História da Igreja Católica no Japão – Wikipédia, a enciclopédia livre
A história da Igreja Católica no Japão se inicia com o contato com os europeus, que apesar da chegada dos portugueses ao Japão ocorrer em 1543, as atividades missionárias iniciaram-se de fato em 1549, realizadas por jesuítas ao abrigo do Padroado. De início tiveram um enorme sucesso, estabelecendo várias congregações. Mais tarde, sob o patrocínio espanhol, chegaram ao Japão as ordens mendicantes dos franciscanos e dominicanos. Dos 95 jesuítas que trabalharam no Japão até 1600, 57 eram portugueses, 20 eram espanhóis e 18 italianos.[1] Francisco Xavier,[2][3] Cosme de Torres e o Padre João Fernandes foram os primeiros a chegar a Kagoshima na esperança de levar o cristianismo e o catolicismo para o Japão. Estima-se que no seu auge tenha chegado a haver cerca de 300 mil cristãos no Japão.[4] Mas a intromissão estrangeira em um país em fase de unificação incomodou as autoridades locais, logo o catolicismo foi progressivamente reprimido em várias partes do país[5] até ser proibido após a Rebelião de Shimabara, entre 1637 e 1638[6] passando a ser celebrado em segredo na clandestinidade pelos chamados kakure kirishitan (隠れキリシタン "cristão escondido"?).[5] Em 1859, quando chegaram ao Japão, missionários franceses descobriram que cerca de 60 mil japoneses praticavam o cristianismo na clandestinidade. As comunidades kakure kirishitan existem até hoje.[5]
Propagação
[editar | editar código-fonte]A religião era uma influência direta dos portugueses, cujo primeiro contato com os japoneses tinha sido em Kyushu, onde aportaram em 1543, na cidade de Tanegashima. E o porto de Nagasaki, na parte oeste da mesma ilha, foi a principal porta de entrada de embarcações vindas de Portugal entre os séculos 16 e 17. Em princípio, isso não afetava o poder central. Oda Nobunaga, que governou o Japão de 1567 a 1582, chegou até a incentivar o trabalho dos jesuítas para enfraquecer a influência dos monges budistas, com quem disputava poder político.[6]
Os jesuítas converteram vários daimiôs, que em breve foram seguidos por muitos de seus súditos com os quais os dominicanos e agostinianos foram capazes de começar a pregar.[7]
Mas o ideal de igualdade pregado pelo cristianismo começou a confrontar com os hierarquia imposta pelo xogum.[6]
Termos para os cristãos
[editar | editar código-fonte]A palavra moderna para o cristianismo é kirisuto kyo キリスト教. Kirishitan (吉利支丹, 切支丹, 鬼利死丹, キリシタン?), do português cristão, é a transcrição do termo japonês para nomear os cristãos católicos no Japão e é usado na historiografia em textos japoneses para referir especificamente os católicos no Japão durante os séculos XVI e XVII. Os missionários cristãos eram conhecidos como bateren (do português, "padre")[8] ou iruman (do português, "irmão").[9] Ambas as transcrições 切 支 丹 e 鬼 利 死 丹 entraram em uso no Período Edo, quando o cristianismo foi uma religião proibida e os caráteres kanji utilizados têm conotações negativas.
