Onogures – Wikipédia, a enciclopédia livre
Os onogures ou ogures (em grego: Ὀνόγουροι, Οὔρωγοι, Οὔγωροι; romaniz.: Onogouroi, Ourogoi, Ougoroi; "dez tribos", "tribos") eram cavaleiros nômades turcos que floresceram na estepe pôntico-cáspio e na região do Volga entre os séculos V e VII, e falavam o língua ogúrica.[1]
Etimologia
[editar | editar código-fonte]O etnônimo onogur é amplamente considerado como tendo derivado de On-Oğur, "dez ogures (tribos)".[2] Estudiosos modernos consideram que os termos turcos para tribo (oguz e ogur) derivam do turco *og/uq, que significa "parentesco ou ser aparentado".[3] Os termos inicialmente não eram os mesmos, pois oq/ogsiz significava "seta",[4] enquanto oğul significava "prole, criança, filho", oğuš/uğuš significada "tribo, clã", e o verbo oğša-/oqša significava "ser como, assemelhar-se".[4] O etnônimo húngaro é derivado de onogures.[5]
História
[editar | editar código-fonte]Os onogures foram uma das primeiras tribos turcas ogúricas que entraram nas estepes pônticas como resultado de migrações iniciadas no interior da Ásia.[6] O estudioso armênio do século X Moisés de Dascurã registrou, considerado o final do século IV, sobre certo Honagur, "um Huno[a] dos honques" que invadiu a Pérsia e que estava relacionada com os onogures que viviam perto da Transcaucásia e do Império Sassânida. Estudiosos também relacionam os quionitas a este relato.[7] De acordo com Prisco de Pânio, em 463 os representantes dos saragures (lit. "ogures brancos") de Hernaco, ogures e onogures vieram ao imperador em Constantinopla[8] e explicaram que haviam sido expulsos de sua terra natal pelos sabires, que tinham sido atacado pelos avares no interior da Ásia.[9][10] Este emaranhado de eventos indica que as tribos ogúricas estão relacionadas com os povos dinglingues e tieles.[11][12] Considera-se que pertenciam às tribos tieles mais ocidentais, que também incluíam os uigures-tocuzes oguzes e os oguzes, e foram inicialmente localizados na Sibéria Ocidental e no Cazaquistão.[13]
A origem dos cutrigures e utigures, que viviam nas proximidades dos onogures e búlgaros, e sua relação mútua, é considerada obscura.[14][15] Os estudiosos não têm certeza de como a união entre onogures e búlgaros se formou, imaginando-a como um longo processo no qual vários grupos diferentes se fundiram.[16] Durante esse tempo, os búlgaros podem ter representado uma grande confederação da qual os onogures formaram uma das tribos principais,[17] juntamente com os remanescentes dos utigures e cutrigures, entre outros.[18] Jordanes na Gética (551) mencionou que os hunuguros (que se acredita serem os onogures) eram notáveis pelo comércio de pele de marta.[19][20][21] Na Idade Média, a pele de marta era usada como substituto do dinheiro cunhado.[22] Isso também indica que viviam perto de florestas e estavam em contato com os povos fino-úgrios.[7][23]
A tradução siríaca da História Eclesiástica do Pseudo-Zacarias Retórico (c. 555) registra os avnagur (aunagures; que são considerados os onogures), wngwr (onogures) e wgr (ogures) no seguinte contexto: "Aunagures são pessoas que vivem em tendas. Augares sabires, burgares, alanos, curtargares, avares, hasares, dirmares, sirurgures, bagrasires, culas, abdeis e heftalitas são trezes povos que vivem em tendas e ganham a vida com a carne do gado e peixes, de animais selvagens e por suas armas (saque)". Sobre os búlgaros e os alanos, durante a primeira metade do século VI, acrescentou: "A terra Basgum (...) se estende até os Portões do Cáspio e até o mar, que estão nas terras dos hunos. Além das portas vivem os burgares (búlgaros), que têm a sua língua, e são pessoas pagãs e bárbaras. Eles têm cidades. E os alanos - eles têm cinco cidades."[19][24]
Os onogures (ogures), nas fontes dos séculos VI e VII, foram mencionados principalmente em conexão com a conquista avar e goturca da Eurásia Ocidental.[25] De acordo com o Menandro Protetor do século VI, o "líder dos Οὐγούρων" tinha a autoridade do turco jabegu grão-cã na região do rio Cubã até o baixo Dom.[26] No início do século VII, Teofilato Simocata registrou que certa cidade onogur de Bacate (Βακάθ) foi destruída por um terremoto antes de sua vida. O nome soguediano indica que estava situado nas proximidades da Ásia Central iraniana.[7] Simocata na Carta do Turco Grão-Cã (Turxanto) ao imperador Maurício registrou um aviso complexo:
“ | (...) o grão-cã partiu em outro empreendimento e subjugou todos os Ὀγώρ. Este povo é (um) dos mais poderosos por causa de seus números e seu treinamento para a guerra em equipamento de batalha completo. Fizeram suas moradas para o leste, de onde corre o rio Til, que os turcos têm o costume de chamar de "Negro". Os chefes mais antigos deste povo são chamados Οὐάρ e Χουννί.[26] | ” |
