Criação da Iugoslávia – Wikipédia, a enciclopédia livre
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A Criação da Iugoslávia foi realizada no final da Primeira Guerra Mundial, após a derrota das Potências Centrais, e reuniu em um novo Estado territórios habitados principalmente por povos de língua eslava.
Embora as conversações entre os vários centros de poder político tenham sido desenvolvidos durante a guerra, o novo Estado foi proclamado apressadamente no final de 1918, sem acordo adequado entre as partes sobre como seriam as estruturas do país, o que levou a uma instabilidade crônica da nação durante todo o período entre-guerras.
Antecedentes
[editar | editar código-fonte]Durante a Primeira Guerra Mundial surgiu a ideia de unir os sérvios, croatas e eslovenos em um estado. A proposta foi feita pela Entente por políticos que fugiram do Império Austro-Húngaro e agrupados no Comitê Iugoslavo, com o apoio do governo sérvio.[1]
Posição das potências
[editar | editar código-fonte]A formação do novo Estado não era segura até o fim da guerra, devido à oposição da Itália e a indecisão dos vitoriosos sobre o futuro do Império Austro-Húngaro, que viria a ser desmembrado, a fim de criar o novo país.[1] A Itália tinha sido prometido no Tratado de Londres - pelo qual havia entrado na guerra ao lado da Entente - que receberia grande parte da costa da Dalmácia e o resto do território seria dividido entre a Sérvia, o Montenegro e a Croácia, três estados separados.[1] Permaneceu hostil à união de seus vizinhos eslavos em um único país.[1] A Grã-Bretanha, França e Rússia desejavam a paz com a Áustria-Hungria e seu abandono do lado alemão, até a primavera de 1918, quando esforços para fazê-lo falharam, não apoiaram a partição do império.[1] A Itália mudou sua atitude com as derrotas do final de 1917 frente aos austro-húngaros, mas apenas parcialmente: tão logo voltou a vencer tentou aplicar o Tratado de Londres e mostrou hostilidade para a união eslava.[1]
Posição das comunidades eslavas
[editar | editar código-fonte]Os próprios eslavos se mostravam divididos sobre a forma de união.[1] O sentimento nacionalista era separado.[1] Além disso, o governo sérvio ansiava acima de tudo pela unidade de todos os sérvios no mesmo estado ("Grande Sérvia"), enquanto a união com os croatas e eslovenos era vista como secundária.[1] O governo havia buscado uma promessa dos Aliados sobre a futura união em 1915, mas não fez uma declaração conjunta com o Comitê Iugoslavo até o início do verão de 1917.[1] O primeiro-ministro da Sérvia, Nikola Pašić, manteve durante a guerra dois programas alternativos: um que coincidiu com o do Comitê e pretendia a união de todos os croatas, eslovenos, sérvios e macedônios; e outro menos ambicioso, que se limitava a anexar os territórios com população sérvia, deixando parte dos croatas e eslovenos em mãos italianas.[1][2]
Além disso, não houve acordo sobre o tipo de união: o governo sérvio via o novo estado como uma extensão do existente, considerando aos eslavos austro-húngaro objetos de libertação por parte do Estado sérvio. Por outro lado, o Comitê via a união como a agregação de unidades distintas que se uniram como como indivíduos com livre-arbítrio.[1]
O Comitê Iugoslavo, ao contrário dos checos e polacos, não conseguiu reconhecimento do governo aliado, não foi apoiado pelo governo sérvio e contou com a oposição de uma outra parte importante do governo italiano.[1]
Situação na Croácia-Eslavônia
