Banisteriopsis caapi – Wikipédia, a enciclopédia livre

Como ler uma infocaixa de taxonomiaBanisteriopsis caapi

Classificação científica
Reino: Plantae
Divisão: Magnoliophyta
Classe: Magnoliopsida
Ordem: Malpighiales
Família: Malpighiaceae
Género: Banisteriopsis
Espécie: B. caapi
Nome binomial
Banisteriopsis caapi
(Spruce ex Griseb.) C.V.Morton[1]

Banisteriopsis caapi, também conhecido como Jagube, liana, Mariri, Yagé ou Caapi, é um cipó nativo da região amazônica, tem sua maior importância no uso religioso. Juntamente com o arbusto Psychotria viridis conhecida como Chacrona, a espécie é matéria-prima na produção de uma bebida conhecida por pelo menos, oitenta nomes diferentes, como, por exemplo, nixi honi xuma (pela tribo dos huni kui),[2] Yagé, Kamarampi, Caapi, Natema, Pindé, Kahi, Mihi, Dápa, Nixi pae, Cipó dos espíritos, Santo Daime, Vegetal, Hoasca, Oaska ou mais comumente Ayahuasca.

O Banisteriopsis caapi e a bebida ayahuasca são também conhecidas por seus nomes indígenas: yagé; capi (Tukano); kahi (Yekuana); kahi ide (Makunas); kamarampi (Ashaninka); nixi honi xuma (Amahuaca); mihi (Cubeo); nixi pae (Kaxinauá); nepê/nepi (Colorado); Ondi (Sharanawa); natema (Jivaro), pindé/pinde (Kaiapa); uko (Záparos);[3] uni (Yawanawás);[4] huípa (Guahibo); dápha/dapá (Embera); dapkhir (Noanamá); una'o (Uitoto); biaxije (Camsá);[5] yaje (Cofán /jahe/).[6]

O Banisteriopsis caapi foi descrito e classificado como membro da família das Malpighiaceae pelo botânico inglês Richard Spruce, que, entre 1849 a 1864, viajou intensamente através da Amazônia brasileira, venezuelana e equatoriana, para montar um inventário da variedade de espécies de plantas lá encontradas na companhia de Alfred Russel Wallace e Henry Walter Bates. Ele conduziu um trabalho que reuniu mais de 30 000 espécimes vegetais da Amazônia e dos Andes, incluindo além do caapi os gêneros da seringueira ( Hevea ) e cinchona, da qual o quinino é derivado. Quanto às Malpighiaceae, esse estudo não só procedeu a descrição botânica da espécie como também sua utilização ritual (Dabocuri) pelos índios do Rio Uapés. Segundo ele, os nomes indígenas dessa espécie são caapi no Brasil e Venezuela, cadaná entre os índios Tukano do Uapés e Aia-huasca no Equador.[7]

De acordo com o "Dicionário Mundial de Nomes de Plantas CRC", de Umberto Quattrocchi, a nomeação do gênero Banisteriopsis foi dedicada a John Banister, um clérigo e naturalista inglês do século XVII. Um nome anterior para o gênero era Banisteria e a planta é às vezes chamada de Banisteria caapi. Outros nomes incluem Banisteria quitensis, Banisteriopsis inebrians e Banisteriopsis quitensis.[8]

Hoene (o.c) descreve ainda o encontro e identificação do Banisteriopsis inebrians (Morton); B. rusbyana (Ndz.) Morton; B. quitensis (Ndz.) Morton, todas elas identificadas nas regiões setentrionais na América do Sul por e com ação semelhante à B. caapi.[9]

A videira gigante pode crescer até 30m de comprimento, entrelaçando outras plantas para suporte.[10] Assemelha-se a Banisteriopsis membranifolia e Banisteriopsis muricata, ambos relacionados ao Banisteriopsis caapi.[8]

B. caapi produz flores pequenas brancas ou rosa pálido características com 12-14 mm e com 4 ou 5 que mais comumente aparecem em janeiro, mas são conhecidas por florescerem com pouca freqüência. As flores são distribuídas em um sistema de ramificação simpático. As flores são hermafroditas, raramente unissexual.[11]Assemelha-se a Banisteriopsis membranifolia e Banisteriopsis muricata, ambos relacionados ao Banisteriopsis caapi.[8][11]