Toyotomi Hideyoshi e os daimiôs cristãos
[editar | editar código-fonte]A situação mudou quando Toyotomi Hideyoshi reunificou o Japão. Uma vez que ele se tornou o governante do Japão, Hideyoshi começou a dar atenção para as ameaças externas, especialmente a expansão do poder europeu na Ásia Oriental. O ponto de virada para as missões católicas foi o incidente San Felipe, onde, tendo ficado sem leme, devido à tempestade, a nau encalhou e começou a afundar. A tripulação e os passageiros, missionários franciscanos vindos das Filipinas, foram salvos em pequenos barcos. Houve tempo também para retirar a carga, constituída de preciosos tecidos de seda. Hideyoshi enviou um agente governamental para inspecionar e avaliar essas mercadorias. Este retornou com duas informações. A primeira, bem objetiva: o valor da carga era suficiente para revigorar as esgotadas finanças do ditador. A segunda, de fonte bastante duvidosa: o piloto da nave lhe teria confidenciado que, nas conquistas espanholas, a pregação missionária precedia e preparava o terreno para a invasão militar. Estas alegações feitas foram suficientes para Hideyoshi suspeitar da religião estrangeira.[10][11]
Ele tentou frear o catolicismo enquanto mantinha boas relações comerciais com Portugal e Espanha, que poderiam ter prestado apoio militar a Dom Justo Takayama, um daimiô cristão no oeste do Japão. Muitos daimiôs converteram-se ao cristianismo, a fim de ganhar acesso mais favorável ao nitrato de potássio, usado para fazer pólvora. Entre 1553 e 1620, oitenta e seis daimiôs foram oficialmente batizados, e muitos mais foram simpáticos para os cristãos.[12]
Em contraste com os jesuítas, os dominicanos, franciscanos e agostinianos estavam pregando abertamente a pessoas comuns, o que em Hideyoshi causou preocupação de que surgissem plebeus religiosamente leais e perigosos, como na seita Ikkō-ikki de anos anteriores.[13]
Expansão
[editar | editar código-fonte]A maioria dos cristãos japoneses viviam em Kyushu, mas cristianização não foi um fenômeno regional e teve um impacto nacional. Até o final do século XVI era possível encontrar pessoas batizadas em praticamente todas as províncias do Japão, muitos deles organizados em comunidades.[14]
Em junho de 1592, Hideyoshi invadiu a Coreia, entre seus principais generais estava o daimiô cristão Konishi Yukinaga.[15] As ações de suas forças no massacre e escravização de muitos do povo coreano eram indistinguíveis das forças japonesas não-cristãs que participaram da invasão. Após a morte de Hideyoshi e derrota de Konishi na batalha de Sekigahara, Konishi baseado em sua crença cristã se recusou a cometer seppuku e em vez de tirar a própria vida, ele preferiu ser capturado e foi executado.[16]
As missões japonesas eram economicamente auto-suficientes. A irmandade cresceu em número, para mais de 100 em 1585 e 150 em 1609. Controlada pela elite de Nagasaki, e não por portugueses, tinha dois hospitais (um para leprosos) e uma grande igreja. Até 1606, já existia uma ordem religiosa feminina chamada Miyako no Bikuni (freiras de Quioto) que aceitavam coreanas como Marina Pak, batizada em Nagasaki.[14]
Resposta de Tokugawa
[editar | editar código-fonte]Após a morte de Toyotomi, as pressões diminuíram. No entanto, Tokugawa Ieyasu, que fundou o grande xogunato Tokugawa, começou a ver os missionários estrangeiros como uma ameaça à estabilidade política e proibiu os kirishitans e ordenou que os missionários fossem expulsos.[17] Tokugawa acusava os padres de obedeceram ao papa de Roma antes de obedecerem às suas próprias leis, de brigarem entre si e de dominarem o comércio, favorecendo as nações portuguesa e espanhola, cujas frotas, com base em Manila e Macau, o amedrontava.[18]
Na declaração sobre a "expulsão de todos os missionários do Japão", elaborado pelo monge zen Konchiin Suden e publicado em 1614 sob o nome do segundo xogum, Tokugawa Hidetada que governou de 1605 até 1623, foi considerada a primeira declaração oficial e completa de proibição dos kirishitans.[19] No mesmo ano, o bakufu exigiu que todos os indivíduos de todos os domínios se registrassem em seu templo budista local, o que viria a ser uma exigência anual em 1666, consolidando os templos budistas, como instrumento de controle do Estado.[20] Torturas físicas e psicológicas foram usadas contra os cristãos. As autoridades criaram o fumiê, que consistia em obrigar os cristãos a pisarem na imagem de Cristo ou da Virgem, apostatando-se de sua fé.[21]
