Fonoaudiólogo – Wikipédia, a enciclopédia livre
O fonoaudiólogo é um profissional de saúde, com graduação plena em fonoaudiologia, que atua de forma autônoma e independente nos setores público e privado. É responsável pela promoção da saúde, prevenção, avaliação e diagnóstico, orientação, terapia (habilitação e reabilitação) e aperfeiçoamento dos aspectos fonoaudiológicos da função auditiva periférica e central, da função vestibular, da linguagem oral e escrita, da voz, da fluência, da articulação da fala e dos sistemas miofuncional, orofacial, cervical e de deglutição. Exerce também atividades de ensino e pesquisa.[1]
No Brasil, há algumas décadas, os fonoaudiólogos era chamados de logopedas, sendo que em alguns idiomas ainda se utiliza tal designação, como em espanhol[2] e sueco.[3]
A fonoaudiologia possui um total de 14 especialidades reconhecidas pelo Conselho Federal de Fonoaudiologia, sendo elas: audiologia, linguagem, motricidade orofacial, saúde coletiva, voz, disfagia, fonoaudiologia educacional, gerontologia, fonoaudiologia neurofuncional, fonoaudiologia do trabalho, neuropsicologia, fluência, perícia fonoaudiológica e fonoaudiologia hospitalar.[4]
Na área de saúde mental, trata de distúrbios cognitivo-comunicativos,[5] na neuropsicologia atua no tratamento e no gerenciamento de distúrbios da comunicação afetados pela cognição e pelo funcionamento cerebral,[6] e na fonoaudiologia educacional atua visando promover ações de educação dirigidas à comunidade escolar em diferentes ciclos de vida, levando em consideração a realidade socioeducacional dos envolvidos.[7]
Audiologia
[editar | editar código-fonte]Na área de audiologia, o fonoaudiólogo é o profissional habilitado para realizar a avaliação, o diagnóstico e a terapia de crianças, adultos e idosos com problemas de audição e equilíbrio. São encarregados da seleção e adaptação de próteses auditivas, participam das equipes de implante coclear. Estes fonoaudiólogos, denominados audiologistas, também realizam monitoramento intraoperativo, desenham, implantam e implementam programas de conservação auditiva, bem como de programas de triagem auditiva neonatal. Além disso, são profissionais de reabilitação por meio de terapias e ou treinamento para intervenção nos distúrbios de audição periféricos e ou centrais.[8]
Executam a avaliação audiológica, que tem como objetivo principal determinar a integridade do sistema auditivo, além de identificar tipo, grau e configuração da perda auditiva em cada orelha.[9] Quando em adultos, está consiste na determinação dos limiares por via aérea e por via óssea, limiar de reconhecimento da fala (LRF) e índice de reconhecimento de fala (IRF). A execução desses testes, juntamente com a imitanciometria e emissões otoacústicas, permite avaliar quantitativa e qualitativamente a audição, podendo demonstrar a necessidade de exames complementares e estabelecer condutas clínicas ou cirúrgicas.[10]
Triagem auditiva neonatal universal (TANU)
[editar | editar código-fonte]Segundo Resolução nº 568 do CFFa, de 30 de março de 2020, o fonoaudiólogo é o profissional capacitado para realização da Triagem Auditiva Neonatal Universal (TANU), considerando todas as suas etapas, sendo habilitado também para a implementação e execução de programas em hospitais e maternidades.[11]
O objetivo desta triagem realizada pelo fonoaudiólogo é a identificação precoce da deficiência auditiva em neonatos e lactentes, são realizados testes e retestes, para que se possa encaminhar o recém-nascido rapidamente ao diagnóstico dessa deficiência, e consequentemente, proporcionar intervenções que se façam necessárias para um desenvolvimento saudável.[12]