De acordo com o grão-cã, parte dos uares e hunos que chegaram à Europa Oriental foram confundidos pelos onogures, barsis, sabires e outras tribos com os avares originais, e como tal os uares e hunos aproveitaram a situação e começaram a se chamar ávaros.[27] Simocata ainda relatou que "quando os ogores, então, foram completamente derrotados, o grão-cã entregou o chefe dos colques (Kolx) à mordida da espada", que indica a resistência dos ogures à autoridade turca.[26] Estudiosos consideram que se o Til é Cara Itil (Itil Negro) / Volga (Atil/Itil), então o mencionado Ὀγώρ seriam os ogures, enquanto que se estiver na Ásia Interior, então poderiam ser o uigures.[26]
Antiga Bulgária
[editar | editar código-fonte]Cubrato organizou os onogures sob seu império da Antiga Grande Bulgária em meados do século VII. A partir do século VIII, as fontes bizantinas mencionam frequentemente os onogures em estreita ligação com os búlgaros. Agatão (início do século VIII) escreveu sobre a nação dos búlgaros onogures. Nicéforo I (início do século IX) observou que Cubrato era o senhor dos onogundures; seu contemporâneo Teófanes, o Confessor se referiu a eles como onogundur-búlgaros. Cubrato revoltou-se com sucesso contra os ávaros e fundou a Antiga Grande Bulgária (Magna Bulgária[28]), também conhecida como Estado dos onogundur-búlgars, ou Pátria Onogúria na Cosmografia de Ravenna.[29][30] Constantino VII (meados do século X) observou que os búlgaros anteriormente se chamavam onogundures.[31]
Esta associação foi anteriormente espelhada em fontes armênias, como o Ashkharatsuyts, que se refere aos Olxontor Błkar (onogures-búlgaros), e a História do século V de Moisés de Corene, que inclui um comentário adicional de um escritor do século IX sobre a colônia do Vłĕndur Bułkar. Marquart e Golden conectaram essas formas com o Iġndr (*Uluġundur) de ibne Alcalbi (c. 820), os Vnndur (*Wunundur) do Hudud al-'Alam (982), os Wlndr (*Wulundur) de Almaçudi (século X) e o nome húngaro para Belgrado Nándorfehérvár, os nndr (*Nandur) de Abuçaíde de Gardiz (século XI) e *Wununtur na carta do rei cazar José. Todas as formas mostram as mudanças fonéticas típicas do ogúrico tardio (protético w-; o- > wo-, u-, *wu-).[31][32]
Notas
[editar | editar código-fonte]- [a] ^ O etnônimo dos hunos, como os dos citas e turcos, tornou-se um termo genérico para pessoas da estepe (nômades) e inimigos invasores do Oriente, independentemente de sua origem e identidade reais.[33][34]
Referências
- ↑ Golden 2011, p. 135–145.
- ↑ Golden 2011, p. 23, 237.
- ↑ Golden 1992, p. 96.
- ↑ a b Golden 2012, p. 96.
- ↑ Golden 1992, p. 102–103.
- ↑ Golden 1992, p. 92–93, 103.
- ↑ a b c Golden 2011, p. 141.
- ↑ Golden 1992, p. 92–93.
- ↑ Golden 1992, p. 92–93, 97.
- ↑ Golden 2011, p. 70.
- ↑ Golden 1992, p. 93–95.
- ↑ Golden 2011, p. 32–33.
- ↑ Golden 2011, p. 138, 141.
- ↑ Golden 1992, p. 99.
- ↑ Golden 2011, p. 140.
- ↑ Golden 1992, p. 244.
- ↑ Golden 2011, p. 143.
- ↑ Golden 1992, p. 100, 103.
- ↑ a b Dimitrov 1987.
- ↑ Maenchen-Helfen 1973, p. 431.
- ↑ Golden 1992, p. 98.
- ↑ Golden 1992, p. 254.
- ↑ Golden 1992, p. 112.
- ↑ Golden 1992, p. 97.
- ↑ Golden 1992, p. 100–102.
- ↑ a b c d Golden 2011, p. 142.
- ↑ Golden 1992, p. 109.
- ↑ Fiedler 2008, p. 152.
- ↑ Golden 1992, p. 245.
- ↑ Golden 2011, p. 144.
- ↑ a b Golden 1992, p. 102.
- ↑ Golden 2011, p. 239.
- ↑ Beckwith 2009, p. 99.
- ↑ Dickens 2004, p. 19.
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Beckwith, Christopher I. (2009). Empires of the Silk Road: A History of Central Eurasia from the Bronze Age to the Present. Princeton: Imprensa da Universidade de Princeton. ISBN 9781400829941
- Dickens, Mark (2004). Medieval Syriac Historians' Perceptions of the Turks. Cambrígia: Imprensa da Universidade de Cambrígia
- Dimitrov, D. (1987). «Bulgars, Unogundurs, Onogurs, Utigurs, Kutrigurs»
- Fiedler, Uwe (2008). «Bulgars in the Lower Danube region: A survey of the archaeological evidence and of the state of current research». In: Curta, Florin; Kovalev, Roman. The Other Europe in the Middle Ages: Avars, Bulgars, Khazars and Cumans. Leida: Brill. pp. 151–236. ISBN 9789004163898
- Golden, Peter Benjamin (1992). An introduction to the History of the Turkic peoples: ethnogenesis and state formation in medieval and early modern Eurasia and the Middle East. Viesbade: Otto Harrassowitz. ISBN 9783447032742
- Golden, Peter B. (2011). Studies on the Peoples and Cultures of the Eurasian Steppes. Bucareste: Editura Academiei Române. ISBN 9789732721520
- Golden, Peter B. (2012). «Oq and Oğur~Oğuz*» (PDF). Universidade Rutgers
- Maenchen-Helfen, Otto John (1973). The World of the Huns: Studies in Their History and Culture. Berkeley, Califórnia: Imprensa da Universidade da Califórnia. ISBN 9780520015968