Métrica (música) – Wikipédia, a enciclopédia livre

Métrica, em música, é a divisão de uma linha musical em compassos marcados por tempos fortes e fracos, representada na notação musical ocidental por um símbolo chamado de fórmula de compasso. Apropriadamente, métrica descreve o inteiro conceito de medição de unidades rítmicas, mas pode ser usado como um descritor específico de uma obra individual, conforme representado pela fórmula do compasso—"Esta música está num compasso 4/4" equivale a dizer que "Esta música possui métrica 4/4" ou "Esta música é em 4/4".

A métrica se distingue do ritmo, no sentido deste último ser identificado como padrões de duração, enquanto que a "métrica envolve nossa percepção inicial bem como a antecipação subsequente de uma série de batidas que extraímos da superfície rítmica da música à medida que ela se estende no tempo".[1]

Música amétrica inclui, entre muitas outras, o cantochão, certas peças do repertório para instrumento solo da Renascença europeia, algumas partituras gráficas que têm surgido desde os anos 1950, ou o repertório honkyoko para shakuhachi[2]

Métrica rítmica

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Na música tradicional existem diferentes fórmulas de compasso de uso geral.

A música ocidental foi influenciada pelo emprego de compassos complexos em alguns tipos de música tradicional, como a música do sudeste da Europa (música dos Bálcãs) como, por exemplo, as danças da Bulgária e o Leventikos macedônio com métrica 3+2+2+3+2. como exemplos podem ser citados Béla Bartók, Paul Desmond, saxofonista e compositor de jazz, na canção Take Five e outros compositores.

Batidas divididas em duas Batidas divididas em três
Duas batidas por compasso binário simples binário composto
Três batidas por compasso ternário simples ternário composto
Quatro batidas por compasso Quaternário simples Quaternário composto

Se cada batida num compasso é dividida em duas partes então sua métrica é simples, se for dividida em três, sua métrica é composta. Alguns consideram o compasso quaternário como uma dupla de compassos binários (1212), não aceitando qualquer divisão do compasso acima do ternário, como por exemplo o compasso quíntuplo que é considerado a junção do compasso binário com o ternário (12123) ou de um ternário com um binário (12312), conforme a acentuação na música. Entretanto, um compasso quíntuplo pode ser tratado e percebido como uma unidade de cinco especialmente nos tempos rápidos.

"Uma vez tendo sido estabelecida a métrica, nós, como ouvintes, a manteremos enquanto se mantiver uma evidência mínima desta organização.".[3] Os compassos binários—neles incluído os compassos quaternários (N.T.)— são, de longe, mais comuns do que os ternários.[4] A maior parte da música popular está em 4/4, embora frequentemente possa estar em 2/2 ou em tempo interrompido, como na bossa nova. Alguns estilos de rock são, com freqüência, marcados em 12/8 ou possam ser vistos como 4/4 com um forte swing. Do mesmo modo, um bom número de composições da música clássica anteriores ao século XX, tende se firmar nas métricas justas, 4/4, 3/4 e 6/8, embora variações dessas métricas também sejam encontradas como, por exemplo, 3/2 e 6/4. No século XX, os compositores passaram a utilizar métricas menos regulares, como 5/4 e 7/8.

Também se tornou uma prática comum dos compositores clássicos do século XX mudar frequentemente a métrica—o final de A Sagração da Primavera de Igor Stravinsky é um exemplo especialmente extremo desta prática—e o uso de ritmos assimétricos, onde cada batida tem uma duração diferente, se tornou mais comum. Tais métricas também incluem tanto o já discutido ritmo quíntuplo como construções mais complexas junto com linhas de tempo em 2+5+3/4, em que cada compasso tem uma unidade de 2 batidas, uma unidade de 5 batidas e uma unidade de 3 batidas com a tensão centrada no início de cada unidade. Métricas similares são utilizadas em diversas músicas folclóricas. Outras obras não têm métrica alguma (tempo livre), como a música composta no estilo Drone, ou têm ritmos tão complexos que obscurecem qualquer métrica, como no serialismo, ou, ainda, se baseiam em ritmo aditivo, como algumas músicas de Philip Glass).

