Rede Tupi – Wikipédia, a enciclopédia livre
Rede Tupi | |
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Último logotipo da rede, de 1979 | |
Sede das Emissoras Associadas em São Paulo, edifício-sede da rede em foto de 2013 | |
Tipo | comercial |
País | Brasil |
Fundação | 18 de setembro de 1950 por Assis Chateaubriand |
Extinção | 18 de julho de 1980 |
Pertence a | Diários Associados |
Proprietário | Assis Chateaubriand (1950–1968) Condomínio Acionário (1968–1980) |
Cidade de origem | São Paulo, SP |
Sede | São Paulo, SP |
Estúdios | São Paulo, SP Rio de Janeiro, RJ |
Emissoras próprias | TV Tupi (São Paulo) TV Tupi (Rio de Janeiro) TV Itacolomi (Belo Horizonte) TV Piratini (Porto Alegre) TV Brasília (Brasília) TV Rádio Clube (Recife) TV Itapoan (Salvador) TV Ceará (Fortaleza) TV Goyá (Goiânia) TV Vitória (Vitória) TV Marajoara (Belém) TV Borborema (Campina Grande) TV Baré (Manaus) TV Paraná (Curitiba) TV Coroados (Londrina) |
Emissoras afiliadas | lista de emissoras |
Nome(s) anterior(es) | Rede de Emissoras Associadas |
Rede Tupi foi uma rede de televisão aberta brasileira. Sua matriz e geradora, a TV Tupi de São Paulo, inaugurada em 18 de setembro de 1950 pelo jornalista Assis Chateaubriand, foi a primeira emissora de TV a operar no país. Pertencia aos Diários Associados, que na época, detendo vários jornais e rádios, era um dos maiores conglomerados de mídia do Brasil. Outros canais viriam a ser inaugurados pelo grupo em algumas localidades do país, formando futuramente uma das primeiras redes nacionais.[1]
Durante a década de 1950, a Tupi era o canal de maior audiência do Brasil, sendo seguida em segundo lugar pela TV Record/TV Rio (Rede das Emissoras Unidas) e em terceiro lugar pelas emissoras independentes TV Paulista (na praça de São Paulo) ou pela TV Continental (na praça do Rio de Janeiro).[2] No início da década de 1960, o canal perderia a liderança de audiência em São Paulo para a TV Record, ocupando a vice-liderança e estando a frente da TV Excelsior, da TV Paulista e da TV Cultura, estas respectivamente em terceiro, quarto e quinto lugar. No final da década havia caído para a terceira posição, estando atrás da Record e da Excelsior, com a Globo (que havia comprado a TV Paulista) em quarto, a TV Bandeirantes em quinto e a TV Cultura em sexto.[3]
Já no Rio de Janeiro do início da década de 1960 a emissora havia perdido a liderança para a TV Rio (afiliada da Record), estando na frente da TV Continental, que ocupava o terceiro lugar. No final da década se manteve na vice-liderança, mas agora era superada pela TV Globo, que passou a ocupar o primeiro lugar, mas ficava a frente de TV Rio, TV Excelsior e TV Continental, terceiro, quarto e quinto lugar no Rio de Janeiro[4][5] No início da década de 1970, devido as extinções da TV Excelsior e da TV Continental (emissora independente carioca), o enfraquecimento da Record (causado por sucessivos incêndios) e o sucesso dos próprios programas populares passa novamente a ocupar o segundo lugar, sendo superada pela Rede Globo, em primeiro lugar desde 1969,[6] e seguida pela TV Record, em terceiro lugar e pela Bandeirantes em quarto lugar. Em 1972, havia 64 estações geradoras de televisão no país. A maioria se limitava a retransmitir a programação dos três grandes grupos geradores: Globo, Tupi e Record, com a Bandeirantes tendo presença apenas em São Paulo e Minas Gerais.[7][8]
Em 18 de julho de 1980, devido a problemas administrativos e financeiros, a Tupi saiu do ar com parte de suas concessões cassadas pelo Governo Federal. Os ativos da emissora foram adquiridos pelo Grupo Silvio Santos (proprietário do SBT), pelo Grupo Bloch (proprietário da Rede Manchete, que seria extinta em 1999 e teria as suas concessões adquiridas pela RedeTV!) e pelo Grupo Abril (que operaria a MTV Brasil de 1990 até 2013, substituindo-a pela Ideal TV e então vendendo a sua concessão em 2015 a Spring Comunicação, que fundaria em 2020 a Loading, mas teve a venda de concessão anulada em 2020 e posteriormente cassada em 2021, o que culminou no retorno da Ideal TV em seu lugar).[9][10]
