Igreja Católica na Arábia Saudita – Wikipédia, a enciclopédia livre
Arábia Saudita | |
---|---|
Ano | 2021[1] |
População total | 34.100.000[2] |
Cristãos | 2.100.000[3] |
Católicos | 1.834.000[1] |
Paróquias | 0[4] |
Presbíteros | 15[1] |
Presidente da Conferência Episcopal | Pierbattista Pizzaballa[5] |
Núncio apostólico | Sede vacante[6] |
Códice | SA |
A Igreja Católica na Arábia Saudita é parte da Igreja Católica universal, em comunhão com a liderança espiritual do Papa, em Roma, e da Santa Sé. O país é o berço do islamismo e local de nascimento do profeta Maomé, e acolhe os dois santuários mais sagrados para os muçulmanos: Meca e Medina. Os cidadãos sauditas são obrigados a seguir a religião islâmica, não havendo assim liberdade religiosa. A conversão do islã para qualquer outra religião e a blasfêmia são puníveis com pena de morte. A pregação pública, porte de materiais não muçulmanos e construção de igrejas são todos proibidos. A fundação Ajuda à Igreja que Sofre afirma em seu relatório de liberdade religiosa que apesar das suaves melhoras, a situação dos católicos no país ainda é preocupante.[7][8] A lista 2024 da fundação Portas Abertas considera a Arábia Saudita como o 13.º país que mais persegue os cristãos.[9]
História
[editar | editar código-fonte]As tradições sobre como o cristianismo chegou à região arábica. Uma delas é do século V, que um comerciante de Najrã teria se convertido quando viajava ao atual do Iraque e lá foi evangelizado. Uma segunda tradição afirma que um mensageiro de Constâncio, imperador romano, teria pregado o evangelho ao rei do Reino Himiarita, atual Iêmen, que se converteu. Mesmo após a chegada da heresia nestoriana, o cristianismo continuou a crescer, florescendo no século V.[9]
Durante os séculos VI e VII, havia na Arábia Saudita um considerável número de cristãos (provavelmente nestorianos) e igrejas. A maioria deles vivia no atual território que é a Província de Meca. Hoje em dia, ainda há ruínas de uma igreja nestoriana, próxima de Jubail. Afirma-se ser a igreja mais antiga do mundo. Assim permaneceu o cristianismo na região até a tomada do islã, entre os séculos VII e X, quando os judeus e cristãos da região se converteram, voluntariamente ou obrigados, e muitos outros foram expulsos de suas casas. [9]
Nos séculos seguintes, a Península Arábica tornou-se esmagadoramente islâmica e o cristianismo perdeu seu significado.[9] Igrejas foram rapidamente convertidas em mesquitas,[10] e o papel histórico que o catolicismo desempenhou na região foi esquecido por séculos. No século XIX, o cenário começou a mudar, quando trabalhadores estrangeiros cristãos começaram a chegar à região, como Omã, Barein, Catar, Kuwait e Emirados Árabes Unidos. Igrejas passaram a ser construídas em todos esses países, exceto na própria Arábia Saudita, onde a construção de igrejas é proibida.[9]
Em 1984, os filipinos, Ruel Janda e Amel Beltrán, foram decapitados por manifestações cristãs públicas.[11]
No final da década de 1990 houve muitas detenções de cristãos por posse de Bíblias ou por se reunirem em grupos clandestinos de oração e estudo bíblico. A punição para quem pratica qualquer religião que não seja o islamismo sunita era de dois a seis meses de prisão, conversão forçada ao islã ou deportação. A punição para o proselitismo era a tortura e a pena de morte, embora um caso de 1995 envolvendo um estrangeiro acusado de conversão tenha terminado com a libertação dele em 1997, após uma sequência de protestos internacionais. O governo vinha realizando esforços para eliminar a presença de cristãos praticantes, mesmo que sejam etnicamente sauditas, como parte de um processo que ficou conhecido por "saudização" que substituiria os cristãos por trabalhadores sauditas muçulmanos.[12]
