Corpo-seco – Wikipédia, a enciclopédia livre

Corpo-seco (também conhecido como Unhudo ou Raquítico Galopante[1]) é uma lenda que faz parte do folclore brasileiro e do folclore ibérico.[2] É descrito como um cadáver ressequido que é expulso da terra como punição por pecado excepcionalmente grave. Em histórias em que o espírito deixa o corpo-seco, é também chamado de Bradador ou Lameirudo em Portugal.[3]

História oral sobre corpo-seco, contada por morador do interior de São Paulo.

A convergência dos espíritos-bradadores, almas que gritam e choram, comuns no Folclore europeu, como o Corpo-Seco, é um natural e lógica explicação popular. O cadáver ressequido, expulso da terra, parece rejeitado por ela e só se daria por um pecado excepcionalmente grave. O fantasma gritador (Bradador) deve ser, forçosamente, o espírito que animava o Corpo-Seco. Ambos, espírito e corpo, cumprem uma sina, satisfazendo compromissos morais e religiosos.[3]

Descrito por Basílio de Magalhães como "homem maligno e que agrediu a própria mãe que ao morrer, nem Deus nem o diabo o quiseram e a própria terra o repeliu e, um dia, mirrado, dessecado, com a pele engelhada sobre os ossos, da tumba se levantou, em obediência a seu fado, vagando e assombrando os viventes, na caladas da noite".[4]

Em Ituiutaba, interior de Minas Gerais, há uma variação desta lenda:[5] conta-se que o corpo-seco depois de ser expulso pela terra várias vezes é levado por bombeiros a uma aparente caverna em uma serra que fica ao sul do município. Diz-se que quem passa à noite pela estrada de terra próxima à "Serra do Corpo-Seco" consegue ouvir os gritos da criatura ecoando de dentro da caverna.

No Paraná,[6] Santa Catarina e parte do interior de São Paulo leva o nome de Bradador, Berrador, Barrulheiro e Bicho Barulhento e assombraria povoados, gritando nos campos após a meia-noite. Durante o dia assumiria a forma de corpo-seco e assombraria cemitérios.[7]

Em São Luiz do Paraitinga houve o relato do corpo-seco como um homem mau que negou esmolas e agrediu frades mendicantes e foi amaldiçoado por eles. Após sua morte seu corpo teria se tornado um corpo-seco e levado para fora do cemitério para a região que assombraria.[8]

Em Dois Córregos há na tradição oral o mito do Unhudo de Pedra Branca. O Unhudo é descrito como a alma penada de um antigo proprietário de terras, homem alto, com chapéu de palha e cabelos compridos que atacou alguém que colhia flores e frutas de um pomar e assombra a região por seu corpo não se deteriorar.[6]

Há relatos do corpo-seco no estado de Paraná, Amazonas, Minas Gerais, São Paulo e no Nordeste brasileiro e em alguns países africanos de língua portuguesa[9] como nas aparições do corpo-seco por soldados zimbabuanos durante a missão UNAVEM III em Angola.[carece de fontes?]

Referências

  1. Guaraldo, Tamara de Souza Brandão [UNESP (7 de abril de 2005). «Comunicação, cultura e mídia: o mito do Unhudo da Pedra Branca». Aleph: 215 f. : il. + 1 CD. Consultado em 16 de fevereiro de 2021 
  2. Reis Filho, Lúcio (janeiro de 2013). «Na Trilha do Corpo-Seco» (PDF). Maringá: Associação Nacional de História. Revista Brasileira de História das Religiões. V (15). ISSN 1983-2850 
  3. a b Cascudo 2002, p. 285.
  4. Cascudo 2002, p. 259.
  5. Portuguez, Anderson Pereira; Wolf, Murillo Inojosa (2020). «Serra do corpo-seco, Ituiutaba-MG O lugar, a assombração e o mito popular a partir da geografia das representações». Brazilian Journal of Development (1): 1421–1475. ISSN 2525-8761. doi:10.34117/bjdv6n1-099. Consultado em 16 de fevereiro de 2021 
  6. a b Jardim, Marcelo Rodrigues (14 de junho de 2006). «Além do mal, aquém do bem: moral em narrativas orais referentes ao Corpo Seco». Boitatá (1): 105–115. ISSN 1980-4504. Consultado em 16 de fevereiro de 2021 
  7. Cascudo 2002, p. 251.
  8. Araújo, Alceu Maynard (2007). Cultura popular brasileira. São Paulo: Martins Fontes. p. 52. OCLC 758821152 
  9. «Lenda do 'corpo seco' aterroriza moradores no sul de Minas». R7.com. 14 de dezembro de 2014. Consultado em 16 de fevereiro de 2021