Doença de Charcot-Marie-Tooth – Wikipédia, a enciclopédia livre

Doença de Charcot-Marie-Tooth
Doença de Charcot-Marie-Tooth
O pé de uma pessoa com a doença de Charcot-Marie-Tooth: a falta do músculo, o arco do pé alto e os dedos em garra são sinais da doença genética.
Especialidade neurologia
Frequência 0.03%
Classificação e recursos externos
CID-10 G60.0
CID-9 356.1
OMIM 311860
DiseasesDB 5815 2343
MedlinePlus 000727
eMedicine orthoped/43 pmr/29
MeSH D002607
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A doença de Charcot-Marie-Tooth (CMT), também conhecida como atrofia fibular muscular (APM), é um conjunto de neuropatias de etiologia genética que afectam os nervos periféricos, podendo apresentar uma sintomatologia muito variada. Esquematicamente, a CMT atinge os nervos periféricos, que conectam a medula espinhal aos músculos, ocasionando uma perturbação na condução dos impulsos nervosos.

Embora relativamente rara, é uma das formas mais comuns do grupo de neuropatias motoras e sensitivas hereditárias (NMSH); em sua forma hipertrófica, apresenta-se na infância (NMSHI). É uma doença desmielinizante, isto é, provoca danos na bainha de mielina dos neurônios dos nervos periféricos e a degeneração dos axônios, responsáveis pela condução dos impulsos elétricos. Assim, nos nervos afetados, a condução de sinais fica comprometida, o que causa prejuízos na sensação (diminuição da sensação dos membros, em especial das pernas e pés), movimento, cognição e outras funções dependendo dos nervos envolvidos. A doença caracteriza-se por debilidade e atrofia muscular progressiva da panturrilha (atrofia muscular fibular), podendo ocasionar incapacidade progressiva, com déficits sensitivomotores e problemas ortopédicos (pé cavo).[1] Tipicamene, causa problemas com a marcha, todavia não afeta a esperança de vida, não causa retardo mental e pode afetar homens ou mulheres, como um caráter recessivo ou associado ao cromossomo X, caso em que afeta somente à linhagem masculina, dado que, nos homens, praticamente todos os genes do cromossomo X se expressam, sejam eles dominantes ou recessivos.[2]

Em geral, a CMT evolui lentamente, mas também pode progredir em surtos.

A forma mais frequente de neuropatia de CMT é a 1A (CMT1A), de herança autossômica dominante, decorrente de uma duplicação da PMP22([1]).

Existem vários tipos, classificados de acordo com a parte do nervo que é atingida (mielina ou axônio) e o modo de transmissão (caráter recessivo ou dominante). Nos casos mais graves pode ocorrer a atrofia dos músculos, e as pessoas afectadas podem perder a capacidade de se movimentar. É comum, no entanto, que os doentes apresentem sintomas muito leves, podendo jamais se aperceber de que sofrem de CMT.

A doença de Charcot-Marie-Tooth não deve ser confundida com a esclerose lateral amiotrófica (doença de Charcot), que é muito mais grave.

Normalmente a CMT é diagnosticada por uma [2] (para a descoberta da neuropatia), seguida de um exame genético para a confirmação (ou descarte) da doença.

A doença foi descrita pela primeira vez em 1884 por Friedrich Schultze (1848-1934), mas as descrições clássicas foram publicados em 1886 por Jean-Martin Charcot e Pierre Marie, na França,[3] e Howard Henry Tooth,[4] em Londres, resumindo o tratamento por Johann Hoffmann,[5] em 1889. Em fevereiro de 1886, Charcot e seu aluno, Pierre Marie, descreveram cinco casos dessa atrofia muscular progressiva, que foi considerada como decorrente de uma mielopatia. Esta foi a última contribuição importante de Charcot para a neurologia ortodoxa. No mesmo ano, Howard H. Tooth defendeu sua tese de doutorado na Universidade de Cambridge, com o título "O tipo peronial de atrofia muscular progressiva". Ele enfatizou a atrofia inicial do músculo fibular e defendeu a ideia de que se tratava de uma neuropatia periférica. Casos semelhantes já haviam sido relatados por Hermann Eulenburg (1814-1902) em 1856, e por Hermann Eichhorst (1849-1921), Alexander William Hammond (1828-190) e Joseph Ardern Ormerod (1848-1925), mas o trabalho de Charcot e Marie introduziu o novo conceito, segundo o qual a doença tinha uma base neuropática, não sendo uma miopatia.[6][7] and the Briton Howard Henry Tooth (1856–1925).[8]