História
[editar | editar código-fonte]Montagem das emissoras de São Paulo e Rio de Janeiro
[editar | editar código-fonte]O jornalista Assis Chateaubriand, diretor dos Diários e Emissoras Associados, maior conglomerado de mídia da América Latina,[11] interessou-se por televisão em julho de 1944 durante uma visita de negócios à sede da RCA Victor, em Nova York, da qual havia adquirido equipamentos para a montagem de suas emissoras de rádio. O presidente da RCA David Sarnoff preparou para Chateaubriand uma apresentação de investimentos da empresa em radiodifusão, incluindo alguns modelos de câmeras de televisão. Após ouvir explicações do engenheiro e vice-presidente da RCA Vladimir Zworykin sobre o veículo, que até então nunca havia visto, Chateaubriand rapidamente decidiu criar estações para a Rádio Tupi do Rio de Janeiro e a Rádio Tupi de São Paulo, embora tenha sido aconselhado por Sarnoff de que o Brasil não estava pronto para receber a televisão e que deveria preocupar-se em fortalecer sua rede de rádio.[12] Registrado o pedido de instalação do meio, necessitando esperar pelo fim da Segunda Guerra Mundial para comprar os equipamentos, Chateaubriand retornou ao Brasil e buscou por anunciantes e empresários, que financiaram suas futuras emissoras em troca de contratos de publicidade e arcaram com as despesas de sua montagem. Todos os equipamentos para as estações somaram um investimento de cinco milhões de dólares, equivalentes a 16 milhões de cruzeiros.[13]
Durante o período em que angariava apoio financeiro para a montagem das emissoras, Chateaubriand pediu que técnicos da RCA e da The Marconi Company fossem ao estado de São Paulo para analisar as condições topográficas de transmissão de sinal às cidades de Santos, Jundiaí e Campinas. Apesar de acreditarem que a irradiação seria possível apenas por retransmissoras ou cabos telefônicos, o jornalista insistiu na emissão direta da capital paulista. Em nova viagem aos Estados Unidos para encomendar a aparelhagem, em 1947, aceitou a proposta de adquirir uma versão atualizada de um transmissor, com maior potência, entregue junto ao restante dos equipamentos com atraso após o prazo estipulado pela RCA, ocorrido, segundo Chateaubriand em um artigo para O Jornal em 1963, por uma deflação dos limites financeiros do setor industrial nos bancos do país. Em janeiro de 1949, o engenheiro das rádios associadas Mário Alderighi e seu assistente Jorge Edo viajaram aos EUA e estiveram em Nova York e Burbank para acompanhar o funcionamento da NBC em forma de curso sobre operações de televisão, enquanto engenheiros da RCA foram ao Brasil em fevereiro para planejar a montagem em São Paulo. O contrato de cessão entre os Associados e a RCA, referente à aparelhagem para a capital paulista, foi firmado em maio de 1949, tendo chegado em janeiro de 1950; a do Rio de Janeiro, fechada com a General Electric, desembarcou em outubro de 1949.[14][15]
A Rádio Tupi do Rio de Janeiro solicitou ao Ministério da Viação e Obras Públicas autorização para operar os dois canais de televisão idealizados por Chateaubriand em janeiro de 1948, porém o ministro Clóvis Pestana, com base em um parecer da Comissão Técnica de Rádio, que considerou o capital social da rádio insuficiente, além de a compra dos equipamentos da RCA ainda não haver sido oficializada, liberou a instalação somente da emissora do Rio. Os Associados então escolheram a Rádio Difusora de São Paulo para ficar responsável pela outorga na cidade, concedida em maio de 1949.[16] Dias após a Rádio Tupi oficializar o pedido, os Associados iniciaram a divulgação de notícias sobre a implantação da televisão no Brasil em seus jornais e revistas,[17] enquanto eram realizados outros esforços de implantação do novo veículo, como o do radialista César Ladeira e sua Rádio Televisão do Brasil S/A, a primeira a receber do governo uma outorga para difundir som e imagem,[18] que não chegou a funcionar devido a impasses em seu financiamento.[19]
