João de Sá – Wikipédia, a enciclopédia livre

João de Sá
Cavaleiro da Casa Real
Nascimento Reino de Portugal
Morte Depois de 1529
Cônjuge D. Maria de Melo, filha de Mestre Gil.
Descendência D. Guiomar d'Eça esposa de

Lopo Vaz de Sampaio

João de Sá ( ? – depois de 1529) foi um escrivão, militar, navegador português e tesoureiro das especiarias da Casa da Índia. Acompanhou Vasco da Gama na primeira viagem marítima da Europa para a Índia, e Pedro Álvares Cabral na segunda viagem para a Índia e descoberta do Brasil em antes de ir para Marrocos. Primeiro na cidade de Safim, que tinha como governador Nuno Fernandes de Ataíde cunhado de Vasco da Gama, e depois para a fortaleza de Santa Cruz do Cabo de Gué em Agadir. De condição modesta aproveitou os descobrimentos para progredir na escala social até atingir o grau de nobre sendo elevado à categoria de cavaleiro da Casa Real, casando mesmo sua filha (donzela da duqueza D. Isabel de Viseu, irmã do rei D. Manuel) com Lopo Vaz de Sampaio futuro governador da Índia.

Primeira viagem à Índia

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Vasco da Gama, João de Sá e outros, desembarcam em Calecute, a 20 de maio de 1498.

Sá foi escrivão na primeira viagem marítima portuguesa à Índia, viajando na nau São Rafael capitaneada pelo irmão mais novo de Vasco da Gama, Paulo da Gama. Sá também fez parte do grupo de doze homens que acompanharam Gama a Calecute a 20 de maio de 1498, na visita ao Samorim.[1]

Na viagem de volta, o São Rafael foi afundado ao largo da costa leste africana, e a tripulação redistribuída para os dois navios restantes, o São Gabriel e o Bérrio. Porque não havia tripulantes suficientes para manobrar os três navios, devido à perda de quase metade da tripulação por causa do escorbuto durante a longa viagem através do Oceano Índico. João de Sá foi assim transferido para o São Gabriel e assumiu mais tarde o comando do navio porque Vasco da Gama decidiu permanecer na Ilha de Santiago com seu irmão Paulo, que adoeceu gravemente.[2][3]

Vasco da Gãma cõ aquelle têporal foy ter a jlha de Sãtiago, e por trazer seu jrmão Paulo da Gãma muy doente, leixou por capitã em o seu nauio a joã de Sa q se viesse a Lixboa: e elle por remedear a saude de seu jrrnão em húa carauela que fretou passou se a jlha terceira, onde o veo enterrar no mosteiro de sam Frãcisco por vir já muy debilitado.
 
João de Barros, Asia, Dos feitos que os portugueses fizeram no descobrimento e conquista dos mares e terras do Oriente.

O S. Gabriel sob o comando de Sá chegou a Lisboa no final de julho ou início de agosto. Embora Paulo tenha podido viajar mais tarde com o irmão para Portugal, morreu em caminho e foi sepultado no mosteiro de São Francisco em Angra do Heroísmo.

Cópia do diário ou roteiro de João de Sá

Diário da viagem à Índia

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João de Sá é um dos pretensos autores do anónimo Roteiro da primeira viagem de Vasco da Gama à Índia (sendo o outro Álvaro Velho ).[2] Esta obra incompleta, sobrevive num único exemplar manuscrito, preservado na Biblioteca Pública Municipal do Porto e foi publicada pela primeira vez no Porto em 1838 por Diogo Kopke e António da Costa Paiva.[2] Em 1945, o historiador Franz Hümmerich identificou o autor deste manuscrito como sendo Álvaro Velho que passou oito anos na Guiné e forneceu informações sobre a região da Gâmbia a Valentim Fernandes. No entanto, estudos mais recentes de Carmen Radulet expuseram fragilidades nessa teoria e atribuíram o diário com mais certeza ao escrivão João de Sá.[2]