Banisteriopsis caapi com flores

As drupas ou esquizocarpo de uma única semente, semelhante a grãos de café e ricos em vitamina C.[11]

É uma planta trepadeira ou vinha com hastes alongadas e finas que nunca se sustentam sozinhas. Cada nó tem seu respectivo internódio e folhas e brotos como um módulo. Todos os módulos da planta têm uma espessura e funcionalidade mais ou menos semelhantes, que adaptam o módulo às condições locais. A videira pode atingir até 30 metros de comprimento.

Banisteriopsis caapi ramos jovens e folhas

Como em Malpighiaceae, as folhas são grandes e crescem opostas e alternadas, simples e de bordas lobuladas, com glândulas multicelulares na borda e venação pinada.[11]

Distribuição e habitat

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Geralmente cresce na floresta tropical onde é procurado pelos povos indígenas que a usam em Ritos da Medicina Tradicional, embora alguns grupos possam colhê-lo, os apreciadores mais conservadores preferem tirá-lo do ambiente natural quando consideram que ele é "mais poderoso".[12]

A planta é endêmica das áreas tropical e subtropical da América do Sul, especialmente nos Andes e Amazonia da Colômbia, Equador, Peru, Bolívia, Brasil e Venezuela. Não é encontrada naturalmente em outros continentes do mundo, embora sua crescente popularidade a transforme para outros continentes como cultura ou como planta ornamental, mas não tolera frio extremo.[11]

B. caapi contém os seguintes alcaloide de harmala:

Estes alcaloides da classe beta-carbolina atuam como inibidor da monoamina oxidase (IMAO)(em inglês MAOI). Os IMAOs permitem que o composto psicoativo primário, N, N-dimethyltryptamine, que é introduzido a partir do outro ingrediente comum na ayahuasca orindo da planta Psychotria viridis, seja oralmente ativo.

As hastes contêm 0,11-0,83% de beta-carbolinas, com harmina e tetrahidroharmina como os principais componentes.[13]

Os alcaloides estão presentes em todas as partes da planta.[8]

Além das beta-carbolinas, sabe-se que o caapi contém proantocianidinas, epicatequina e procianidina B2, que possuem propriedades antioxidantes.[14]

Uso ritualístico

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O caapi é utilizado pelos povos indígenas da área do rio Caiari-Uaupés e outras partes da América do Sul.[15]:2

Dentre as entidades religiosas que tem como base de seus rituais o uso da Ayahuasca, o Centro Espírita Beneficente União do Vegetal, conhecido mais como União do Vegetal ou UDV, fundada e recriada pelo baiano José Gabriel da Costa, o Mestre Gabriel em Rondônia. A entidade ayahuasqueira mais antiga da idade contemporânea é o Santo Daime, fundado pelo maranhense Raimundo Irineu Serra, o Mestre Irineu em meados de 1930 no estado do Acre.

Juntamente com essas duas primeiras, a Barquinha, fundada no estado do Acre pelo também maranhense Daniel Pereira de Matos, formam linhas de uso da Ayahuasca em contexto urbano. Outra linha ayahuasqueira de grande importância é a linha fundada pelo amazonense Sebastião Mota, a qual é conhecida como Cefluris.

Já existem muitos estudos científicos que comprovam a inofensividade da bebida.[carece de fontes?] E seu uso religioso é legalizado em todo território brasileiro e em mais alguns países, como Estados Unidos e Espanha.