Dados divulgados pela Anistia Internacional mostram que, entre 1990 e 1993, 329 cristãos foram detidos por diversos motivos. Em 1995, Donato Lama, um cristão, foi preso, acusado de evangelizar, e condenado a setenta chicotadas e 18 meses de prisão, até ser deportado para as Filipinas.[11]
Atualmente
[editar | editar código-fonte]As estatísticas religiosas no país são escassas e imprecisas. Dados da própria Igreja mostram um crescimento do catolicismo no país árabe, especialmente devido aos grandes fluxos migratórios que chegam à Península Arábica. Em 1974, havia cerca de 200 mil católicos no país. Em 2006 passaram a ser 800 mil, ou seja, o quádruplo em um intervalo de 30 anos. Os cristãos que vivem na Península Arábica provêm de ao menos cem países diferentes; a maioria, porém, são das Filipinas, Índia, Paquistão, Etiópia, Eritreia, Sudão e Egito.[11]
Em 2000, havia seis padres e menos de 20 religiosos atendendo às necessidades espirituais dos católicos estrangeiros que viviam em território saudita com vistos de trabalho. Apesar do papel internacional que a Arábia Saudita tem na extração de petróleo, ela continuou a ser um estado muçulmano sunita e negando a liberdade religiosa. A prática pública de outras ordens muçulmanas, do cristianismo ou de qualquer outra religião já era estritamente proibida. O islã e o governo permanecem totalmente interligados, e a sharia permanece a base da legislação civil.[12] Para a repressão das religiões não-islâmicas e das infrações contra a moral muçulmana, existe a polícia religiosa, chamada mutaween; qualquer livro ou objeto classificado como cristão é atirado no lixo, com o encarceramento do 'agressor'".[11] A prática privada da fé cristã é apenas tolerada para diplomatas e outros estrangeiros autorizados.[12] Missas só podem ser celebradas nos recintos diplomáticos. Sacerdotes que mantêm o culto clandestino precisam portar documentos como se fossem funcionários de empresas do país.[11]
Relatórios de perseguição religiosa, como o da Portas Abertas, afirma que os homens são mais frequentemente expulsos de casa quando se convertem do islã; enquanto que as mulheres sofrem abuso verbal, são forçadas a se casar com muçulmanos, ou até perder a guarda de seus filhos. Alguns cristãos sauditas falam abertamente de sua fé, porém, a maioria a mantém escondida – mesmo para os próprios filhos, devido ao medo de seu segredo ser revelado.[9] Ninguém pode praticar a fé católica abertamente no país, mesmo os estrangeiros; mas sim apenas de forma privada. Os sauditas são oficialmente 100% muçulmanos, porém, há conversões dentre eles, que precisam ser mantidas em estrito sigilo, pois, a conversão é vista como apostasia do islã, e é punível com pena de morte. Outras punições também incluem castigos físicos ou apedrejamento.[13]
Em abril de 2005, quarenta paquistaneses foram detidos por acompanhar um missa de maneira clandestina.[11] Em 2007, o Papa Bento XVI teve uma audiência, no Vaticano, com o rei saudita Abdullah, morto em 2015. Na ocasião, Abdullah explanou ao Pontífice seus planos para instaurar a paz no Oriente Médio. Foi a primeira vez que houve um encontro entre um rei saudita e um Papa.[14][15]