Outras viagens

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João de Sá regressou à Índia como escrivão na Armada de Pedro Álvares Cabral.[3] E poderá ser o autor da Relação do Piloto Anónimo, publicada, em italiano em 1507 por Fracanzano da Montalboddo em Paesi Novamente Retrovati et Novo Mondo de Alberico Vesputio Florentino Intitulato.[4] Pouco antes de fevreiro de 1511 foi nomeado recebedor do tesoureiro da especiarias da casa da Índia[5] e em julho do mesmo ano tesoureiro das especiarias da Casa da Índia[1][6] Tal como Vasco da Gama, João de Sá, foi intimamente associado à família Almeida, porque por volta do fim de 1511, após o seu regresso da Índia, foi para Safim (Marrocos) ao serviço do bispo de Coimbra, D. Jorge de Almeida, 2.º Conde de Arganil. Lá, depois duma "entrada que fez em Almedina, onde matou e cativou muitos mouros na companhia de D. Pedro de Almeida fidalgo da Casa do Rei" foi nomeado cavaleiro da Casa Real por Nuno Fernandes de Ataíde, do conselho do Rei, cunhado de Vasco da Gama, capitão e governador da cidade de Safim em 30 de janeiro de 1512.[7][nota 1] Em 1514, mandou construir uma casa em Lisboa no Rossio do Chão da Feira em Alfama.[8] Sabemos que em 1517 ele era sempre tesoureiro da Casa da Índia mas deste vez na fortaleza de Santa Cruz do Cabo de Gué em Agadir. Por volta de 1518, sua filha Guiomar d'Eça casou-se com Lopo Vaz de Sampaio que virá a ser governador da Índia poucos anos depois.[9] O último documento do Arquivo Nacional da Torre do Tombo que se refere com certeza à João de Sá data de 1529 sempre no seu cargo de tesoureiro, por isso ainda estava vivo nos finais de 1529. Existe bem outro documento de 1532, referente a um João de Sá, mas não é claro e poderá tratar-se eventualmente dum homónimo.[10]

  1. Dom Manuell etc. Aquamtos esta nosa carta virem fazemos saber que por parte de Joham de Saa criado do bispo de Coimbra nos foy apresemtado huu aluara de Nuno Fernandes dataide do noso conselho e capitam e governador da nosa cidade de Çafym per que certefica que ho fez cavaleiro por seus mercementos em buúa emtrada que fez a Almedina homde foy ate as portas da dita cidade e pelejou com os mouros e matou e catjvoú mujtos deles e no dito feito o dito Joham de Saa o fez asy bem de sua pesoa na companhia de dom Pedro dAlmejda fidalgo de nosa casa com que llaa foy que mercee ser cavaleiro pedimdonos por merce que houvesemos por bem e mandasemos que lhe fosem guardados os priujlegios e liberdades que them os cavaleiros da qual cousa por lhe niso fazermos mercé nos praz, porem mandamos a todollos corregedores, juizes e justiças de nosos Regnnos a que esta carta for mostrada etc. (em forma pelló estillo das outras desta sostamcia) dada em Lixboa a xxx dias de Janeiro Dainyam Diaz a fez anno de mjll e bexij. Chanceleria de D. Manuel, liv 7º, fl10. Transcricão em A. Braancamp Freire, Arquivo Histórico Portuguez, voI. II, Lisboa, 1904
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A Wikisource contém fontes primárias relacionadas com João de Sá
"São Gabriel", "São Rafael" e "Bérrio" c. de 1558