Referências

  1. «Banisteriopsis caapi information from NPGS/GRIN». www.ars-grin.gov. Consultado em 4 de maio de 2008 
  2. Lamb, Bruce. O Feiticeiro do Alto Amazonas 1 ed. [S.l.]: Rocco. p. 1-176. ISBN 85-3250-297-0 
  3. BOLSANELO Débora. Em busca do Graal brasileiro: a doutrina do Santo Daime. RJ, Bertrand Brasil, 1995
  4. LUZ, Pedro. O uso ameríndio do caapi. in LABATE Beatriz C.; ARAUJO, Wladimir S. (org.) O uso ritual da ayahuasca. Campinas, SP, Mercado de Letras – FAPESP, 2002
  5. HUBER, Randall Q. - Robert B. REED (Reds. & compi.) 1992: Vocabulario comparativo: palabras selectas de lenguas indígenas de Colombia: 173. Santafé de Bogotá: ILV. ISBN 958-21-0037-0
  6. Borman, M. B. (1976). Vocabulario Cofán. Quito: Instituto Lingüístico de Verano. pp. 52, 78, 113 
  7. HOENE, F. C. Plantas tóxicas e medicinais.SP, Graphicars - Depto de Botânica do Estado de São Paulo, 1939 p.162
  8. a b c d Rätsch, Christian (2005). The Encyclopedia of Psychoactive Plants: Ethnopharmacology and Its Applications. [S.l.]: Inner Traditions/Bear. ISBN 9780892819782 
  9. MORTON, C. V. Morton. Notes on yagé, a drug plant of southeastern Colombia. Journal of the Washington Academy of Sciences. Vol. 21, no 20 dec. 4. apud HOENE, 1939 (o.c.)
  10. «Banisteriopsis caapi». theferns.info 
  11. a b c d e William R. Anderson (2004). Malpighiaceae. In: N. P. Smith et al., eds. 2004. Flowering Plants of the Neotropics. Princeton. Pp. 229–232. Anderson, W. R. 2013.
  12. Banisteriopsis caapi. Useful Tropical Plants. Enlace rescatado el 6 de junio de 2018 de http://tropical.theferns.info/viewtropical.php?id=Banisteriopsis+caapi
  13. a b c d Callaway, J. C.; Brito, Glacus S.; Neves, Edison S. (junho de 2005). «Phytochemical analyses of Banisteriopsis caapi and Psychotria viridis». Journal of Psychoactive Drugs. 37 (2): 145–150. PMID 16149327. doi:10.1080/02791072.2005.10399795  Predefinição:Closed access
  14. Wang, Yan-Hong; Samoylenko, Volodymyr; Tekwani, Babu L.; Khan, Ikhlas A.; Miller, Loren S.; Chaurasiya, Narayan D.; Rahman, Md. Mostafizur; Tripathi, Lalit M.; Khan, Shabana I. (abril de 2010). «Composition, standardization and chemical profiling of Banisteriopsis caapi, a plant for the treatment of neurodegenerative disorders relevant to Parkinson's disease». Journal of Ethnopharmacology (em inglês) (3): 662–671. PMC 2878139Acessível livremente. PMID 20219660. doi:10.1016/j.jep.2010.02.013. Consultado em 14 de dezembro de 2021 
  15. Ramirez, Henri (2019). A Fala Tukano dos Ye’pâ-Masa, Tomo I: Gramática (versão atualizada, 2019). Manaus: Inspetoria Salesiana Missionária da Amazônia, CEDEM. Consultado em 22 de agosto de 2021 .
  • Alberto R. Gonzales, Procurador Geral e outros v. Centro Espírita Beneficente União do Vegetal e outros. Trad. André Fagundes. Revista Publicum. Rio de Janeiro, v. 4, n. 1, p. 323-341. 2018. Disponível em: <https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/publicum/article/download/33892/25148>. Acesso em 02 out. 2020.
  • FAGUNDES, André. O Direito Penal e as minorias religiosas hoasqueiras (ayahuasqueiras) na Espanha. Comentários à decisão judicial da 4ª Seção da audiência provincial de Valência, processo n. 46250370042016100256. In: Derechos humanos desde la interdisciplinariedad en Ciencias Sociales y Humanidades. DÍAS, R. L. S. et al. (eds.) Madrid: Dykinson, 2020. p. 93-110.
  • Reichel-Dolmatoff, G. 1976. O contexto cultural de um alucinógeno aborígine: Banisteriopsis caapi. In: Coelho, Vera Penteado (org.). Os alucinógenos e o mundo simbólico : O uso dos alucinógenos entre os índios da América do Sul, p. 59-103. São Paulo: Ed. Pedagógica e Universitária/Ed. da Universidade de São Paulo.