Em outubro de 2016, um grupo com 27 libaneses foram presos e deportados sob acusação de "realizar orações cristãs" e pela "posse de Bíblias".[16] Em novembro de 2017, o príncipe saudita, Mohammad bin Salman, anunciou que conduzia planos para restaurar e reabrir uma igreja de 900 anos, em Jeddah, como forma de "presentear" o patriarca libanês que visitara seu país; porém, desde então, não foram feitos novos anúncios sobre a promessa. A reforma da suposta igreja vinha sendo feita, mas a visita feita por membros da organização Portas Abertas acompanhou que uma pintura de verde e branco vinha sendo feita no imóvel, mas nenhum tipo de símbolo religioso que indicasse que aquilo realmente vinha sendo preparado para uma igreja.[10]
Em novembro de 2017, Beshara Rai, líder da Igreja Maronita libanesa fez uma visita à Arábia Saudita, onde teve um encontro com o Rei Salman e com o príncipe-herdeiro.[17] Já em abril do ano seguinte, o país recebeu o cardeal Jean-Louis Tauran, dirigente do Dicastério para o Diálogo Inter-Religioso do Vaticano.[14] Em setembro de 2021, um relatório de um instituto relacionado a direitos humanos concluiu que havia melhorias significativas nos novos manuais escolares do país, devido à alteração ou eliminação de 22 lições anticristãs e antissemitas e cinco lições sobre os "infiéis". Ainda assim, o documento afirma que "os cristãos e outros não muçulmanos continuam a ser rotulados de infiéis em todo o lado". No mesmo mês, um cristão convertido teve de fugir do país por estar sendo processado, e, tanto ele quanto sua família estarem recebendo ameaças.[7] Recentemente, em 9 de agosto de 2023, o futebolista português Cristiano Ronaldo chamou a atenção ao comemorar um gol fazendo o sinal da cruz, enquanto jogava pelo Al-Nassr Football Club na Copa dos Campeões Árabes. Não há uma legislação específica que proíba gestos religiosos no país, mas uma equipe do Globo Esporte buscou uma resposta se o gesto de Ronaldo poderia ser considerado um crime no país; Fernando Brancoli, Professor de Geopolítica do Instituto de Relações Internacionais e Defesa da Universidade Federal do Rio de Janeiro, afirma que o jogador não corre riscos de represálias apenas por sua notoriedade internacional, mas que "em outros casos poderia dar problema sim".[18][19]
Em maio de 2022, foi realizada em Riade, capital da Arábia Saudita, um conferência multirreligiosa para debater as semelhanças entre essas religiões. Participaram líderes judaicos, muçulmanos, hindus, budistas, católicos, protestantes e ortodoxos.[7][20] Ainda assim, a Arábia Saudita permanece sendo um dos países mais restritivos ao cristianismo no mundo, sendo um dos únicos a não ter nenhuma igreja cristã. Igrejas, cruzes e quaisquer outros símbolos religiosos não -islâmicos são proibidos, mesmo nas embaixadas de outros países, que são considerados territórios soberanos. As celebrações e reuniões cristãs são vetadas e só podem ser realizadas em segredo.[10]
Organização territorial
[editar | editar código-fonte]O catolicismo está presente no território saudita por meio do Vicariato Apostólico da Arábia Setentrional, cuja jurisdição também se estende aos territórios do Barein, Catar e Kuwait.[21] Fontes católicas afirmam que a Arábia Saudita só faz parte nominalmente da circunscrição, devido às restrições da práticas religiosas que não sejam islâmicas sunitas.[22]
Conferência Episcopal
[editar | editar código-fonte]A reunião de bispos de vários países do Chifre da África e Oriente Médio, incluindo a Arábia Saudita, forma a Conferência dos Bispos Latinos das Regiões Árabes, que foi criada em 31 de março de 1967.[5]