Primeiros passos
[editar | editar código-fonte]Depois de poucos meses de treinamento, alguns radialistas escolhidos por Assis Chateaubriand, o Chatô, lançaram-se à aventura de fazer TV. Os estúdios eram pequenos, o equipamento precário, mas o nascimento da TV Tupi foi solene. Chateaubriand presidiu a cerimônia que contou com a participação de um cantor mexicano, Frei José Mojica, que entoou "A canção da TV", hino composto pelo poeta Guilherme de Almeida, que contou também com a atriz Lolita Rodrigues, especialmente para a ocasião. Um balé de Lia Marques e declamação da poetisa Rosalina Coelho, nomeada madrinha do "moderno equipamento" fizeram parte do show. A jovem atriz Yara Lins foi convocada especialmente para dizer o prefixo da emissora — PRF-3 — e o de uma série de rádios que transmitiam em cadeia o acontecimento. A seguir entrou a programação na tela dos cinco aparelhos instalados no saguão do prédio dos Diários Associados.
Há muitas histórias a respeito desse dia. Uma delas é que, empolgado, Chateaubriand com problemas na vida pessoal, teria quebrado uma garrafa de champanhe numa das duas câmeras RCA, fazendo com que a TV no Brasil entrasse em cena com apenas metade de sua capacidade, isto é: com apenas uma câmera. Outra é que, acabada a inauguração, a equipe se deu conta de que não havia o que colocar no ar no dia seguinte, pois ninguém havia pensado nisso.
O então radialista Cassiano Gabus Mendes que, aos 23 anos, assumiu a direção artística da Tupi, não podia ouvir essas histórias, desmentia quantas vezes fosse preciso. "É tudo invenção do Lima Duarte. Como ele é muito engraçado, as pessoas acabam se convencendo", dizia ele pouco antes de morrer, em 1993. "Chateaubriand era um homem esclarecido, não ia danificar equipamento e tínhamos programação para as três semanas seguintes".
Quando a TV Cultura, canal 2, foi lançada pelos Diários Associados, suas imagens interferiam no canal 3, onde a TV Tupi era sintonizada e vice-versa. Por essa razão, em 1960, a PRF-3 TV Tupi de São Paulo passou a ocupar o canal de número 4, onde ficaria até o fechamento. Isso se explica assim: os canais 2 e 3 são "adjacentes", ou seja, vizinhos, onde termina a frequência de um, ou "espaço" deste, começa a frequência ou espaço do outro. Por essa razão, há a interferência mútua; assim, um interfere no outro. Já entre canais 4 e 5, há um "espaço" de 4 megahertz (os canais do padrão da nossa TV (PAL-M) ocupa um "espaço" de 6 megahertz cada um) desta maneira, pois os canais 4 e 5 não se interferem. Nos primórdios da TV, estava previsto o canal 1, porém antes da sua popularização, os radioamadores ocuparam o "espaço" do canal 1, então para um melhor aproveitamento da faixa 1 ou seja dos canais 1 ao 6, foi feito um arranjo, para um melhor aproveitamento destes canais, sem que ninguém sofresse com interferências.
Pioneirismo
[editar | editar código-fonte]Acostumados à improvisação e rapidez do rádio, os pioneiros não tiveram problemas em se adaptar ao moderno veículo e aprenderam muito: ator virava sonoplasta, autor dirigia, diretor entrava em cena. A TV Tupi, dos primeiros anos, era uma verdadeira escola. Dois dias depois da primeira emissão, em 20 de setembro de 1950, estreou o primeiro programa humorístico, chamado Rancho Alegre com Mazzaropi. Aos poucos, outros programas ganharam forma: o primeiro telejornal, a primeira telenovela. Nos primeiros tempos, os atores, acostumados ao rádio, gritavam em cena, assustando os telespectadores.
