João Augusto Chagas Pestana – Wikipédia, a enciclopédia livre
João Augusto Chagas Pestana | |
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Pestana em 2012 | |
Nascimento | 22 de março de 1936 Cachoeira do Sul, RS |
Morte | 26 de outubro de 2020 (84 anos) São Paulo, SP |
Nacionalidade | brasileiro |
Educação | Escola de Engenharia de Porto Alegre |
Ocupação | Engenheiro e executivo, primeiro presidente do conselho da RGE |
João Augusto Chagas Pestana (Cachoeira do Sul, 22 de março de 1936 — São Paulo, 26 de outubro de 2020) foi um engenheiro e executivo brasileiro. Liderança empresarial do setor elétrico nacional a partir de meados da década de 1990, Pestana foi o primeiro presidente do conselho de administração da empresa Rio Grande Energia.
Origens e formação
[editar | editar código-fonte]Filho do magistrado gaúcho Ciro Pestana (1898-1982) e neto do líder republicano Augusto Pestana (1868-1934), primeiro Prefeito de Ijuí e fundador da Viação Férrea do Rio Grande do Sul, João Augusto Chagas Pestana nasceu em Cachoeira do Sul à época em que seu pai era juiz de direito titular daquela comarca.[1] Após passar parte da infância em Santa Maria, completou o ensino fundamental no Colégio Anchieta em Porto Alegre (escola mantida pelos jesuítas) e, em 1953 e 1954, foi Aluno do Colégio Naval em Angra dos Reis (turma José Humberto de Farias, a terceira da instituição).[2]
Em lugar de seguir carreira como oficial na Marinha do Brasil, optou por retornar a seu estado natal para estudar na Escola de Engenharia de Porto Alegre (faculdade fundada em 1896 com o apoio de sua trisavó Ana de Ávila Chagas, Baronesa de Candiota). Graduou-se engenheiro civil em 1960 e, no ano seguinte, transferiu-se para São Paulo, onde fez pós-graduação em administração de empresas na Fundação Getúlio Vargas (FGV-EAESP).[3]
Engenheiro civil em São Paulo (1960-1990)
[editar | editar código-fonte]No início da carreira, Pestana foi responsável por obras de pequeno e médio porte em Franca (1961), Santos (1962) e Ourinhos (1963), entre outras cidades do interior de São Paulo. Em 1964, ingressou na estatal paulista Centrais Elétricas de Urubupungá (Celusa), depois absorvida pela Companhia Energética de São Paulo (CESP) .[4] Integrou o pioneiro grupo de engenheiros encarregados da construção da Usina Hidrelétrica de Jupiá, na divisa entre São Paulo e o atual estado do Mato Grosso do Sul, onde viveu entre 1964 e 1968.[5]
Nos anos 1970 e 1980, já na inciativa privada, participou ativamente do planejamento ou da implementação de seminais projetos de infraestrutura no Brasil e na América do Sul, em especial no setor energético — usinas hidrelétricas de Ilha Solteira, Tucuruí, Itaipu e Guri (Venezuela), além da central nuclear de Angra dos Reis —, mas também no setor de transportes, como a ponte Rio-Niterói e a rodovia dos Imigrantes. Consolidou nessas grandes iniciativas sua habilidade como gestor de projetos marcados por complexidade tanto do ponto de vista técnico quanto do regulatório e empresarial.[5]
No plano internacional, além de Itaipu e Guri, Pestana trabalhou como consultor nos estudos de viabilidade técnica e financeira para o aproveitamento hidrelétrico do rio Uruguai, na fronteira entre o Brasil e a Argentina (projetos das usinas de Garabi, Roncador e São Pedro, que não se concretizaram).[6] Participou, ainda, de negociações para o aproveitamento da bacia do rio Porce (Colômbia), bem como para diversos projetos de infraestrutura no Peru, no Equador e na Bolívia.[5]
Executivo do setor elétrico (1990-2010)
[editar | editar código-fonte]Nos anos 1990 e 2000, Pestana converteu-se num dos executivos-chave do processo de modernização e privatização do setor elétrico brasileiro. Foi diretor de desenvolvimento de negócios da joint-venture formada pelos grupos Votorantim, Bradesco e Camargo Corrêa (VBC).[7] Negociou parceria da VBC, incluindo significativo aporte de investimentos estrangeiros diretos, com o grupo norte-americano PSEG, representado no Brasil por um de seus vice-presidentes, William J. Budney.[8]
Em 1997, após a privatização parcial da Companhia Estadual de Energia Elétrica do Rio Grande do Sul (CEEE), Pestana tornou-se o primeiro presidente do conselho de administração da Rio Grande Energia (RGE), empresa integrante do grupo CPFL Energia e líder no mercado gaúcho de distribuição de eletricidade.[9] Na avaliação do então representante do Bradesco na VBC, Roger Agnelli (depois presidente da mineradora Vale), era “um agregador nato, sempre capaz de convencer e aproximar os acionistas para viabilizar boas oportunidades de negócio”.[10] Ao completar seu mandato à frente do conselho da RGE em 2001, foi sucedido por William J. Budney do PSEG.[11]
No período como alto executivo na VBC e na RGE, atribuiu prioridade à concretização do aproveitamento hidrelétrico da bacia do alto rio Uruguai, na divisa entre o Rio Grande do Sul e Santa Catarina, oferecendo contribuição decisiva para a conclusão e a entrada em operação das usinas de Itá (2000), Machadinho (2002), Complexo Ceran (2004) e Barra Grande (2005). A capacidade somada dessas quatro unidades (cerca de 3,7 GW) equivale a mais de um terço da geração total de energia do Rio Grande do Sul.[5]
Legado e família
[editar | editar código-fonte]Expoente da geração de engenheiros especializados em barragens que iniciou a trajetória profissional nos anos 1960, Pestana contribuiu — por meio de seu trabalho de cinco décadas em prol da infraestrutura brasileira — para criar as condições materiais que alçariam o País, na virada de século, a uma das dez maiores economias do mundo e a referência global em energia limpa graças a uma matriz elétrica majoritariamente renovável. Notabilizou-se, em particular, por ter conciliado sólido conhecimento técnico, visão empresarial ambiciosa e profunda compreensão da realidade política e econômica do Brasil.[5]
Pestana casou-se em Porto Alegre, em 1961, com a professora gaúcha Miriam Gomes Souto, neta do advogado e abolicionista alegretense Franklin Gomes Souto (1844-1917). O casal radicou-se em São Paulo e deixou descendência.[4]
Referências
- ↑ Anuário Genealógico Brasileiro, 1939.
- ↑ Diário de Notícias (Rio), 25 de janeiro de 1953.
- ↑ HASSEN, Maria. Escola de Engenharia: um século. Porto Alegre: Tomo Editorial, 1996, páginas 15 e 12 (anexo).
- ↑ a b Jornal do Brasil, 23 de março de 1969.
- ↑ a b c d e Folha de S.Paulo, 31 de outubro de 2020.
- ↑ Portal Eletrobrás.
- ↑ Jornal do Brasil, 8 de março de 1997.
- ↑ Portal Legacy, obituário de W.J.Budney.
- ↑ O Pioneiro, Caxias do Sul, 19 de dezembro de 1997.
- ↑ Relatório Anual da Rio Grande Energia, Caxias do Sul, 1999.
- ↑ Demonstrações Contábeis da RGE para o ano de 2002.