Delegação Apostólica
[editar | editar código-fonte]A Delegação Apostólica da Península Árabe foi criada em 1993.[6] A Arábia Saudita não tem relações diplomáticas com a Santa Sé.[7][20]
Santos
[editar | editar código-fonte]Há três santos nascidos no atual território saudita:[23]
- Santo Aretas
- São Cipriano
- São Félix
Ver também
[editar | editar código-fonte]- Religião na Arábia Saudita
- Igreja Católica no Barein
- Igreja Católica no Catar
- Igreja Católica nos Emirados Árabes Unidos
- Igreja Católica no Iêmen
- Igreja Católica no Iraque
- Igreja Católica na Jordânia
- Igreja Católica no Kuwait
- Igreja Católica em Omã
Referências
- ↑ a b c «Catholic Church in Saudi Arabia». GCatholic. Consultado em 8 de maio de 2024
- ↑ «Population at 34.1 million in 2021» (PDF). Autoridade Geral de Estatística da Arábia Saudita. Consultado em 8 de maio de 2024
- ↑ «2022 Report on International Religious Freedom: Saudi Arabia» (em inglês). Departamento de Estado dos Estados Unidos. Consultado em 8 de maio de 2024
- ↑ «A presença da igreja na Arábia Saudita». Portas Abertas. 29 de abril de 2019. Consultado em 13 de maio de 2024
- ↑ a b «Conférence des Evêques Latins dans les Régions Arabes» (em inglês). GCatholic. Consultado em 8 de maio de 2024
- ↑ a b «Apostolic Delegation - Arabian Peninsula» (em inglês). GCatholic. Consultado em 8 de maio de 2024
- ↑ a b c d «Arábia Saudita». Fundação ACN. Consultado em 8 de maio de 2024
- ↑ «Papa faz história com visita à Península Arábica». DW. 4 de fevereiro de 2019. Consultado em 25 de maio de 2024
- ↑ a b c d e f «Como é a perseguição aos cristãos na Arábia Saudita?». Portas Abertas. Consultado em 8 de maio de 2024
- ↑ a b c «A presença da igreja na Arábia Saudita». Portas Abertas. 29 de abril de 2019. Consultado em 25 de maio de 2024
- ↑ a b c d e f «Católicos na Arábia Saudita quadriplicam desde 1974». ACI Digital. 8 de novembro de 2006. Consultado em 25 de maio de 2024
- ↑ a b c «Saudi Arabia, The Catholic Church In» (em inglês). Encyclopedia.com. Consultado em 8 de maio de 2024
- ↑ «Arábia Saudita completa 90 anos de Unificação». Portas Abertas. 25 de setembro de 2022. Consultado em 25 de maio de 2024
- ↑ a b «A IGREJA CATÓLICA NA PENÍNSULA ARÁBICA». O Clarim. 29 de janeiro de 2021. Consultado em 25 de maio de 2024
- ↑ «Rei da Arábia Saudita se encontra com Bento XVI no Vaticano». Canção Nova Notícias. 6 de novembro de 2007. Consultado em 25 de maio de 2024
- ↑ «Como vivem os cristãos na Arábia Saudita?». Portas Abertas. 29 de abril de 2017. Consultado em 25 de maio de 2024
- ↑ «O catolicismo na Península Arábica». IstoÉ. 2 de fevereiro de 2019. Consultado em 25 de maio de 2024
- ↑ «Cristiano Ronaldo comemorar com sinal da cruz na Arábia Saudita é crime? Entenda». ge. 9 de agosto de 2023. Consultado em 25 de maio de 2024
- ↑ «É proibido fazer gestos cristãos na Arábia Saudita?». Portas Abertas. 10 de agosto de 2023. Consultado em 25 de maio de 2024
- ↑ a b «O catolicismo na Península Arábica». Estado de Minas. 2 de fevereiro de 2019. Consultado em 13 de maio de 2024
- ↑ «Apostolic Vicariate of Northern Arabia». GCatholic. Consultado em 8 de maio de 2024
- ↑ Felipe Sergio Koller (6 de dezembro de 2018). «Como é a presença da Igreja Católica na Península Arábica». Sempre Família. Consultado em 13 de maio de 2024
- ↑ «Saints and Blesseds of Saudi Arabia» (em inglês). GCatholic. Consultado em 8 de maio de 2024