O programa TV de Vanguarda revelou a primeira geração de atores, atrizes e diretores. Foram apresentadas peças, como Hamlet, de Shakespeare, e Crime e Castigo, de Dostoiévski. Alguns programas dos primeiros tempos da TV Tupi tornaram-se campeões de audiência e permanência no ar: Alô Doçura, Sítio do Picapau Amarelo, O Céu é o Limite, comandado por J. Silvestre, e o Clube dos Artistas (que existiu de 1952 a 1980) e o famoso telejornal Repórter Esso (que ficou dezoito anos no ar).
A telenovela foi uma invenção da TV Tupi, que as exibia em capítulo. Foi em 1951, na novela "Sua vida me pertence", que Vida Alves deixou-se beijar pelo galã Walter Forster.
No jornalismo, a emissora repetiu na tela, o sucesso do Repórter Esso, que marcou época no rádio brasileiro a partir de 1941. Os locutores Heron Domingues e Gontijo Teodoro entravam no ar com as últimas noticias nacionais e internacionais ao som de um dos mais famosos prefixos musicais da história do rádio e televisão brasileiros.
Se durante a primeira década de sua existência a Tupi foi líder absoluta, nos anos 1960, as emissoras concorrentes aprimoraram sua programação para lutar pela audiência. Em 1968, a novela Beto Rockfeller, de Bráulio Pedroso, revoluciona a linguagem da televisão. A partir da figura de um anti-herói, surge um novo estilo de interpretação, mais natural. A TV Tupi revela mais uma geração de talentos.
Também na programação infantil a TV Tupi se destacou com o Clube do Capitão AZA, criado em 1966, onde clássicos do desenho animado como Speed Racer, e séries como Ultraman e Ultraseven foram apresentadas.
A primeira transmissão ao vivo
[editar | editar código-fonte]A TV Tupi de São Paulo estava decidida a transmitir ao vivo a inauguração de Brasília em 21 de abril de 1960 para São Paulo. Nesta época ainda não havia satélites. A criatividade respondeu ao desafio: colocaram três aviões voando em círculos, dois da FAB e um da VASP. As aeronaves estavam distribuídas uniformemente na rota entre Brasília e São Paulo, de modo que uma tinha alcance para transmitir as ondas para outra.
Assim, a imagem era captada em Brasília e transmitida para o primeiro avião, que retransmitia para o segundo, para o terceiro, o qual, por fim, retransmitia para a antena principal da TV Tupi em São Paulo, que a retransmitia para a região de alcance.
No final da década de 60, graças aos sistemas de transmissão por micro-ondas, as telecomunicações foram revolucionadas. Isso possibilitava transmissões ao vivo pelas emissoras de TV para todo o país. Um evento histórico transmitido ao vivo pela TV Tupi foi a inauguração oficial em julho de 1970 do sistema de Discagem Direta à Distância (DDD) na cidade de São Paulo, feito em conjunto com a Companhia Telefônica Brasileira e a Embratel.[20]
A formação da rede e a crise
[editar | editar código-fonte]A longa crise dos Diários Associados já havia começado muito antes da morte de Assis Chateaubriand, em 4 de abril de 1968. Abalada por problemas financeiros, mal administrada e sem investimentos, a Tupi perde qualidade e audiência.
Na metade da década de 1960, com a chegada do videotape e a expansão das transmissões em micro-ondas, foi formada a Rede de Emissoras Associadas, com as emissoras pertencentes ao conglomerado e parceiras, como a TV Difusora de São Luís, que juntas transmitiram novelas e a Copa do Mundo de 1970.
Em 1972, a Rede Tupi de Televisão começa a ser formada. Houve várias divergências a respeito de qual canal seria a "cabeça da rede": o canal 4 paulistano ou o canal 6 carioca. Houve duas tentativas para que ambas comandassem a Rede Associada. Na primeira, a estação carioca comandaria as emissoras do Norte, Nordeste e Centro-Oeste, enquanto que a emissora de São Paulo controlaria os canais do Sul e Sudeste. Na segunda, a Tupi paulista ficaria responsável pela produção de telenovelas, e a Tupi do Rio se encarregaria pelos shows e programas de auditório. Mas as duas ideias não vingaram, e a rixa entre as diretorias das duas estações agravaram a situação da Tupi. O único ponto positivo nestas duas tentativas foi que a Tupi foi a primeira rede de TV da América Latina a possuir duas cabeças geradoras de programação. No ano de 1974, foi assinado o decreto que autoriza a TV Tupi a virar "Rede Tupi de TV", decreto que foi lido por Gontijo Teodoro na Rádio Tupi.