[editar | editar código-fonte]Os sérvios, que mantiveram a sua religião e parte de seus costumes tradicionais, foram utilizados inicialmente pelo governo em Budapeste para conter o nacionalismo croata.[3] No início do século XX, porém, os políticos croatas e sérvios chegaram a uma aliança contra Budapeste, formando a coligação croata-sérvia,[3] que dominou o Sabor no período anterior à Primeira Guerra Mundial. A coalizão foi evoluindo até apoiar plenamente a união centralizada com o Reino da Sérvia.[3] Seu principal defensor e líder da coalizão durante seus últimos anos foi o sérvio da Croácia-Eslavônia, Svetozar Pribićević.[3] Dada a impossibilidade de separar os sérvios de croatas pela mesclagem que se encontravam, foi negado a possibilidade de estabelecer uma federação,[3] propondo em seu lugar um certo grau de autonomia para os municípios e os departamentos,[3] de inspiração francesa. Quando isso aconteceu, parte dos integrantes da coalizão a abandonaram, defendendo uma união federal.[3]
Situação nos territórios com população eslovena
[editar | editar código-fonte]Os partidos eslovenos, conscientes das ameaças externas (principalmente italianas e austríacas) ao que consideravam seu território, inicialmente apoiaram a união centrista.[4]
Evolução do pós-guerra mundial
[editar | editar código-fonte]Separação da Áustria-Hungria
[editar | editar código-fonte]Após a Dissolução da Áustria-Hungria, a ideia de criar uma nação para os eslavos dos Balcãs ganhou impulso e apoio da comunidade internacional. Em 16 de outubro de 1918 formou-se o Conselho Nacional dos eslovenos, croatas e sérvios em Zagreb, que reunia os partidos eslavos do sul da Áustria-Hungria.[1] No dia 16, rejeitaram a proposta do imperador Carlos para resolver o "problema eslavo" dentro do Império austro-húngaro.[1]
Em 29 de outubro de 1918 estabeleceu-se o Estado dos Eslovenos, Croatas e Sérvios,[1][5] cujo objetivo era incluir todos os territórios com população eslava que o Império Austro-Húngaro havia dominado. Mesmo os austrófilos croatas chauvinistas do Partido Puro dos Direitos votaram a favor.[5]
A situação era de emergência: milhares de desertores percorreram a região, tropas italianas desembarcaram em Dalmácia e ultrapassaram os limites definidos pelo Tratado de Londres e a situação social, com o descontentamento dos camponeses, o proletariado desempregado, uma classe média empobrecida e uma moeda em falência, prometia uma situação revolucionária.[6] A partir de Split e outros lugares da Dalmácia exortou ao Comitê de Zagreb a solicitar a assistência imediata do exército sérvio para proteger os croatas.[6]
No entanto, os sérvios de Vojvodina e Sírmia se opuseram ao novo Estado e uniram seus territórios ao Reino da Sérvia. Foram rompidas as relações com a Áustria-Hungria.[1] A Tríplice Entente não reconheceu este estado, especialmente devido a pressão italiana, e os territórios foram tratados como inimigos e, em parte ocupados pela Itália.[1]
A Bósnia e Herzegovina também apoiou o novo Estado, juntando-se diretamente à Sérvia.[6]
O Comitê começou a tomar decisões de emergência sem a participação do Parlamento.[6]
Negociações em Genebra e tensão com a Itália
[editar | editar código-fonte]Durante a Conferência de Genebra (6 a 9 de Novembro), Pašić se comprometeu a reconhecer o novo Estado, pedir o seu reconhecimento pela Entente e formar um governo conjunto com representantes do Comitê Iugoslavo.[1] O exército sérvio absteve-se de ocupar os territórios austro-húngaros diante à atitude contrária da Comissão Nacional de Zagreb, embora se ofereceu para ajudar a manter a ordem e defender a área.[1] Suas tropas pararam o avanço italiano, entraram em Rijeka e foram saudados como libertadores onde apareceram.[1]
Dalmácia e Bósnia foram ocupadas por tropas sérvias, recebendo governadores temporários sérvios .[7]
Diante destes fatos e dada a falta de forças próprias, os delegados do novo Estado viajaram para Belgrado, onde chegou-se a um acordo para pedir a anexação ao Reino da Sérvia em 1 de dezembro de 1918,[1] que posteriormente foi rebatizado como Reino dos Sérvios, Croatas e Eslovenos. O acordo, ao contrário das promessas de Pašić, não refletia a manutenção da autonomia regional para a convocação da Assembleia Constituinte e nem assegurou que se redigisse a Constituição que iria respeitar os desejos de todos os componentes do estado.[1] No Parlamento croata somente Stjepan Radić se opôs ao envio da delegação, alegando que não possuíam um mandato popular para aplicar a união .[6]