A identificação das perdas auditivas durante o primeiro ano de vida possibilita a intervenção médica e fonoaudiológica precoce, em um período em que a maturação e a plasticidade funcional do sistema nervoso central ainda estão acontecendo, permite a prevenção de futuras dificuldades e gerando um prognóstico que auxilia o desenvolvimento global da criança.[13]
Reabilitação auditiva
[editar | editar código-fonte]No campo da reabilitação auditiva, conforme a resolução RESOLUÇÃO CFFa nº 591, de 05 de novembro de 2020, o fonoaudiólogo é responsável pela realização dos procedimentos de seleção, indicação, adaptação, verificação e avaliação de resultados, além da orientação, aconselhamento e acompanhamento de usuários que utilizam AASI (Aparelho de Amplificação Sonora Individual), prótese auditiva ancorada no osso ou prótese de orelha média.[14] Para proporcionar ao paciente uma experiência positiva na reabilitação auditiva, o fonoaudiólogo deve seguir parâmetros reconhecidos que visam nortear suas tomadas de decisão. Diversas associações e academias de audiologia produziram protocolos para este fim, destacando o papel do profissional da Fonoaudiologia neste processo e deixando explícita a necessidade de competências de conhecimento técnico-científico em todas as suas decisões. Contudo, é necessário que exista a colaboração entre o fonoaudiólogo e o médico otorrinolaringologista , que realiza a avaliação do paciente, para a investigação e estabelecimento do diagnóstico prévio do candidato ao uso de aparelhos auditivos.[8]
Implante coclear
[editar | editar código-fonte]Uma das possibilidades de intervenção no âmbito da reabilitação auditiva é o implante coclear, que é um conjunto formado por uma unidade externa de processamento da fala e por uma unidade interna implantada cirurgicamente na parte interna da orelha, no osso da mastóide. Este método tem como função assumir a função das células ciliadas, transferindo o sinal para o nervo auditivo e possibilitando o restabelecimento de sensações auditivas em indivíduos com perdas auditivas mais acentuadas.[15]
A Portaria Nº 2.776, de 18 de Dezembro de 2014, publicada pelo Ministério da Saúde, define os profissionais que devem compor a equipe técnica básica necessária para o programa de implante coclear, dentre eles, está o fonoaudiólogo.[16] Após a realização de uma avaliação otorrinolaringológica completa, o fonoaudiólogo recebe o candidato, realizando a avaliação audiológica e de linguagem oral, com o objetivo de avaliar se o candidato possui os critérios necessários para a realização do implante, posteriormente o encaminhando aos demais profissionais envolvidos no programa. Ao final das etapas pré-cirúrgicas e cirúrgicas, o candidato é atendido periodicamente pelo fonoaudiólogo, nesse momento, o profissional faz a ativação e o ajuste dos eletrodos e treinamento das habilidades auditivas, buscando o desenvolvimento da leitura de fala e aquisição de linguagem. Dentro da equipe envolvida com candidatos a implante coclear, a presença do fonoaudiólogo é fundamental para a correta adaptação e funcionalidade da habilitação/reabilitação.[17]
Saúde laboral
[editar | editar código-fonte]Segundo a resolução n° 693 do CFFa, de 03 de março de 2023 o Fonoaudiólogo é um profissional regulamentado para a avaliação e acompanhamento da audição de empregados e servidores que estejam expostos a níveis de pressão sonora elevados, agentes agressivos à saúde auditiva. Além disso, tem competência para implantar, monitorar, assessorar, supervisionar e coordenar Programas de Conservação Auditiva no campo da Saúde do Trabalhador.[18]
Os Programas de Prevenção de Perdas Auditivas (PPPA) na Saúde do Trabalhador propostos pelo fonoaudiólogo devem incluir monitoramento do ruído, monitoramento audiométrico, estimulação do uso de proteção auditiva, treinamento e educação dos trabalhadores, além de examinar a eficiência de suas aplicações, se pautando em legislações nacionais e internacionais.[19]
