Organização não governamental – Wikipédia, a enciclopédia livre
As Organizações não Governamentais (ONGs) são organizações sem fins lucrativos, constituídas formalmente e autonomamente, caracterizadas por ações de solidariedade no campo das políticas públicas e pelo legítimo exercício de pressões políticas em proveito de populações excluídas das condições da cidadania.[1] Sua ascensão histórica está ligada à crise fiscal do Estado e ao desenvolvimento da sociedade civil no sentido de uma cidadania ativa. Porém, seu conceito não é pacífico na doutrina, existindo muitas divergências. Fazem parte do chamado setor terciário, o setor de serviços e comércio. No entanto, algumas teses o definem como parte do setor quinário, o setor sem fins lucrativos.[2]
Todavia, isso requer, ainda, um estudo político e sociológico mais profundo, principalmente no que diz respeito à regulamentação e representatividade de instituições políticas (partidos, agremiações) e sociais (clubes e agremiações sociais), e também às suas responsabilidades atuais perante a lei e as determinações constitucionais.[carece de fontes] Essas organizações podem complementar o trabalho do Estado, podendo receber financiamentos e doações dele, assim como de entidades privadas, para tal fim. Atualmente, estudiosos têm defendido o uso da terminologia "organizações da sociedade civil" para designar tais instituições.
É importante ressaltar que, no Brasil, o termo "ONG" não tem valor jurídico, sendo que a qualificação de OSCIP (ou as antigas "entidades de utilidade pública") é o reconhecimento oficial e legal mais próximo do que se entende por ONG.[3][4]
No Brasil, três figuras jurídicas correspondentes no novo Código Civil Brasileiro compõem o terceiro setor: associações, fundações e organizações religiosas (que foram, recentemente, consideradas como uma terceira categoria). Elas também cumprem a função de combater as reminiscências do totalitarismo.[5]
Entidades como o ActivistFacts dedicam-se a rastrear fontes de financiamento de ONGs, investigar suas agendas e, divulgá-las para o público.[6]
No Brasil
[editar | editar código-fonte]Esses espaços organizacionais do Terceiro setor (ou do quinto setor) situados entre a esfera pública e a privada, identificados por alguns autores como públicos não estatais, cumprem papel relevante para a sociedade. Na verdade, é preciso constatar que o surgimento dessas organizações sem fins lucrativos, que têm como objetivo o desenvolvimento de atividades de interesse público, deu-se pelo motivo da não eficiência por parte do poder público em atender as necessidades da sociedade. Há de se ressaltar que esses espaços organizacionais constituem importantes alternativas de sistematizar a sociedade como um todo, promovendo ações sociais, culturais, assistenciais etc. Betinho define as organizações não governamentais da seguinte forma:
“ | Uma ONG define-se por sua vocação política, por sua positividade política: uma entidade sem fins de lucro cujo objetivo fundamental é desenvolver uma sociedade democrática, isto é, uma sociedade fundada nos valores da democracia – liberdade, igualdade, diversidade, participação e solidariedade. (...) As ONGs são comitês da cidadania e surgiram para ajudar a construir a sociedade democrática com que todos sonham.[carece de fontes] | ” |
Quando operam com recursos públicos, estão sujeitas ao controle externo da administração pública, exercido pelo Poder Legislativo, com o auxílio do Tribunal de Contas, e com fiscalização regular feita pelo Ministério Público. As Organizações Sociais e Organizações da sociedade civil de interesse público devem cumprir um contrato com exigências governamentais para continuarem recebendo financiamento público.[1]
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, em 2005 estavam registradas 338 mil fundações privadas e associações sem fins lucrativos, que empregavam 1,7 milhão de pessoas em todo o país, com salários médios mensais de 1 094,44 reais. O tempo médio de existência dessas instituições era de 12,3 anos e a Região sudeste do Brasil abrigava 42,4% delas. Essas instituições são, em geral, de pequeno porte, e 79,5% (268,9 mil) delas não possuem sequer um empregado formalizado. A grande maioria não possui espaço físico para realizar as obras que promete.[7]
Anualmente, o Instituto Doar, O Mundo Que Queremos e Rede Filantropia, em parceria com a Fundação Getúlio Vargas, premia as melhores ONGs do Brasil.[8] Em fevereiro de 2020, o jornal O Imparcial listou várias ONGs para se tornar voluntário.[9]
Áreas de atuação
[editar | editar código-fonte]Em sua grande maioria, as ONGs tentam suprir as demandas da população em áreas de competência legal do Estado mas em que este não consegue atuar de forma eficiente. Segundo a Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais (ABONG), em 1998, as áreas de atuação das ONGs entrevistadas eram:[1]
ÁREA TEMÁTICA | N.º de ONGs | % | Ref |
1. Educação e/ou Profissionalização | 121 | 65,76 | [1] |
2. Saúde/DST-Aids | 73 | 39,67 | [1] |
3. Criança e/ou Adolescente | 89 | 48,37 | [1] |
4. Agrária/Agrícola | 47 | 25,54 | [1] |
5. Ambiental/Ecológica | 63 | 34,27 | [1] |
6. Desenvolvimento Regional/Local | 38 | 20,65 | [1] |
7. Organização Popular/Participação Popular | 12 | 60,87 | [1] |
8. Direitos Humanos | 87 | 47,28 | [1] |
9. Povos Indígenas | 13 | 7,07 | [1] |