A métrica é sempre combinada a um padrão rítmico para gerar um estilo particular. É o que acontece com músicas de dança, como a valsa ou o tango que têm padrões particulares para enfatizar as batidas, de com frequência tornam-se imediatamente reconhecíveis. Isto geralmente é feito para que a música coincida com os passos rápidos da dança e pode ser visto como um equivalente musical da prosódia. Algumas vezes um músico ou composição específicos são identificados com um determinado padrão de métrica, como, por exemplo, a chamada batida Bo Diddley. Alguns exemplos[5]:

Ritmo de marcha
Ritmo de polca
Ritmo de siciliana
Ritmo de valsa

Polimétrica ou polirritmo é o uso simultâneo, ou em alternância regular, de mais do que uma métrica. Entre os exemplos do uso desse recurso pode-se citar o Segundo Quarteto para Cordas de Béla Bartók. América do West Side Story de Leonard Bernstein utiliza compasso de 6/8 (binário composto) e 3/4 (ternário simples). Isto gera uma forte sensação de duas tensões seguidas por três tensões (mostradas em negrito) //I-like-to be-in-A//ME-RI-CA//.

Kashmir do quarteto britânico de hard-rock Led Zeppelin é um exemplo trazido do cânone do rock, no qual a percussão toca em 4/4 enquanto que os instrumentos melódicos tocam um riff em 3/4. O compositor Frank Zappa explica em Toads Of The Short Forest, do álbum Weasels Ripped My Flesh: "Neste exato momento, no palco, tínhamos um baterista A tocando em 7/8, um baterista B, tocando em 3/4, o baixo tocando em 3/4, o órgão tocando em 5/8, a pandeirola tocando em 3/4 e o sax contralto soprando no nariz dele." A banda de math metal, Meshuggah, usa ainda mais extensivamente polimetrias complexas. As suas canções são tipicamente construídas em 4/4, com a guitarra tocando em baixo riff e os padrões do baixo da bateria com métricas incomuns, tais como 11/8 e 23/16. Usualmente os riffs são obrigados a ser resolvidos depois de 4 ou 8 compassos, resultando num 'acessório' com uma métrica diferente do resto da seção.

Do ponto de vista da percepção, parece haver pouca, ou nenhuma, base para a polimetria uma vez que a pesquisa mostra que os ouvintes ou extraem dela um padrão composto que se ajusta à estrutura métrica, ou foca em uma linha de ritmo enquanto considera as demais como "ruído". Isto apóia a tese de que "a dicotomia imagem-fundo é comum a todas as percepções" (Boring 1942, p.253) e[1]

Estrutura métrica

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Estrutura métrica inclui, métrica, tempo e todos os aspectos rítmicos que produzem regularidade temporal ou estrutura contra o qual os detalhes de fundo são projetados.[6]

As unidades rítmicas[7] podem ser métricas, intramétricas, contramétricas ou extramétricas.

Os níveis métricos podem ser distinguidos. O nível da batida é o nível métrico no qual os pulsos são escutados como a unidade de tempo básicia da obra. Níveis mais rápidos são níveis divisórios e níveis mais lentos são níveis múltiplos[6]

O termo nível da métrica é um conceito espúrio, uma vez que a métrica surge em função de dois níveis de movimento, o mais rápido, que gera os pulsos e o mais lento que os organiza em grupos conceituais repetitivos.[8]

Hipermétrica é a métrica em larga escala (quando comparada com a métrica da superfície) criada por hipercompassos que consiste de hiperbatidas (Stein[9]). O termo foi cunhado por Cone[10] enquanto que London[1] afirma que não há distinção perceptual entre a métrica e a hipermétrica.

A modulação métrica é uma modulação de uma unidade métrica para outra.