As emissoras concorrentes vão ocupando os espaços vazios deixados pela pioneira. Apesar de uma crise se abater, a emissora emplaca sucessos na década como "Mulheres de areia" (1973), "Meu Rico Português" (1975) e "A Viagem" (1975). No fim dos anos 1970, a situação piora. Os salários atrasam cada vez mais. Há dívidas astronômicas junto à Previdência Social. Proliferam muitos escândalos financeiros. Em agosto de 1977, "Éramos Seis", "Cinderela 77" e "Um sol maior" registravam os mais baixos índices de audiência da história do canal. Além da audiência, a publicidade também escapulia para as concorrentes, o caixa se esvaziava, os salários deixavam de ser pagos e a greve era questão de tempo. Em outubro de 1977, com três meses de salários atrasados, os funcionários iniciaram a primeira greve, mas ela é interrompida com o pagamento parcelado dos débitos.
O fim
[editar | editar código-fonte]Os constantes atrasos dos salários mantinham o clima tenso na pioneira. As perspectivas de pagamento dos atrasados eram cada vez mais remotas e as explicações dadas aos funcionários, cada vez mais inconsistentes. Para piorar ainda mais a situação, um incêndio no prédio da emissora em São Paulo, em outubro de 1978, tirou a Tupi do ar por alguns minutos e destruiu os novos equipamentos adquiridos pela emissora no mesmo ano, e que nem chegaram a entrar em funcionamento. Ainda em 1978, iniciou a construção de sua nova antena transmissora, que seria a maior torre de TV da América do Sul (essa torre seria concluída pelo SBT alguns anos depois). No ano seguinte, o elenco de "O Espantalho", de Ivani Ribeiro (exibida pela RecordTV em 1977), processou a Tupi por não pagar os direitos conexos aos atores que trabalharam na trama. Entre 1979 e 1980, nova greve. A crise chegou a Brasília. O então presidente da República, João Figueiredo, se dispôs a receber uma comissão de dirigentes dos sindicatos envolvidos.
A greve durou até o início de fevereiro de 1980, quando a emissora fechou seu departamento de dramaturgia e dispensou os 250 funcionários que trabalhavam nesse setor. Foram interrompidas as novelas "Drácula, Uma História de Amor", que só teve 4 capítulos exibidos, e "Como salvar meu casamento", a 20 episódios de seu desfecho. Além disso, outra trama, "Maria Nazaré", estava em fase de pré-produção e 32 cenas já estavam gravadas na época, mas não chegou a entrar no ar. Para substituir Drácula, uma História de Amor, foi colocada a reprise da novela Éramos Seis, e em substituição à Como Salvar Meu Casamento, foi colocada a reprise de A Viagem.
Em 2 de maio de 1980, às 16h21, a TV Tupi São Paulo parou de gerar programação e passou a retransmitir integralmente o que era gerado pela TV Tupi Rio de Janeiro devido à paralisação de cerca de dois terços dos 968 funcionários da emissora paulista. A greve teve início após a emissão de cheques sem fundo para pagamento dos salários atrasados, constatada no mesmo dia.[21] Dois meses depois, em 14 de julho, a estação paulistana foi retirada do ar pela última vez após 29 anos e dez meses, devido a uma decisão da diretoria.[22]
No dia 16 de julho, a Tupi teve 7 de suas 10 concessões declaradas peremptas (termo jurídico que significa "não-renovável") pelo Governo Federal. A decisão foi publicada no Diário Oficial no dia seguinte; ainda no dia 17, os funcionários da Tupi do Rio iniciaram uma vigília que durou 18 horas, comandada pelo apresentador Jorge Perlingeiro, com o objetivo de impedir que o canal fosse fechado. Várias personalidades, como o cantor Agnaldo Timóteo e o humorista Costinha, deram apoio aos funcionários.