10. Racismo/Negros | 24 | 13,04 | [1] |
11. Relação de Gênero/Mulher | 104 | 56,52 | [1] |
12. Arte e Cultura | 45 | 24,46 | [1] |
13. Trabalho e Renda | 71 | 38,59 | [1] |
14. Comunicação | 44 | 23,91 | [1] |
15. Questões Urbanas | 52 | 28,26 | [1] |
16. Justiça e Segurança Pública | 28 | 15,22 | [1] |
17. Direitos do Consumidor | 1 | 0,54 | [1] |
18. Políticas Públicas | 13 | 7,07 | [1] |
19. Relações Internacionais | 3 | 1,63 | [1] |
20. Desenvolvimento Institucional | 2 | 1,09 | [1] |
21. Cidadania/Democracia | 5 | 2,72 | [1] |
22. Tecnologia | 3 | 1,63 | [1] |
23. Segurança Alimentar | 3 | 1,63 | [1] |
24. Migrantes | 3 | 1,63 | [1] |
25. População de Rua | 3 | 1,63 | [1] |
26. Ecumenismo | 4 | 2,17 | [1] |
ONGs e mídia
[editar | editar código-fonte]As ONGs desempenham um papel crescente na cobertura de notícias. Conforme os orçamentos das redações jornalísticas encolhem, as organizações não governamentais moldam as notícias, tanto indireta quanto diretamente.[10][11][12] Esse relacionamento beneficia as ONGs, ampliando sua presença na grande imprensa, promovendo conscientização e transmitindo sua causa.[13][14]
Pesquisas recentes examinaram os processos pelos quais as ONGs solicitam a cobertura de notícias. Em Getting into living rooms: NGO media relations work as strategic practice [Entrando nas salas de estar: trabalho de assessoria de comunicação no terceiro setor como prática estratégica, em tradução livre], Ruth Moon destaca duas estratégias das ONGs para alcançar seus objetivos: complacência e barganha''.[15]
Segundo Moon, a complacência é uma estratégia ativa em que uma organização escolhe aderir a alguns valores notícia (como proximidade, atualidade e proeminência). Como exemplos, a autora cita a construção de boas relações com jornalistas de modo a se tornar uma fonte confiável, a publicação de pesquisas sobre temas relevantes para a ONG, a associação com celebridades e a promoção de eventos.
Já a barganha é “uma forma específica de compromisso em que uma organização tenta convencer uma parte externa a atender algumas de suas demandas ou expectativas”.[15] Na pesquisa de Moon, a barganha ficou mais evidente na promoção de viagens estrategicamente organizadas. Segundo a autora, nessas situações, os repórteres ainda têm algo que a ONG quer - uma voz confiável para aumentar a conscientização sobre uma questão ou alavancar o perfil da organização - e a liberdade de produzir conteúdo para esse efeito ou não, mas a equipe da ONG tem maior poder de orientar a cobertura jornalística por meio de seleções de fontes e locais.
Ver também
[editar | editar código-fonte]Fontes
[editar | editar código-fonte]- As Fundações Privadas e Associações sem Fins Lucrativos no Brasil 2002 - Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, Estudos e Pesquisas Informação Econômica - número 4, 2.ª edição, Rio de Janeiro, 2004
Referências
- ↑ a b c d e f g h i j k l m n o p q r s t u v w x y z aa ab ac Estudos legislativos elaborados pela Consultoria Legislativa do Senado Federal - senado.gov.br - pdf
- ↑ Hatt, Paul, and Foote, Nelson (1953). 'On the expansion of the tertiary, quaternary, and quinary sectors,' American Economic Review, May.
- ↑ SEBRAE. O que é Organização da Sociedade Civil de Interesse Público - OSCIP. 2017. link.
- ↑ Leite, M. A. S. (2003). O terceiro setor e as organizações da sociedade civil de interesse público: OSCIPs. Assembléia Legislativa do Estado de Minas Gerais, 2003. link.
- ↑ EU slams NGOs bill: 'Reminiscent of totalitarian regimes'
- ↑ «Activistfacts». (em inglês). Consultado em 28 de dezembro de 2019
- ↑ - IBGE
- ↑ «Prêmio 100 melhores ONGs do Brasil anuncia os vencedores de 2019». Época Negócios. Rede Globo. Consultado em 19 de abril de 2020. Cópia arquivada em 9 de janeiro de 2020
- ↑ «Ongs: onde se inscrever e o que fazer para se tornar voluntário?». O Imparcial. 1 de fevereiro de 2020. Consultado em 6 de fevereiro de 2020
- ↑ Grayson, L (2014). The role of non-government organisations (NGOs) in practising editorial photography in a globalised media environment. Journalism Practice 8(5): 632–645.
- ↑ Powers, M (2015). Contemporary NGO-journalist relations: Reviewing and evaluating an emergent area of research. Sociology Compass 9(6): 427–437.
- ↑ Powers, M (2016). The new boots on the ground: NGOs in the changing landscape of international news. Journalism 17(4): 401–416.
- ↑ Thrall, AT, Stecula, D and Sweet, D (2014). May we have your attention please? Human-rightsNGOs and the problem of global communication. The International Journal of Press/Politics, 19(2): 135–159
- ↑ Jacobs, RN and Glass, DJ (2002). Media publicity and the voluntary sector: The case of nonprofit organizations in New York City. Voluntas: International Journal of Voluntary and Nonprofit Organizations 13(3): 235–252.
- ↑ a b Moon, R. (2018). Getting into living rooms: NGO media relations work as strategic practice. Journalism, 19(7), 1011-1026.
Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- ONG.PT - Plataforma de registo e de doação às ONGs Portuguesas.
- ABONG - Associação Brasileira de ONGs
- SobreONG - ONGs do mundo agrupadas por causa (SobreONG para iPhone)
- IPAD - Instituto Português de Apoio ao Desenvolvimento
- Diretório de Organizações do Desenvolvimento
- Como criar uma associação
- O que é uma ONG?
- Manual MAIS para o Terceiro Setor