Furnariídeos – Wikipédia, a enciclopédia livre
Furnariídeos | |||||||||||||
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Furnariídeos[1] (Furnariidae) é uma família de aves passeriformes natural do Novo Mundo, com cerca de 71 géneros e 236 espécies, mais de metade das quais endémicas da América do Sul, desde a Amazónia à Patagónia. O grupo pode ser encontrado em habitats e climas diversos, desde zonas costeiras a áridas, pântanos, zonas urbanas e agrícolas, e em altitudes de até 4 500 metros. A maior biodiversidade de furnarídeos encontra-se nas florestas tropicais de baixa altitude. Alguns exemplos do grupo são as muitas espécies de joão, limpa-folhas, bico-virado e manuel-de-barro.
Os furnarídeos são aves de pequeno a médio porte, medindo entre 10 a 26 cm de comprimento e pesando até 110 gramas. A sua plumagem é composta principalmente em tons de castanho e cinza e apresenta em algumas espécies padrões complexos de pintas e riscas. A forma do bico varia bastante conforme a espécie e hábitos alimentares, bem como a cauda que em alguns casos está adaptada para facilitar a trepa de árvores. Os furnarídeos têm pernas robustas e patas grandes, com os dedos exterior e médio fundidos até metade do comprimento. O grupo não apresenta dimorfismo sexual.
Os furnarídeos formam casais monogâmicos que se mantém, em muitos casos, de ano para ano. A época de reprodução desenrola-se na Primavera ou Verão e inicia-se com a construção de um ninho complexo em forma de forno. O tipo de ninho varia consoante a espécie, mas a maioria é construída a partir de uma mistura de lama e gravetos (embora haja exemplos de aproveitamento de arame farpado, peles de cobra e ossos) e forrados com folhas, teias de aranha ou ervas. As posturas variam entre dois a cinco ovos brancos a esverdeados, que são incubados ao longo de 14 a 22 dias. Os juvenis tornam-se independentes ao fim de cerca de um mês, mas permanecem no território dos pais ao longo do ano seguinte. Em algumas espécies ajudam inclusivamente a criar a ninhada seguinte.
Os furnarídeos são aves diurnas, territoriais e maioritariamente sedentárias, se bem que as espécies que vivem em altitude tendem a migrar na época de reprodução. A alimentação do grupo faz-se à base de insetos e outros pequenos invertebrados, exercendo um papel importante no controlo de pragas em zonas agrícolas.
O IUCN lista 30 espécies de furnarídeos como vulneráveis ou ameaçadas de extinção, principalmente devido a deflorestação e fragmentação de habitats.
Taxonomia
[editar | editar código-fonte]Com base na análise filogenética (mtDNA citocromo b e nDNA) deste grupo de aves, a família Dendrocolaptidae foi incluída na Furnariidae, já que o reconhecimento da Dendrocolaptidae fazia com que a Furnariidae fosse parafilética uma vez que os gêneros Sclerurus e Geositta são basais em relação aos dois outros grupos.[2] Um arranjo alternativo da sistemática do grupo feita por Moyle e colaboradores em 2009 mantém Dendrocolaptidae como família distinta e divide a Furnariidae tradicional em duas famílias, Furnariidae e Scleruridae.[3]
Sistemática da família Furnariidae:
- Subfamília Sclerurinae Swainson, 1827
- Subfamília Dendrocolaptinae Gray, GR, 1840
- Gênero Certhiasomus (b) Derryberry, Claramunt, Chesser, Aleixo, Cracraft, Moyle & Brumfield, 2010 (1 espécie)