Naquele dia, saíram do ar pela última vez a TV Itacolomi de Belo Horizonte, a TV Piratini de Porto Alegre, a TV Ceará de Fortaleza, e a TV Rádio Clube de Recife. A TV Marajoara de Belém havia encerrado suas transmissões pela última vez no dia anterior, e não chegou a retomar suas operações antes dos transmissores serem lacrados pelo DENTEL, às 9h20 da manhã. Em São Paulo, às 11h da manhã, três engenheiros do DENTEL e quatro agentes da Polícia Federal chegaram à sede da TV Tupi São Paulo para lacrar os transmissores, que já estavam fora de operação há quatro dias.[23]
Pouco antes do meio-dia de 18 de julho, quatro funcionários do Departamento Nacional de Telecomunicações chegaram ao Morro do Sumaré e se dirigiram à central de transmissão da TV Tupi Rio de Janeiro, a última da rede a permanecer no ar, para lacrar os transmissores. Minutos antes, nos instantes finais do programa Aqui e Agora, foram exibidas imagens de uma missa do Papa João Paulo II realizada no início daquele mês no Aterro do Flamengo, simultaneamente à locução, feita pelo ator Cévio Cordeiro, de uma mensagem dirigida ao presidente Figueiredo pedindo para que a estação não fosse fechada. Durante o vídeo e a mensagem citados, os funcionários puseram na tela os dizeres "Até breve, telespectadores amigos". A última imagem transmitida pela emissora carioca antes de sair do ar, às 12h33, foi a do logotipo da Rede Tupi nas cores da bandeira nacional.[24]
Desta feita, senhor presidente, só vossa excelência poderá nos salvar. Receba os agradecimentos dos empregados da Rede Tupi, em seu nome, e em nome de sua esposa, de seus filhos, cujo único desejo, única reivindicação, é trabalhar. Deixe-nos trabalhar, Senhor presidente. Senhor presidente João Baptista de Oliveira Figueiredo. Só isso que desejamos. Vossa excelência, é o único capaz de realizar esse milagre. Nem João de Deus poderia fazê-lo. Só o João de Brasília. Deus que te abençoe, presidente.— Cérvio Cordeiro
Recuperação judicial
[editar | editar código-fonte]Após o fechamento da Rede Tupi, o governo federal passou o ativo da emissora para empresários. Abriu-se concorrência em 23 de julho de 1980 e entraram no páreo o Grupo Abril (que futuramente operaria a MTV Brasil), o Grupo Silvio Santos (SBT), o Grupo Bloch (Rede Manchete), além de outras companhias menores. Como na época, a Revista Veja estava incomodando o governo com críticas, eles decidiram passar em 23 de abril de 1981, uma nova licença do canal 4 paulistano para o Grupo Silvio Santos, o canal 6 carioca para o Grupo Bloch e a partir de 1985, os outros ativos da emissora (prédio, equipamentos e outro canal não utilizado) para os Grupos Silvio Santos e Abril.
