Coma – Wikipédia, a enciclopédia livre
Coma | |
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É importante mudar o paciente de posição a cada 2-4 horas para evitar ulcerações e problemas vasculares. | |
Especialidade | neurologia, medicina intensiva |
Classificação e recursos externos | |
CID-10 | R40.2 |
CID-9 | 780.01 |
CID-11 | 1328725971 |
DiseasesDB | 16940 |
MeSH | D003128 |
Leia o aviso médico |
Coma (do grego κῶμα, "sono profundo") é um estado de inconsciência do qual a pessoa não pode ser despertada.[1][2]
A manutenção da consciência depende de dois componentes neurológicos importantes: o córtex, a matéria cinzenta cerebral da camada mais externa do cérebro, e o sistema de ativação reticular ascendente (SARA).[3]
Introdução
[editar | editar código-fonte]A consciência é o estado de alerta que permite ao indivíduo a percepção de si e do meio. Alterações da consciência são definidas como quantitativas e qualitativas. Alterações qualitativas modificam o conteúdo da consciência, como delírios, alucinações e perturbações que não afetam o estado de alerta.
Alterações quantitativas, também conhecidas como nível de consciência, variam em um continuum entre o coma e o estado de alerta normal. Neste continuum descrevem-se o alerta, letárgico, estuporoso e o comatoso. Alerta é o indivíduo no estado de despertar normal. Estuporoso é o indivíduo irresponsivo, que pode ser desperto por estímulo vigoroso, e o comatoso é o estado vegetativo do qual o indivíduo não pode ser desperto mediante estimulação externa. Letárgico é o estado de lentificação psicomotora intermediário entre o estupor e o alerta.[1]
Diagnóstico
[editar | editar código-fonte]O diagnóstico de coma deve ser realizado por um profissional médico. Ele envolve causas reversíveis de perturbação da consciência (infecciosas, metabólicas, tóxicas, convulsivas). O exame clínico, testes laboratoriais, eletrofisiológicos e de imagem são importantes e devem ser realizados conforme o julgamento médico. São importantes também na definição de morte encefálica: uma condição irreversível. A legislação brasileira permite a doação de órgãos de indivíduos nessa circunstância.
Condições semelhantes
[editar | editar código-fonte]Síndrome do encarceramento ou síndrome do locked-in
[editar | editar código-fonte]Nessa situação o indivíduo está acordado e alerta, porém quadriplégico (sem movimentos de braços e pernas) e com paralisia dos nervos cranianos inferiores (responsáveis pela fala e deglutição, por exemplo). Subtipos de síndrome do locked-in são descritos na literatura médica.
Estado vegetativo
[editar | editar código-fonte]Esses indivíduos preservam as funções vegetativas, embora não possuam consciência. As funções vegetativas compreendem: ciclo sono-vigília e variações autonômicas simpáticas e parassimpáticas, regidas pelo ciclo circadiano. O estado vegetativo persistente também é conhecido como síndrome apática, coma vígil cerebral cortical.
Abulia
[editar | editar código-fonte]A abulia, também conhecida como mutismo acinético, compreende um complexo neurospsiquiátrico de ausência de iniciativa para o movimento e interação com o meio ambiente. Nessa condição o indivíduo está alerta e desperto, porém apático e indiferente ao ambiente, não movendo-se espontaneamente.
Catatonia
[editar | editar código-fonte]A catatonia é uma síndrome psiquiátrica composta por mutismo e acentuada redução da psicomotricidade. É uma condição normalmente psicogênica (sem lesão neurológica), porém é eventualmente causada por drogas ou mesmo lesão neurológica estrutural.
Causas
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O Coma é causado pela perturbação grave do funcionamento cerebral devido a traumas crânio-encefálicos, acidentes vasculares cerebrais, tumores, distúrbios metabólicos, envenenamentos ou asfixia.
- No traumatismo crânio-encefálico, o coma pode ser induzido seja pelo efeito de concussão cerebral, quando o cérebro recebe um impacto forte e é jogado contra as paredes do crânio, causando lesão difusa, ou mesmo por lesão direta, com perda de massa encefálica como nos casos de ferimentos por armas de fogo.
- Os acidentes vasculares cerebrais (comumente chamados de "derrame"), podem ser do tipo hemorrágico, quando ocorre a ruptura e vazamento de algum vaso sanguíneo cerebral ou do tipo isquêmicos, quando ocorre a obstrução da circulação sanguínea. A interrupção do fluxo sanguíneo em porções do encéfalo irrigadas leva a lesões mais rápidas das células nervosas que hemorragia. Quanto mais rápido o tratamento menor o dano.
- Os tumores encefálicos podem causar o coma por destruição de células cerebrais ou por efeito de compressão, pelo seu crescimento expansivo e irrefreado, que leva à obstrução da circulação sanguínea, a isquemia.
- Diversos distúrbios do metabolismo podem induzir o estado de coma, como o diabetes mellitus, o hipotireoidismo, a insuficiência hepática, seja pelo acúmulo de substâncias que impedem o correto funcionamento cerebral, como alguns aminoácidos e amônia, pelo desequilíbrio do metabolismo do hidrogênio sanguíneo, causando alteração de pH ou pelas disfunções orgânicas causadas por estas doenças, que levam à hipoventilação, hipotermia, hipotensão e bradicardia.
