os homens que podiam combater que entraram em suas mãos. Os outros habitantes foram aprisionados e o xá encontrou grande quantidade de riquezas na cidade.[5]
Rescaldo
[editar | editar código-fonte]Segundo Eutíquio, Sapor ordenou que o local dividido em dois na muralha deveria ser deixado como estava como sinal de alerta.[6] Apesar do sucesso, foi incapaz de prosseguir sua conquista da Mesopotâmia,[3] o que talvez justifica a omissão dessas operações em sua inscrição. Em 252/253, aproveitou o caos que se instaurou no Império Romano nesse momento (guerra civil entre Emiliano, Treboniano, e Valeriano na Itália; espalhar da Praga de Cipriano; luta endêmica contra invasores germânicos no Reno e Danúbio, em especial godos e boranos).[7] Ciríades, rebelde romano que teve seu papel na subsequente conquista de Antioquia, provavelmente abriu caminho aos invasores ao causar tumultos nas províncias orientais, tumultos esse aparentemente mencionados nos Oráculos Sibilinos.[8]
Referências
- ↑ Shahbazi 2002.
- ↑ Martindale 1971, p. 802.
- ↑ a b Rostovtzeff 1943, p. 33.
- ↑ Tabari 1999, p. 28.
- ↑ Dodgeon 2002, p. 253-254.
- ↑ Dodgeon 2002, p. 254.
- ↑ Rostovtzeff 1943, p. 34.
- ↑ Rostovtzeff 1943, p. 35.
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Dodgeon, Michael H.; Lieu, Samuel N. C. (2002). The Roman Eastern Frontier and the Persian Wars (Part I, 226–363 AD). Londres: Routledge. ISBN 0-415-00342-3
- Martindale, J. R.; A. H. M. Jones (1971). «Sapor I». The Prosopography of the Later Roman Empire, Vol. I AD 260-395. Cambrígia: Cambridge University Press
- Rostovtzeff, Michael I. (1943). «Res Gestae Divi Saporis and Dura». In: Harold Ingolt. Berytus Archeological Studies. 8. Beirute: The Museum of Archeology of The American Unversity of Beirut
- Shahbazi, Shapur (2002). «ŠĀPUR I: History». Enciclopédia Irânica
- Tabari (1999). Bosworth, C.E., ed. The History of al-Tabari Vol. V - The Sasanids, The Byzantines, the Lakhmids and Yemen. Nova Iorque: State University of New York Press