Também o português jovem músico e autor (do livro de poesia "ContraBaixo"), Diogo Lopes, é portador de CMT tipo 1A. Diagnosticado aos 10 anos, agora com 15 anos, fundou a Associação Portuguesa de Charcot-Marie-Tooth e realizou o 1 ° Encontro Nacional de Portadores, possibilitando, pela primeira vez em Portugal, um encontro entre pares a todos os portadores. http://www.facebook.com/diogorocknroll http://www.facebook.com/associacao.portuguesa.charcot.marie.tooth http://www.facebook.com/livrocontrabaixo

Estima que cerca de 80 mil pessoas, são portadoras da doença no Brasil, pode encontrar a Associação Brasileira dos Portadores de Charcot -Marie-Tooth pelo site http://abcmt.org.br/

Etiologia genética

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"A neuropatia de Charcot-Marie-Tooth apresenta heterogeneidade genética: mutações genéticas localizadas em diferentes cromossomos podem produzir quadros clínicos muito semelhantes. O mecanismo de herança pode ser autossômico dominante, recessivo ou ligado ao cromossomo X. O avanço dos estudos moleculares, nos últimos anos, tem colaborado na melhor caracterização e no diagnóstico de vários tipos e subtipos das neuropatias periféricas hereditárias de CMT e também da neuropatia hereditária sensível à compressão. Medidas da velocidade de condução nervosa motora, obtidas através da eletroneuromiografia, são utilizadas para classificar a CMT em dois grupos principais: tipo 1 (CMT1), na qual os pacientes têm velocidade de condução nervosa diminuída, e tipo 2 (CMT2), onde a velocidade é normal ou um pouco aumentada. A forma mais frequente de neuropatia de CMT é a forma 1A (CMT1A), de herança autossômica dominante, que é causada por uma duplicação de uma região específica do cromossomo 17, denominada 17p11.2-p12."[9]

"A deleção (perda) dessa mesma região em 17p11.1-p12 é responsável pela neuropatia hereditária sensível à compressão (HNPP). Essa neuropatia tem como sintoma característico a ocorrência de lesão dos nervos como resposta a fatores externos como pressão, alongamento ou uso continuado, levando a episódios de dormência, formigamento e fraqueza muscular. O gene PMP22, localizado no intervalo duplicado na CMT1A e deletado na HNPP, é o responsável pelas manifestações clínicas das duas doenças. Já foram descritos casos dessas neuropatias com mutações de ponto em PMP22."[9]

Normalmente a CMT é descoberta nas duas primeiras décadas de vida, e praticamente não apresenta progressões nas décadas seguintes. Porém, suas características e efeitos podem variar muito, em cada caso. Há portadores que apenas apresentam pequenas alterações na movimentação das mãos, por exemplo. Assim, muitas vezes o indivíduo não se sabe portador da doença até a 5ª ou 6ª década da vida. Mas há também casos mais graves que podem gerar, por exemplo, sérias dificuldades de locomoção ou até mesmo paralisia.

O diagnóstico de CMT requer uma série de testes feitos em sequência. Em primeiro lugar é realizada uma entrevista com o doente, que tem como objectivo determinar os antecedentes (sintomas e cronologia) da doença no indivíduo e os antecedentes familiares, visando identificar, na sua família, outras pessoas que possam apresentar sintomas semelhantes. Segue-se um exame neurológico, em o médico irá determinar o estado dos músculos dos membros superiores e inferiores, os reflexos de tendões e a sensibilidade dos membros. O médico pode procurar ainda indícios de deformações no .

Caso os músculos do doente se apresentem flácidos e/ou atrofiados e o reflexo de tendões e sensibilidade sejam reduzidos, o doente fará um conjunto de testes de electrodiagnóstico. São então realizados estudos de condução de impulsos nervosos e uma electromiografia, que permite determinar a actividade bioeléctrica dos músculos.

Se, após a realização desses exames, o diagnóstico indicar que o doente tem uma elevada probabilidade de sofrer de CMT, será realizada uma biópsia de um nervo periférico, exame que confirma se o doente sofre ou não da doença. Em 2008 já existiam vários testes genéticos que permitem determinar se o doente possui ou não algumas das mutações conhecidas que são responsáveis pela CMT.

Dada a variabilidade clínica bastante ampla, sendo sutis as variações entre os diferentes tipos, o diagnóstico diferencial entre casos de Charcot-Marie-Tooth só é possível através de exames moleculares (exames de DNA).

No caso da neuropatia de Charcot-Marie-Tooth tipo 1A e da neuropatia hereditária sensível à compressão (HNPP), é possível confirmar o diagnóstico pela identificação, respectivamente, de duplicações e deleções em 17p11.1-12. Mutações de ponto do gene PMP22 podem também ser investigadas. Indivíduos afetados por CMT1A ou HNPP apresentam risco de 50% de transmitir a neuropatia a seus descendentes.