- Gênero Sittasomus Swainson, 1827 (1 espécie)
- Gênero Deconychura Cherrie, 1891 (1 espécie)
- Gênero Dendrocincla Gray, GR, 1840 (6 espécies)
- Gênero Glyphorynchus Wied, 1831 (1 espécie)
- Gênero Dendrexetastes Eyton, 1851 (1 espécie)
- Gênero Nasica Lesson, 1830 (1 espécie)
- Gênero Dendrocolaptes Hermann, 1804 (5 espécies)
- Gênero Hylexetastes Sclater, PL, 1889 (2 espécies)
- Gênero Xiphocolaptes Lesson, 1840 (4 espécies)
- Gênero Xiphorhynchus Swainson, 1827 (15 espécies)
- Gênero Dendroplex (c) Swainson, 1827 (2 espécies)
- Gênero Campylorhamphus Bertoni, 1901 (4 espécies)
- Gênero Drymotoxeres (d) Claramunt, Derryberry, Chesser, Aleixo & Brumfield, 2010 - (1 espécie)
- Gênero Drymornis Eyton, 1852 (1 espécie)
- Gênero Lepidocolaptes Reichenbacg, 1853 (7 espécies)
- Subfamília Furnariinae Gray, GR, 1840
- Gênero Xenops (x) Illiger, 1811 (3 espécies)
- Gênero Berlepschia Ridgway, 1887 (1 espécie)
- Gênero Microxenops (e) Chapman, 1914 (1 espécie)
- Gênero Pygarrhichas Burmeister, 1837 (1 espécie)
- Gênero Ochetorhynchus (f) Meyen, 1834 (4 espécies)
- Gênero Pseudocolaptes Reichenbach, 1853 (2 espécies)
- Gênero Premnornis Ridgway, 1909 (1 espécie)
- Gênero Tarphonomus (g) Chesser & Brumfield, 2007 (2 espécies)
- Gênero Furnarius Vieillot, 1816 (6 espécies)
- Gênero Lochmias Swainson, 1827 (1 espécie)
- Gênero Phleocryptes Cabanis & Heine, 1860 (1 espécie)
- Gênero Limnornis Gould, 1839 (1 espécie)
- Gênero Geocerthia (h) Chesser & Claramunt, 2009 (1 espécie)
- Gênero Upucerthia Geoffroy Saint-Hilaire,I, 1832 (5 espécies)
- Gênero Cinclodes Gray, GR, 1840 (12 espécies)
- Gênero Anabazenops Lafresnaye, 1840 (2 espécies)
- Gênero Megaxenops Reiser, 1905 (1 espécie)
- Gênero Cichlocolaptes Reichenbach, 1853 (1 espécie)
- Gênero Heliobletus Reichenbach, 1853 (1 espécie)
- Gênero Philydor von Spix, 1824 (10 espécies)
- Gênero Anabacerthia Lafresnaye, 1840 (3 espécies)
- Gênero Syndactyla Reichenbach, 1853 (5 espécies)
- Gênero Simoxenops Chapman, 1937 (2 espécies)
- Gênero Ancistrops Sclater,PL, 1862 (1 espécie)
- Gênero Clibanornis Sclater,PL & Salvin, 1873 (1 espécie)
- Gênero Hylocryptus Chapman, 1919 (2 espécies)
- Gênero Hyloctistes Ridgway, 1909 (1 espécie)
- Gênero Automolus Reichenbach, 1853 (9 espécies)
- Gênero Thripadectes Sclater,PL, 1862 (7 espécies)
- Gênero Premnoplex Cherrie, 1891 (2 espécies)
- Gênero Margarornis Reichenbach, 1853 (4 espécies)
- Gênero Aphrastura Oberholser, 1899 (2 espécies)
- Gênero Sylviorthorhynchus Des Murs, 1827 (1 espécie)
- Gênero Leptasthenura Reichenbach, 1853 (10 espécies)
- Gênero Phacellodomus Reichenbach, 1853 (9 espécies)
- Gênero Hellmayrea Stolzmann, 1926 (1 espécie)
- Gênero Anumbius d'Orbigny & Lafresnaye, 1838 (1 espécie)
- Gênero Coryphistera Burmeister, 1860 (1 espécie)
- Gênero Asthenes (i) Reichenbach, 1853 (27 espécies)
- Gênero Acrobatornis Pacheco, Whitney & Gonzaga, 1996 (1 espécie)
- Gênero Metopothrix Sclater,PL & Salvin, 1866 (1 espécie)
- Gênero Xenerpestes von Berlepsch, 1886 (2 espécies)
- Gênero Siptornis Reichenbach, 1853 (1 espécie)
- Gênero Roraimia Chapman, 1929 (1 espécie)
- Gênero Thripophaga Cabanis, 1847 (4 espécies)
- Gênero Limnoctites Hellmayr, 1925 (1 espécie)
- Gênero Cranioleuca Reichenbach, 1853 (20 espécies)