Estrutura profunda

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C. S. Lee (1985), descreveu a métrica musical em termos de uma estrutura profunda em que, utilizando-se regras de reescrita, métricas diferentes acabam gerando ritmos superficiais diferentes. Por exemplo: a primeia frase de A Hard Day's Night, dos Beatles, sem a síncope pode ser gerada de sua métrica de 4/4:

    4/4                 4/4            4/4    /    \              /    \         /    \ 2/4      2/4        2/4      2/4   2/4      2/4  |      /    \       |        |     |          \  |   1/4      1/4    |        |     |           \  |  /   \    /   \   |        |     |  | 1/8 1/8  1/8 1/8  |        |     |  | |     |  |     |  |        |     |        It's been  a  hard     day's night (Middleton[11]). 

A métrica na canção

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Questões envolvendo a métrica em canções surgem devido à combinação da métrica musical com a métrica poética , especialmente quando o texto da canção está no formato padrão de poesia . Canções tradicionais e populares, caem todas numa faixa muito limitada de métricas, permitindo com razoável facilidade a intercambiabilidade. Por exemplo, os antigos hinários, via de regra, não incluíam a notação musical, mas apenas o texto. Isso possibilitava que o texto fosse cantado com qualquer melodia que tivesse a mesma métrica e que fosse conhecida pelos cantores, o que resultava na melodia escolhida para ser cantada variar de uma ocasião para outra.

Um caso que ilustra o uso deste princípio através dos diversos gêneros musicais é a interpretação do hino Amazing Grace, feita pelo conjunto The Blind Boys of Alabama, que é cantado com a melodia tornada famosa pelo conjunto britânico The Animals com sua versão da canção folclórica A Casa do Sol Nascente ("The House Of The Rising Sun").

Fontes e notas

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Referências

  1. a b c London, Justin (2004). Hearing in Time: Psychological Aspects of Musical Meter. Oxford: Oxford University Press. ISBN 0-19-516081-9 (pg. 4-5)
  2. Karpinski, Gary S. (2000). Aural Skills Acquisition : The Development of Listening, Reading, and Performing Skills in College-Level Musicians. ISBN 0-19-511785-9.(pg. 19)
  3. Lester, Joel (1986). The Rhythms of Tonal Music. Carbondale: Southern Illinois University Press. ISBN 0-8093-1282-4  (pg. 77)
  4. Krebs, Harald (2005). «Hypermeter and Hypermetric Irregularity in the Songs of Josephine Lang.». In: in Deborah Stein (ed.),. Engaging Music: Essays in Music Analysis. New York: Oxford University Press. ISBN 0-19-517010-5  (pg. 16)
  5. Scruton, Roger (1997). The Aesthetics of Music, pg.25, ex2.6. Oxford: Clarendon Press. ISBN 0-19-816638-9.
  6. a b Wittlich, Gary E. (ed.) (1975). Aspects of Twentieth-century Music. Englewood Cliffs, N.J.: Prentice-Hall 
  7. Unidade rítmica é uma duração padrão que ocupa um período de tempo equivalente a um ou mais pulsos, num nível métrico enfatizado. Pulso é uma série de estímulos idênticos, embora de periodicidade distinta, de curta duração, que são percebidos ao longo do tempo como pontos. (para mais explicações, ver os verbetes Unidade rítmica e Pulso em inglês) (NT)
  8. YESTON, Maury, The Stratification of Musical Rhythm, New Haven:Yale University Press, 1976.
  9. STEIN, Erwin, Form and Performance, New York:Knopf, 1962
  10. CONE,Edward T., Musical Form and Musical Performance, New York:W. W. Norton, 1968, ISBN 0-393-09767-6
  11. MIDDLETON, Richard, Studying popular Music, London:Open University Press, 1990, ISBN 0-335-15276-7, p.211.

Referências adicionais

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  • HONING, Henkjan, (2002) Structure and interpretation of rhythm and timing', Tijdschrift voor Muziektheorie. 7(3), 227-232.Original em formato PDF, em inglês
    • YESTON, Maury, The Stratification of Musical Rhythm, New Haven:Yale University Press, 1976