União e problemas políticos
[editar | editar código-fonte]Em 1 de dezembro de 1918 foi proclamado por Alexander Karadjordjevic, Príncipe Regente por seu pai, o Rei Pedro I, que oficialmente era o rei da Sérvia.[6]
Logo as suscetibilidades dos antigos austro-húngaros e a política desajeitada e autoritária de políticos sérvios do antigo reino criaram dificuldades políticas que durariam todo o período entre guerras.[8] No mesmo dia, 2 de dezembro de 1918, os membros do Partido Puro dos Direitos, se manifestaram em Zagreb contra a união.[9] Nos enfrentamentos houve várias mortes.[9]
Em 1918, a maioria dos croatas favoreciam a manutenção da unidade territorial da Croácia[8] e no final de 1919 a opinião pública foi contra o modelo centralista que acabou por ser implementado.[9]
Territórios do novo país
[editar | editar código-fonte]O novo reino foi formado a partir dos antigos Estados independentes monárquicos do Reino da Sérvia e o Reino de Montenegro, bem como uma quantidade significativa de território que tinha sido anteriormente parte do Império Austro-Húngaro. As terras da Áustria-Hungria que formaram o novo estado incluíam a Croácia-Eslavônia e Voivodina da parte húngara do império, Carniola, parte da Estíria e da Dalmácia do lado austríaco, além da província imperial da Bósnia e Herzegovina que tinha sido governada conjuntamente pelas duas metades do império.
Um plebiscito foi realizado na província de Caríntia, que optou por permanecer na Áustria.
A Conferência de Paz de Paris, incapaz de resolver os litígios entre a Itália e a Iugoslávia, entregou o problema a ambos os governos, que depois negociaram o Tratado de Rapallo que fixou as fronteiras na Ístria e Dalmácia.[10] O porto dálmata de Zadar e muitas ilhas dálmatas foram concedidas à Itália.
A cidade de Rijeka (em italiano: Fiume) foi declarada cidade-estado livre, mas logo foi ocupada e anexada em 1924 pela Itália.
As tensões na fronteira com a Itália continuaram, com os italianos reivindicando mais áreas da costa da Dalmácia e da Iugoslávia, reivindicando sua parte da península da Ístria, parte da antiga província costeira austríaca que havia sido anexada à Itália, mas que continha uma população considerável de croatas e eslovenos.
Notas e referências
- ↑ a b c d e f g h i j k l m n o p q r s t u v w Sepic, Dragovan: "The Question of Yugoslav Union in 1918". Journal of Contemporary History 4 (1968)
- ↑ Trifkovic (1992), p. 350
- ↑ a b c d e f g Anónimo (1919), p. 303
- ↑ Anónimo (1919), p. 304
- ↑ a b Trifkovic (1992), p. 352
- ↑ a b c d e f Trifkovic (1992), p. 353
- ↑ Anónimo (1919), p. 302
- ↑ a b Trifkovic (1992), p. 354
- ↑ a b c Trifkovic (1992), p. 355
- ↑ Trifkovic (1992), p. 358
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Anónimo (1919). «Jugoslavia and its internal problems». Current history. 10 (1). pp. 302–306
- Banac, Ivo (1988). The National Question in Yugoslavia: Origins, History, Politics (em inglês). [S.l.]: Cornell University Press. ISBN 9780801494932
- Lederer, Ivo J. (1963). Yugoslavia at the Paris Peace Conference: A Study in Frontiermaking (em inglês). [S.l.]: Yale University Press. 351 páginas. OCLC 394930
- Sepic, Dragova (1968). «The Question of Yugoslav Union in 1918». Journal of Contemporary History. 3 (4). pp. 29–43
- Seton-Watson, R.W. (1929). «Jugoslavia and Croatia». Journal of the Royal Institute of International Affairs. 8 (2). pp. 22–39
- Trifkovic, Srdjan (1992). «The First Yugoslavia and the Origins of Croatian Separatism». East European Quarterly. 26 (3). pp. 345–70
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