- Gênero Pseudasthenes (j) Derryberry, Claramunt, O'Quin, Aleixo, Chesser, Remsen, Jr. & Brumfield, 2010 (4 espécies)
- Gênero Spartonoica Peters,JL, 1950 (1 espécie)
- Gênero Pseudoseisura Reichenbach, 1853 (4 espécies)
- Gênero Schoeniophylax Ridgway, 1909 (1 espécie)
- Gênero Certhiaxis Lesson, 1844 (2 espécies)
- Gênero Synallaxis (k) Vieillot, 1818 (33 espécies)
- Gênero Siptornopsis Cory, 1919 (1 espécie)
- Gênero Gyalophylax Peters, JK, 1950 (1 espécie)
Notas
[editar | editar código-fonte]- Nota (a): Inclui a espécie poeciloptera anteriormente classificada no gênero Geobates, sinonimizado no Geositta.[4]
- Nota (b): Um novo gênero para Deconychura stictolaema.[5]
- Nota (c): Anteriormente sinonimizado como o Xiphorhynchus, foi revalidado recentemente.[6]
- Nota (d): Um novo gênero para Campylorhamphus pucherani.[7]
- Nota (e): Anteriormente a espécie milleri era incluída no gênero Xenops, mas análises moleculares indicam que a espécie é mais próxima ao gênero Ochetorhynchus.[3][8]
- Nota (f): As espécies andeacola e ruficaudus anteriormente pertenciam ao gênero Upucerthia, a espécie phoenicurus ao gênero Eremobius e a melanurus ao Chilia.[9][10]
- Nota (g): Anteriormente as espécies eram incluídas no gênero Upucerthia.[11]
- Nota (h): Um novo gênero para Upucerthia serrrana.[12]
- Nota (i): Inclui os gêneros Schizoeaca e Oreophylax.[13]
- Nota (j): Gênero descrito para acomodar quatro espécies previamente pertencentes ao gênero Asthenes.[13]
- Nota (k): O gênero Poecilurus (candei, kollari e scutatus) anteriormente considerado distinto, foi sinonimizado como o Synallaxis.[8]
- Nota (x): A posição do gênero Xenops dentro da família ainda é incerta. Análises filogenéticas demonstraram que o gênero está relacionado com a Dendrocolaptinae.[14][15] Outras pesquisas determinaram que o gênero é basal aos demais Furnariinae, sendo o clado-irmão da subfamília[3] ou então o gênero mais basal da mesma.[8]
Referências
- ↑ «Furnariídeos». Michaelis. Consultado em 22 de abril de 2022
- ↑ IRESTEDT, M.; FJELDSÅ, J.; JOHANSSON, U.S.; ERICSON, P.G.P. (2002). «Systematic relationships and biogeography of the tracheophone suboscines (Aves : Passeriformes)». Molecular Phylogenetics & Evolution. 23: 499-512
- ↑ a b c MOYLE, R.G.; CHESSER, R.T.; BRUMFIELD, R.T.; TELLO, J.G.; MARCHESE, D.J.; CRACRAFT, J. (2009). «Phylogeny and phylogenetic classification of the antbirds, ovenbirds, woodcreepers, and allies (Aves: Passeriformes: infraorder Furnariides)». Cladistics. 25: 386-405
- ↑ CHEVIRON, Z.A.; CAPPARELLA, A.P.; VUILLEUMIER, F. (2005). «Molecular phylogenetic relationships among the Geositta miners (Furnariidae) and biogeographic implications for avian speciation in Fuego-Patagonia». Auk. 122: 158-174
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- ↑ ALEIXO, A.; GREGORY, S.M.S.; PENHALLURICK, J. (2007). «Fixation of the type species and revalidation of the genus Dendroplex Swainson, 1827 (Dendrocolaptidae)». Bull. B. O. C. 127: 242-246
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- ↑ IRESTEDT, M.; FJELDSA, J.; ERICSON, P.G.P. (2006). «Evolution of the ovenbird-woodcreeper assemblage (Aves: Furnariidae) - major shifts in nest architecture and adaptive radiation». Journal of Avian Biology. 37: 260-272