A USP possui um avançado laboratório no Centro de Estudos do Genoma Humano do Instituto de Biociências (CEGH-IB), onde, através de um exame laboratorial, torna-se possível identificar qual tipo de Charcot-Marie-Tooth o doente possui. O CEGH-IB realiza testes para a pesquisa de duplicações, deleções e mutações de ponto do gene PMP22.[10]

Diagnóstico pré-implantacional

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Atualmente existe a possibilidade de se realizar um exame chamado PGD (Pre-Implantation Genetic Diagnosis), que pode ser traduzido como DPI (Diagnóstico Pré-Implantacional), o qual pode ser utilizado no processo de FIV - Fertilização in vitro, com o objetivo de diagnosticar nos embriões a existência de alguma doença genética ou cromossômica antes da implantação no útero da mãe. 130 doenças podem ser prevenidas com essa técnica, inclusive alguns casos de Charcot-Marie-Tooth[11]

A Charcot-Marie-Tooth Association[12] oferece diversos serviços e esclarecimentos de especialistas sobre a doença.

Normalmente, o tratamento se resume a sessões de fisioterapia, com fortalecimento dos músculos; alongamento dos tendões, ajudando a prevenir ou atrasar deformidades e também hidroterapia.

Efeitos da fisioterapia sobre a CMT

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O texto que se segue é um conjunto de excertos da monografia intitulada Efeitos da Fisioterapia Associada ao Kickboxing na Doença de Charcot-Marie-Tooth: Estudo de Caso.[9]

"As neuropatias de Charcot-Marie-Tooth são conhecidas também como neuropatias motoras e sensoriais hereditárias. Formam um grupo heterogêneo de doenças genéticas que afetam nervos periféricos motores e sensoriais, com diferentes padrões de herança, evoluções clínicas e características eletroneuromiográficas. É dos grupos mais comuns de neuropatias genéticas, afetando crianças e adultos com uma freqüência relativamente alta (um caso para 2.500 pessoas). Essas doenças caracterizam-se por provocar uma degeneração lenta e progressiva dos nervos periféricos, levando à atrofia e à fraqueza dos músculos distais dos membros. Muitas vezes, causam deformidades das mãos e dos pés, alterações da sensibilidade e dos reflexos dos tendões. Em 97% dos indivíduos portadores da forma herdada, a primeira manifestação da doença acontece até os 27 anos de idade. Apenas uma pequena porcentagem desses pacientes chega a procurar a ajuda de médicos, pois geralmente os sintomas são leves e os pacientes se acostumam às limitações."[9]

Referências

  1. Doenças dos nervos periféricos
  2. Manual Merck. Seção 1 - Fundamentos. Capítulo 2 - Genética.
  3. CHARCOT, J. M. e MARIE, P.: Sur une forme particulière d'atrophie musculaire progressive, souvent familiale débutant par les pieds et les jambes et atteignant plus tard les mains. Revue médicale, Paris, 1886; 6: 97-138.
  4. TOOTH, H. H.: The peroneal type of progressive muscular atrophy. Dissertation, London. H. K. Lewis, 1886.
  5. HOFFMANN, J.: Über progressive neurotische Muskelatrophie. Archiv für Psychiatrie und Nervenkrankheiten, 1889, 20: 660. Weitere beiträge zur Lehre von der hereditären progressiven spinalen Muskelatrophie im Kindesalter nebst Bemerkungen übder den fortschreitenden Muskelschwund im Allgemeinen. Deutsche Zeitschrift für Nervenheilkunde, 1897, 10: 292-320.
  6. Whonamedit? A dictionary of medical eponyms. Charcot-Marie-Tooth disease Arquivado em 14 de maio de 2011, no Wayback Machine.
  7. «Sur une forme particulière d'atrophie musculaire progressive, souvent familiale débutant par les pieds et les jambes et atteignant plus tard les mains». Revue Médicale. 6: 97–138. 1886 
  8. «The peroneal type of progressive muscular atrophy». London. dissertation. 1886 
  9. a b c d NUNES, André. Efeitos da Fisioterapia Associada ao Kickboxing na Doença de Charcot-Marie-Tooth: Estudo de Caso Arquivado em 3 de março de 2016, no Wayback Machine.. Unisul, 2006.
  10. Centro de Estudos do Genoma Humano. Instituto de Biociências. Universidade de São Paulo. Neuropatias periféricas.
  11. Soluções para Doenças Genéticas - PGD CGH/ DPI (Diagnóstico Pré - implantacional) PGD-24.
  12. Site da Charcot-Marie-Tooth Association
  • ADAMS, Raymond D. et al., Principles of Neurology, 6th ed., p. 1343.