Referências

  1. a b Lopes de Castanheda, Fernão. Lello & Irmão, ed. História da Conquista da India pelos Portugueses. Porto: [s.n.] p. 44-45. "...ali se assentou êj fossem coele doze pessoas .s. Diogo diz seu scriuão & Fernão martinz ho lingoa, & ho seu veador, & Ioão de saa que despois foi tesoureyro da casa da India, & hü marinheiro chamado Gõçalo pirez que fora da sua criação, & hü Aluaro velho, & Aluaro de Braga que despois foy escriuão dalfandega do Porto, & assi outros a que não soube os nomes, que coele erão treze", Livro I, Cap. XVI 
  2. a b c d Radulet, Carmen (20 de abril de 1994). Acerda da autoria do "Diário da navegação de Vasco da Gama" (1497–1499). II Simpósio de História Marítima. Lisboa: Academia de Marinha. pp. 89–100. ISBN 972-781-015-2 
  3. a b Barros, João (1988). Imprensa Nacional-Casa da Moeda, ed. Asia, Dos feitos que os portugueses fizeram no descobrimento e conquista dos mares e terras do Oriente, Quarta edição revista e prefaciada por António Baião, conforme a edição princeps Coimbra Imprensa da Universidade, 1932. Lisboa: [s.n.] 
  4. archive.org (ed.). «Paesi Novamente Retrovati et Novo Mondo de Alberico Vesputio Florentino Intitulato». Consultado em 8 de dezembro de 2022 
  5. Arquivo Nacional da Torre do Tombo (ed.). «Alvará régio para João de Sá, recebedor do tesoureiro da especiaria, emprestar a Catarina Dias de Aguiar 150 quintais de pimental por três anos, para os pagar em dinheiro a 22 cruzados cada quintal ou dar-lhe a própria pimenta.». 26 de janeiro de 1511. Consultado em 5 de outubro de 2022 
  6. Arquivo Nacional da Torre do Tombo (ed.). «Alvará do rei D. Manuel I para que os contadores levem em conta a João de Sá, tesoureiro da especiaria, 207 porcelanas, um cofre dourado e uma colcha.». 27 de julho de 1511. Consultado em 5 de outubro de 2022 
  7. Torre do Tombo (ed.). «A João de Sá, criado do bispo de Coimbra, confirmação do alvará de cavaleiro passado por Nuno Fernandes de Ataíde, do Conselho do Rei, capitão e governador da cidade de Safim, por seu merecimento numa entrada que fez em Almedina, onde matou e cativou muitos mouros na companhia de D.Pedro de Almeida, fidalgo da Casa do rei.». 30 de janeiro de 1512. Consultado em 5 de outubro de 2022 
  8. Arquivo Nacional da Torre do Tombo (ed.). «A João de Sá, cavaleiro da Casa d'el-Rei, privilégio para que as casas a serem pelo mesmo construídas no alpendre do Rossio do chão da feira sejam escusas para sempre de se tornarem em aposentadoria.». 25 de abril de 1514. Consultado em 5 de outubro de 2022 
  9. Arquivo Nacional da Torre do Tombo (ed.). «A dona Guiomar, filha de D. João de Sá, mulher de Lopo Vaz de Sampaio, mercê de uma tença de 2000 coroas que seu pai nela trespassara, em seu casamento, por uma procuração que para isso fizera a duquesa, irmã d'el-rei, em Sousel, aos 4 de Setembro de 1517, pelo tabelião Lopo [Esteves] e por um seu assinado. Das quais 2.000 coroas apresentou D. Guiomar um alvará d'el-rei, dado em Torres Vedras, a 11 de Outubro de 1496 e escrito por Francisco de Matos, no qual dona Maria de Melo, mulher de D. João de Sá, solicitava a confirmação de um alvará de D. João II, escrito em Santarém, a 8 de Junho de 1487, por Vicente Carneiro, no qual se confirmava um outro de D. Afonso V, datado de Évora, 30 de Junho de 1479 e escrito por Vasco Saraiva, no qual despachava a dona Maria de Melo, mulher de D. João de Sá, para ajuda de seu casamento, 1.000 coroas de ouro das de sua ordenança. Jorge Fernandes a fez.». 28 de fevereiro de 1518. Consultado em 5 de outubro de 2022 
  10. data do dia 7 de outubro de 1529 o último documento com o nome de João de Sá Torre do Tombo (ed.). «Recibo do D. prior e freires do Convento de Tomar, de como receberam de João de Sá, tesoureiro da Especiaria da Casa da Índia todo o conteúdo incluso no dito recibo.». Consultado em 5 de outubro de 2022  outra documento de 1532 com o nome de: "Alvará do cardeal-infante D. Henrique para se dar a João de Sá 5 cruzados de mercê", não pode ser claramente atribuído ao mesmo João de Sá

Ligações externas

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Edições do diário

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  • Diogo Kopke e Antonio da Costa Paiva (eds. ), "Roteiro da viagem que em descobrimento da Índia pelo Cabo da Boa Esperança fez dom Vasco da Gama em 1497": Segundo um manuscrito da Bibliotheca publica portuense, Porto: Typographia Commercial Portuense, 1838 (primeira edição do manuscrito, em português) . Scan disponível na Biblioteca Brasiliana Mindlin
  • Ernest George Ravenstein (ed. ), Um diário da primeira viagem de Vasco da Gama, 1497-1499, Londres: Hakluyt Society, 1898 (primeira tradução inglesa). Digitalização disponível em Archive.org