O prédio da emissora serviu como sede da Abril Radiodifusão, que por 23 anos, gerou o canal MTV Brasil, atualmente em televisão por assinatura diretamente pela Viacom, sob o nome MTV. Apesar de não conseguir a licença do canal 4 em VHF, necessário para realizar o projeto de criação de sua rede de televisão, em janeiro de 1987, o Grupo Abril conseguiu o seu canal em UHF. Após conseguir seu canal próprio, e com a maturidade da MTV Brasil no mercado, a Abril Radiodifusão efetuou em 2003, o pedido de várias licenças de retransmissão de TV em várias localidades do país. Após uma rápida crise no grupo e a enorme queda de audiência, não apenas para concorrentes diretos, mas também para a internet, a MTV Brasil fechou em 30 de setembro de 2013, dando lugar a Ideal TV que, anteriormente, foi um canal por assinatura, agora como emissora provisória, uma vez que a Abril não manifestava interesse em manter o canal. Em 18 de dezembro de 2013, o Grupo Abril anunciou a venda da Abril Radiodifusão, que transmite a Ideal TV, para o Grupo Spring de Comunicação, que edita a edição brasileira da revista Rolling Stone.[25][26] Os valores da transação não foram divulgados, mas segundo fontes ouvidas pelo jornal Folha de S. Paulo, a venda foi fechada em cerca de R$ 350 milhões e foi realizada pelo banco americano JP Morgan.[27][28] A venda foi aprovada pelo Ministério das Comunicações e pelo CADE.[29] E no ano seguinte, pelo presidente em exercício Michel Temer e Gilberto Kassab, então titular do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações.[30][31][32]
A Spring Comunicação, chegou a fundar em 2020 a Loading, no entanto a venda de concessão foi anulada em 2020. A quarta turma do Tribunal Regional Federal da 3ª região teria anulado em novembro de 2020, exatos um mês antes da estreia da Loading, a transferência das concessões dos canais de televisão pertencentes a Abril Radiodifusão S/A para a Spring Comunicação. Além disso, a União deve realizar uma nova oferta para as concessões da extinta MTV Brasil, tal qual o decreto do então presidente Michel Temer, assinado em outubro de 2016, teria perdido validade.[9] A emissora só conseguiu se manter no ar graças a uma liminar de pedido de revisão da condenação pedida pelo Ministério Público Federal (MPF), cedida pela justiça. Um novo julgamento pelo TRF-3 foi marcado para o dia 22 de julho.[33] o julgamento foi adiado para 19 de agosto, aonde definiu a cassação da emissora de forma imediata, sem forma de reverter.[10]
Os Diários Associados ganharam na Justiça, em 1998, ação indenizatória contra o Governo Federal, e terão de ser indenizados pela intervenção que resultou na perda de 5 dos 7 canais das Emissoras Associadas, que não enfrentavam dificuldades financeiras na época. Somente a TV Tupi de São Paulo e a TV Tupi do Rio estavam com salários atrasados. No caso do canal 6 carioca, boa parte de suas contas eram pagas pela Super Rádio Tupi do Rio, uma vez que a rádio e a TV faziam parte da mesma razão social (S/A Rádio Tupi). Na época, a lei previa que o governo federal teria de nomear um interventor para assumir a administração das empresas em dificuldades, afastando com isso os seus controladores, que a levaram a crise que estavam enfrentado, e somente em caso de falência, que não houve, é que caberia a decisão que foi tomada, o que não era o caso de TV Tupi de São Paulo, e nem da TV Tupi do Rio, pois seus patrimônios, imóveis, equipamentos, instalações, etc., cobriam as dívidas existentes. Após ganhar a indenização, os Diários Associados conseguiram a concessão do canal 9 de Recife e tiveram negociações para a compra da Rede Manchete.
Identidade visual
[editar | editar código-fonte]Em 1950 o primeiro logotipo da TV Tupi de São Paulo, adaptado da Rádio Tupi, apresentava um indígena com expressão sisuda mirando o horizonte enquanto segurava um arco. No ano seguinte o produtor Mário Fanucchi concebeu a figura de um índio tupiniquim utilizando um par de antenas como cocar, tendo sido o primeiro mascote da televisão brasileira. Ao longo dos anos 1950 e 1960 as integrantes da Rede de Emissoras Associadas, incluindo a TV Tupi do Rio de Janeiro, viriam a adotar indígenas com características regionais como marcas no vídeo e em anúncios nos jornais. Em 1970 começou a circular em periódicos uma marca que apresentava o nome TV Tupi acompanhado de São Paulo e Rio, representando a integração entre ambas estações na formação da rede.[34]