Em meados do século XVII, o xogunato exigiu a expulsão de todos os missionários europeus e a execução de todos os convertidos.[22] Isto marcou o fim do cristianismo aberto no Japão. O bakufu colocou boletins de âmbito nacional, nos cruzamentos e pontes, as quais continham advertências severas contra o cristianismo.[23]
Visão cristã da história Kirishitan
[editar | editar código-fonte]Nos tempos modernos, um instituto japonês cristão afirma que há provas suficientes para arqueológicos sugerirem que Nestorianos (Igreja Assíria) foram os primeiros missionários que desembarcam no Japão em 199, acredita-se que viajaram pela Índia, China e Coreia antes da Dinastia Tang. Estima que as primeiras igrejas foram plenamente estabelecida no final século IV, especialmente em Nara, no Japão central.[24]
Redescoberta e regresso
[editar | editar código-fonte]Mais tarde foi revelado que dezenas de milhares de Kirishitan ainda sobreviviam em algumas regiões perto de Nagasaki. Alguns retornaram oficialmente à Igreja Católica Apostólica Romana. Outros permaneciam fora da Igreja Católica e tinham permanecido como Kakure Kirishitan, mantendo suas próprias crenças tradicionais e seus descendentes afirmar que mantem a religião com os costumes dos seus antepassados.[25] No entanto, tornou-se difícil para eles manter a sua comunidade e rituais, já que houve aqueles que se convertido ao budismo ou xintoísta, eventualmente.[26] Quando João Paulo II visitou Nagasaki em 1981, ele batizou alguns jovens de famílias Kakure Kirishitan, uma ocorrência rara.[27] Segundo Dr. Gary G. Kohls, o ataque nuclear derrubou o cristianismo no Japão ao ponto dele nunca mais se recuperar destruindo a maior cidade cristã japonesa.[28]
Ver também
[editar | editar código-fonte]Referências
- ↑ Cultural Interactions
- ↑ Catholic Encyclopedia, Xavier entry
- ↑ Catholic Forum
- ↑ Jansen, p. 77
- ↑ a b c «Portugueses do sol nascente». Editora Abril. Consultado em 3 de outubro de 2010. Arquivado do original em 10 de novembro de 2013
- ↑ a b c «Os últimos samurais cristãos - Aventuras na História». Editora Abril. Consultado em 22 de maio de 2011. Arquivado do original em 8 de agosto de 2009
- ↑ Jansen, p. 22
- ↑ Jansen, p. 67
- ↑ Turnbull, Stephen R (1998). The Kakure Kirishitan of Japan. a study of their development, beliefs and rituals to the present day (em inglês) ilustrada ed. Routledge: Japan Library. p. 69. 296 páginas. ISBN 9781873410707. Consultado em 22 de maio de 2011
- ↑ «Os 26 mártires de Nagasaki, glória da Cristandade japonesa». Colegioarautos.org. Consultado em 22 de maio de 2011[ligação inativa]
- ↑ Cooper, p. 160: I have received information that in your kingdoms the promulgation of the law, i.e. Christianity, is a trick and deceit by which you overcome other kingdoms, he wrote in a letter to the Philippines in reply to the embassy led by Navarrete Fajardo in 1597. Christian missionaries, in Hideyoshi's mind, represented the first wave of European imperialism.
- ↑ Toshihiko
- ↑ Jansen, p. 67-68
- ↑ a b Costa, 2003 - Misericordias
- ↑ Jansen, p. 29
- ↑ Kiernan
- ↑ «Facts about Tokugawa Ieyasu: attitude toward Christianity, as discussed in Kirishitan (religion): -- Britannica Online Encyclopedia». Britannica Online Encyclopedia. Consultado em 23 de maio de 2011
- ↑ Thwang, Alvaro David. O Japão. Dicionário e Civilização. [S.l.]: Globo Livros. p. 656. 1457 páginas. ISBN 9788525046161. Consultado em 23 de maio de 2011
- ↑ Higashibaba, p. 139: The Kirishitan band happened to reach Japan. Not only have they sent merchant vessels to exchange commodities, but they also spread a pernicious doctrine to confuse the right ones, so thay they would change the government of the country and own the country. This will become a great catastrophe. We cannot but stop it.
- ↑ Jansen, p. 57
- ↑ «Cristianismo no Japão» (html). Culturajaponesa.com. Consultado em 18 de janeiro de 2010
- ↑ Mullins, 1990
- ↑ Jansen, p. 58
- ↑ Keikyo
- ↑ Miyazaki, pp. 282-3
- ↑ Miyazaki, pp.284-286
- ↑ Miyazaki, p.287
- ↑ The Bombing of Nagasaki August 9, 1945. Unwelcome Truths for Church and State Global Research, 5 de agosto de 2014
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Father Juan Garcia Ruiz-de-Medina. Documentos del Japón 1990, 1995 ed. [S.l.]: Rome
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- Herbermann, Charles, ed. (1913). «Japan». Enciclopédia Católica (em inglês). Nova Iorque: Robert Appleton Company
- «The Keikyo Institute: "Nestorian Christianity in the Tang Dynasty"»
- Miyazaki, Kentaro (2001). Kakure Kirishitan --Orasho, Figured Bass of Their Souls, (em japonês). [S.l.]: Nagasaki Shimbun Shinsho. ISBN 4-931493-40-8
Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- «O século cristão no Japão, autor Charles Boxer» (em inglês)