Referências
- ↑ «Fonoaudiologia - Fono SP». www.fonosp.org.br. Consultado em 1 de julho de 2019
- ↑ Parra, ROSA MARIA PONS (2007). Manual de Logopedia. Murcia: DIEGO MARIN. 506 páginas. ISBN 9788484255017
- ↑ Hartelius, Lena (2007). Logopedi. Lund: Studentlitteratur AB
- ↑ «Fonoaudiologia - Fono SP». www.fonosp.org.br. Consultado em 4 de setembro de 2021
- ↑ RAMÍREZ, SARA; MATIZ, SORAYA (30 de Junho de 2019). «PAPEL DO FONOAUDIOLOGISTA NA ÁREA DE SAÚDE MENTAL: UMA EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL NO HOSPITAL MILITAR CENTRAL». PAPEL DO FONOAUDIOLOGISTA NA ÁREA DE SAÚDE MENTAL: UMA EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL NO HOSPITAL MILITAR CENTRAL. Consultado em 21 de Novembro de 2019
- ↑ http://repositorio.pucrs.br/dspace/bitstream/10923/9301/2/Neuropsicologia_como_especialidade_na_Fonoaudiologia_Consenso_de_Fonoaudiologos_Brasileiros.pdf
- ↑ Celeste, Letícia Corrêa; Zanoni, Graziela; Queiroga, Bianca; Alves, Luciana Mendonça; Celeste, Letícia Corrêa; Zanoni, Graziela; Queiroga, Bianca; Alves, Luciana Mendonça (9 de março de 2017). «Hearing and Speech Sciences in Educational Environment Mapping in Brazil: education, work and professional experience». CoDAS (em inglês). 29 (1). ISSN 2317-1782. doi:10.1590/2317-1782/20172016029. Consultado em 9 de dezembro de 2019
- ↑ a b MARQUESAN, IRENE (2014). Tratado das Especialidades em Fonoaudiologia. Rio de Janeiro: EDITORA ROCA. p. 1407. ISBN 9788527726412
- ↑ «Guia de Orientações na Avaliação Audiológica Básica». CreFono 7. Consultado em 23 de maio de 2023
- ↑ FILHO, OTACÍLIO (2013). Novo tratado de fonoaudiologia. SÃO PAULO: EDITORA MANOLE. p. 131. ISBN 9788520452189
- ↑ «RESOLUÇÃO CFFa nº 568». Conselho Federal de Fonoaudiologia. 30 de março de 2020. Consultado em 24 de maio de 2023
- ↑ «Diretrizes de Atenção da Triagem Auditiva Neonatal» (PDF). Ministério da Saúde. Consultado em 24 de maio de 2023
- ↑ Pereira, Priscila Karla Santana; Martins, Adriana de Souza; Vieira, Márcia Ribeiro; Azevedo, Marisa Frasson de (setembro de 2007). «Programa de triagem auditiva neonatal: associação entre perda auditiva e fatores de risco». Pró-Fono Revista de Atualização Científica: 267–278. ISSN 0104-5687. doi:10.1590/S0104-56872007000300005. Consultado em 24 de maio de 2023
- ↑ «RESOLUÇÃO CFFa nº 591». Conselho Federal de Fonoaudiologia. 5 de Novembro de 2020. Consultado em 23 de maio de 2023
- ↑ Yamanaka, Daniela Aparecida Rissi; Silva, Roberto Benedito de Paiva e; Zanolli, Maria de Lurdes; Silva, Angélica Bronzatto de Paiva e (setembro de 2010). «Implante coclear em crianças: a visão dos pais». Psicologia: Teoria e Pesquisa: 465–473. ISSN 0102-3772. doi:10.1590/S0102-37722010000300009. Consultado em 23 de maio de 2023
- ↑ «MINISTÉRIO DA SAÚDE - PORTARIA Nº 2.776». MINISTÉRIO DA SAÚDE. 18 de Dezembro de 2014. Consultado em 23 de Maio de 2023
- ↑ Sleifer, Pricila; Fernandes, Vanessa Américo (abril de 2011). «Conhecimento dos fonoaudiólogos de Porto Alegre sobre a atuação fonoaudiológica no implante coclear». Revista CEFAC: 259–270. ISSN 1516-1846. doi:10.1590/S1516-18462010005000106. Consultado em 23 de maio de 2023
- ↑ «RESOLUÇÃO CFFa Nº 693». Conselho Federal de Fonoaudiologia. 3 de março de 2023. Consultado em 24 de maio de 2023
- ↑ Rocha, Clayton Henrique; Santos, Livia Haisa Damha; Moreira, Renata Rodrigues; Neves-Lobo, Ivone Ferreira; Samelli, Alessandra Giannella (março de 2011). «Verificação da efetividade de uma ação educativa sobre proteção auditiva para trabalhadores expostos a ruído». Jornal da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia: 38–43. ISSN 2179-6491. doi:10.1590/S2179-64912011000100010. Consultado em 24 de maio de 2023