Em 31 de março de 1972, concomitantemente ao início das transmissões de televisão em cores no Brasil, a TV Tupi do Rio lançou nos jornais e revistas dos Diários Associados o edital de um concurso universitário para criar a nova marca da Rede Tupi. O projeto escolhido consistia em duas linhas entrelaçadas formando uma onda senoidal (em alusão ao movimento dos sinais eletromagnéticos de televisão que se observa em um osciloscópio) e três esferas nas cores vermelha, verde e azul, solicitadas no edital por serem a base da emissão colorida. O desenhista vencedor teria ganhado uma viagem a Paris patrocinada pela Air France para visitar as principais escolas de desenho industrial da França. Sua identidade é desconhecida, porém, segundo Elmo Francfort e Maurício Viel para o livro TV Tupi: do Tamanho do Brasil, fontes afirmam que ele seria Renato Lage, posteriormente conhecido pela produção de carros alegóricos nos desfiles do Carnaval do Rio de Janeiro. Além de desenhista da própria TV Tupi, Lage integrava o Grupo Interuniversirário Musical, criado pela emissora para realizar o Festival Universitário de Música Brasileira, cujos membros, junto a funcionários da estação, compuseram o júri que escolheu a logomarca.[35]
Em 1976 a TV Tupi de São Paulo lançou como nova marca um cata-vento verde cujo ponto central buscava simbolizar a geração de conteúdo para as emissoras da rede. Houve, no entanto, muita rejeição e a marca anterior voltou a ser utilizada no ano seguinte com modificações no formato das curvas senoidais. Para a criação de novas vinhetas a rede alugou o sistema de animação computadorizada Scanimate, desenvolvido pela Computer Image Corporation na cidade norte-americana de Denver.[36]
Em 1979 a direção da Rede Tupi, na figura de Walter Avancini, contratou Cyro Del Nero como diretor de arte e comunicação visual para renovar sua plástica. Minimalista e simplificada, a nova marca apresentava uma letra T estilizada e repartida em três partes para manter a base do padrão de cores adotado em 1972. No ano seguinte Del Nero criou uma variante da marca com a T vista dentro de linhas que formavam uma tela de televisão.[37]
Vinhetas
[editar | editar código-fonte]Ano | Vídeo |
---|---|
1975 | |
1979 | |
1980 |
Slogans
[editar | editar código-fonte]- 1950-1952: A primeira TV do Brasil. A Primeira da América Latina.
- 1956-1963: Seus 500, mais 500.
- 1971: Fique Na Sua Fique Na Tupi (Anúncios de programação no jornal)
- 1963-1972: Pioneira em Imagem-Som, Alcance e Côr. (em homenagem primeira transmissão experimental colorida)
- 1972: Sistema Tupicolor, vamos pôr mais côr na sua vida. (em homenagem a primeira transmissão colorida)
- 1974-1975: Rede Tupi - 22 Emissoras colorindo o céu do Brasil.
- 1975: Rede Tupi - A 1ª imagem da TV.
- 1975-1978: Rede Tupi de Televisão - do tamanho do Brasil.
- 1978-1980: Tupi, mais calor humano.
Emissoras
[editar | editar código-fonte]Referências
- ↑ Almanaque da Comunicação[ligação inativa]
- ↑ «Como se analisa a história da TV?». www.sampaonline.com.br. Consultado em 28 de novembro de 2022
- ↑ https://www.scielo.br/j/op/a/DfgtVzNdYCnTJSNKz9kjG7F/?lang=pt#
- ↑ ttps://www.scielo.br/j/op/a/DfgtVzNdYCnTJSNKz9kjG7F/?lang=pt#
- ↑ Felício ([email protected]), Rodrigo; TV, Memoria da (15 de dezembro de 2020). «EXCLUSIVO: Saiba quando aconteceu a 'virada' da Globo no Ibope! Veja os relatórios de quando a emissora se tornou líder de audiência, após 'sofrer' nas mãos da Record». memoriadatv.com.br. Consultado em 28 de novembro de 2022
- ↑ Brasil, CPDOC-Centro de Pesquisa e Documentação História Contemporânea do. «REDE GLOBO». CPDOC - Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil. Consultado em 28 de novembro de 2022
- ↑ Brasil, CPDOC-Centro de Pesquisa e Documentação História Contemporânea do. «TV TUPI». CPDOC - Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil. Consultado em 28 de novembro de 2022
- ↑ https://www.observatoriodaimprensa.com.br/tv-em-questao/a-historia-da-emissora-pioneira/
- ↑ a b «Justiça anulou concessão de canal que vai abrigar a TV Jovem Pan • Televisão • Teleguiado». Teleguiado. 13 de julho de 2021. Consultado em 13 de julho de 2021
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Bibliografia
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- RAMOS, José Mário Otiz. Televisão, publicidade e cultura de massa. Petrópolis: Vozes, 1995
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Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- «Acervo da Rede Tupi». no Banco de Conteúdos Culturais da Cinemateca Brasileira