Marcos 7 – Wikipédia, a enciclopédia livre
Evangelho segundo Marcos |
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Marcos 7 é o sétimo capítulo do Evangelho de Marcos no Novo Testamento da Bíblia. Neste capítulo, Marcos explora um pouco mais a relação entre Jesus, os judeus e os gentios. Segundo algumas interpretações, Jesus rejeita a comida preparada de acordo com os preceitos do judaísmo (kosher) e depois cura dois gentios. O debate ainda continua sobre o quanto deste relato reflete os pontos de vista de Jesus e quanto é resultado do conflito entre os judeo-cristãos e gentios convertidos nos primeiros anos da Igreja.
Puro e impuro
[editar | editar código-fonte]Alguns fariseus vindos de Jerusalém para ver Jesus e vêem seus discípulos comendo sem lavar as mãos[a]. Eles perguntam por que o costume não estava sendo obedecido e Jesus responde com uma citação de Isaías (Isaías 29:13): «Vós, deixando o mandamento de Deus, observais a tradição dos homens!» (Marcos 7:8) Ele os admoesta por permitirem que um homem faça uma oferenda a Deus — dinheiro aos sacerdotes — e deixe de ajudar seus pais, uma violação clara do quinto mandamento[b].
Jesus pede então ao povo que ouça e explica que «Nada há fora do homem, que, nele entrando, possa contaminá-lo; pelo contrário as coisas que saem dele, são as que o contaminam» (Marcos 7:15). Posteriormente, seus discípulos demonstram não ter compreendido e Jesus explica-lhes que nada que se coma pode tornar um homem impuro e sim o que sai dele: «as fornicações, os furtos, os homicídios, os adultérios, as avarezas, as malícias, o dolo, a lascívia, a inveja, a blasfêmia, a soberba e a loucura» (Marcos 7:21–22). De acordo com Kilgallen "...em última instância o que está em jogo é o conhecimento da vontade divina: quem sabe mais o que Deus quer que os homens façam". Este ponto de vista deve ser levado em conta à luz da controvérsia da época, como exemplificada pelo Concílio de Jerusalém, sobre o quanto da Lei Mosaica deve um cristão obedecer. Marcos usa esta história para revelar sua opinião na direção paulina (menos judaico, portanto), o que fez com que muitos estudiosos se perguntassem o quanto de seu relato é de fato relativo ao que ensinou Jesus e o quanto ele esperava apenas conseguir converter os gentios. Se o autor é realmente Marcos, então este trecho seria uma indicação que seu grupo, o círculo interno de Pedro, poderia ter se decidido em favor da doutrina de Paulo.
Esta passagem (e não a explicação) aparece também no apócrifo Evangelho de Tomé 14[2].
Versículo 16
[editar | editar código-fonte]Marcos 7:16 ("Se alguém tem ouvidos para ouvir, ouça.") não aparece em todas as traduções da Bíblia para o português (como na Tradução do Novo Mundo[3]). Em algumas, aparece marcado por chaves (como a Tradução Brasileira da Bíblia, citada aqui) ou com um nota de rodapé. Trata-se de uma repetição de Marcos 4:23.
Curas
[editar | editar código-fonte]Marcos em seguida contrasta o conflito anterior de Jesus sobre a obediência da Lei com a cura de dois gentios. No relato, Jesus viaja por duas cidades no território onde hoje está o Líbano. Primeiro, Marcos conta a história de uma mulher de origem siro-fenícia que encontra Jesus na casa de um amigo em Tiro e implora que ele expulse um demônio de sua filha. Ele a pede para esperar dizendo «Deixa primeiro que se fartem os filhos, porque não é bom tomar o pão dos filhos e lançá-lo aos cachorrinhos» (Marcos 7:27). Neste caso, as "crianças" são os filhos de Israel e os "cachorrinhos", os gentios, uma metáfora encontrada em outras obras judaicas[4]. Ela respondeu que até mesmo os cães embaixo da mesa comem as migalhas das crianças, o que impressiona Jesus. Ele pede a ela que volte para casa para reencontrar sua filha já curada[c]. Esta passagem mostra que, segundo Marcos, a missão principal de Jesus era salvar em primeiro lugar os judeus e só então os gentios, mas reafirma que estes, tendo fé, poderão também ser salvos.
Jesus segue depois para a Decápole e encontra um aleijado que também é "surdo-mudo". Em Marcos 7:34, ele toca suas orelhas e sua língua com seu próprio cuspe e diz, em aramaico, "Ephphatha!" ("Abre-te"), curando-o. Neste milagre, ao contrário do anterior, Jesus utiliza uma técnica específica (o toque, o cuspe, a palavra) para realizar a cura. É possível que esta passagem tenha por objetivo mostrar a realização da profecia em Isaías 31:5–6.
A discussão com os fariseus sobre as lei dietárias e a passagem da mulher canaanita também aparecem em Mateus 15 (Mateus 15:1–28).
Ver também
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Notas
[editar | editar código-fonte]- ↑ Marcos explica para seus leitores o costume judaico de fazê-lo antes do jantar, o que indica que esperava gentios lendo seu texto.
- ↑ Não existem em outras fontes indícios de que isto de fato ocorresse na época, embora "...alguns textos rabínicos judaicos sugiram que votos podem ser quebrados nestas circunstâncias"[1].
- ↑ Esta é uma das poucas vezes — a única em Marcos — que Jesus realiza um milagre a distância.
Referências
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Brown, Raymond E. An Introduction to the New Testament Doubleday 1997 ISBN 0-385-24767-2
- Brown, Raymond E. et al. The New Jerome Biblical Commentary Prentice Hall 1990 ISBN 0-13-614934-0
- Kilgallen, John J. A Brief Commentary on the Gospel of Mark Paulist Press 1989 ISBN 0-8091-3059-9
- Miller, Robert J. Editor The Complete Gospels Polebridge Press 1994 ISBN 0-06-065587-9
Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- «Marcos 7 em diversas versões da Bíblia». Bíblia Online