- Os envenenamentos acidentais ou provocados introduzem no organismo humano drogas que podem induzir ao coma, como os organofosforados, cocaína, álcool, etc.
- A asfixia traumática, por afogamento ou por qualquer outra condição que conduza à interrupção do fluxo nas vias respiratórias pode gerar falta de oxigenação cerebral e conduzir a pessoa ao estado de coma.
Avaliação do coma
[editar | editar código-fonte]A avaliação do coma é de suma importância. Em situações de emergência ou de coma de instalação, a avaliação súbita permite ao médico basear suas medidas terapêuticas em protocolos de tratamento e saber da evolução do quadro pela piora ou melhora do estado de coma. A profundidade do coma pode ser classificada por diversas escalas onde o avaliador através de uma padronização de exame quantifica o grau do coma, desde uma leve confusão mental até o coma profundo. Uma das escalas mais utilizadas no mundo, conhecida como Escala de Coma de Glasgow, somando a pontuação pelos seguintes critérios:
1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6 | |
---|---|---|---|---|---|---|
Ocular | Não abre os olhos | Abre os olhos em resposta a estímulo de dor | Abre os olhos em resposta a um chamado | Abre os olhos espontaneamente | N/A | N/A |
Verbal | Emudecido | Emite sons incompreensíveis | Pronuncia palavras desconexas | Confuso, desorientado | Orientado, conversa normalmente | N/A |
Motor | Não se movimenta | Extensão a estímulos dolorosos (descerebração) | Flexão anormal a estímulos dolorosos (decorticação) | Flexão inespecífica (normal)/ Reflexo de retirada a estímulos dolorosos | Localiza estímulos dolorosos | Obedece a comandos |
Resultado:
- 3 a 6 = Coma profundo; (85% de probabilidade de morte; estado vegetativo)
- 7 a 10 = Coma intermediário;
- 11 a 14 = Coma leve;
- 15 = Normalidade.
Prognóstico
[editar | editar código-fonte]O conhecimento médico atual não permite predizer de forma confiável o prognóstico de um indivíduo em coma, a não ser que esse indivíduo preencha critérios para morte encefálica. Certamente a causa (lesão estrutural e sua extensão, toxinas, hipoxemia e outros) e a duração do coma, bem como a idade e antecedentes patológicos do paciente influenciam na definição prognóstica do indivíduo.
A maioria das pessoas em coma permanecem assim entre duas a quatro semanas. Raramente um indivíduo pode permanecer nesse estado por mais tempo na ausência de drogas sedativas. Normalmente o paciente em coma evolui para melhora do nível de consciência ou para a morte encefálica.
Em um estudo com 34 pacientes em coma por falta de oxigenação, 79% dos pacientes nunca se recuperaram e 21% tiveram boa recuperação. Análise clínica, eletroencefalograma e dos potenciais somatossensoriais evocados (PSE) permitirem uma avaliação com 90% de acerto da possibilidade de recuperação do paciente a partir do terceiro dia na maior parte dos casos. Alguns, porém, levaram mais de uma semana antes de um prognóstico mais definitivo.[4] Em outro estudo com 131 casos de coma profundo, a análise dos potenciais somatossensoriais evocados e do córtex, permitiu acerto 100% do prognóstico. Nenhum paciente com redução do córtex e sem potenciais somatossensoriais evocados se recuperou.[5] Estudo com pacientes com traumatismo encefálico tiveram resultados similares, no qual a avaliação dos potenciais somatossensoriais evocados foi o critério mais eficiente de prognóstico.[6] Uma revisão de 25 estudos também chegou a conclusão de que os PSE são os melhores preditores de recuperação.[7]
Cultura e sociedade
[editar | editar código-fonte]Uma pesquisa, que analisou 30 filmes feitos entre 1970 e 2004 que retratavam personagem em comas prolongados, concluiu que apenas dois deles retratavam com precisão o estado de uma vítima de coma e a agonia de esperar por um paciente a despertar: O Reverso da Fortuna (1990) e A Vida Sonhada dos Anjos (1998). Os outros 28 foram criticados por retratar despertares milagrosos, sem efeitos colaterais duradouros, representações irrealistas de tratamentos com equipamentos desnecessários, sem perda muscular e até mesmo mantendo a pele bronzeada.[8]
Ver também
[editar | editar código-fonte]Referências
- ↑ a b Daroff RB, Fenichel GM, Jankovic J, Mazziotta JC, eds. Bradley’s Neurology in Clinical Practice. 6th Edition, Vol. I: Principles of Diagnosis and Management, Vol. I: Neurological Disorders. Elsevier Saunders 2012.
- ↑ Plum, F, Posner, JB, The diagnosis of stupor and coma 1995, 4th ed, FA Davis, Philadelphia.
- ↑ Hannaman, Robert A. (2005). MedStudy Internal Medicine Review Core Curriculum: Neurology 11th Ed. MedStudy. pp. (11–1) to (11–2). ISBN 1-932703-01-2.
- ↑ http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/8612421
- ↑ http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/12948790
- ↑ http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/15589201
- ↑ http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/15846481
- ↑ Eelco F.M. Wijdicks, MD and Coen A. Wijdicks, BS (2006). "The portrayal of coma in contemporary motion pictures". Neurology 66 (9): 1300–1303. doi:10.1212/01.wnl.0000210497.62202.e9. PMID 16682658. Retrieved 2009-11-25.