Relações entre Índia e Rússia – Wikipédia, a enciclopédia livre

Relações entre Índia e Rússia
Bandeira da Índia   Bandeira da Rússia
Mapa indicando localização da Índia e da Rússia.
Mapa indicando localização da Índia e da Rússia.
  Índia
O primeiro-ministro indiano Manmohan Singh com o presidente russo, Dmitry Medvedev, na Cúpula do G8 de 2008, em Hokkaido.

As relações entre Índia e Rússia são as relações diplomáticas estabelecidas entre a República da Índia e a Federação Russa.[1] A Índia possui uma embaixada em Moscou e dois consulados-gerais em São Petersburgo e Vladivostok. A Rússia possui uma embaixada em Nova Deli e quatro consulados-gerais em Chennai, Hyderabad, Kolkata e Mumbai.

Durante a Guerra Fria, a Índia e a União Soviética (URSS) tiveram uma forte relação estratégica, militar, econômica e diplomática. Após o colapso da União Soviética, a Rússia herdou uma estreita relação com a Índia, assim como a Índia melhorou as suas relações com o Ocidente após o fim da Guerra Fria.

Tradicionalmente, a parceria estratégica entre os dois países têm sido construída em cinco componentes principais: política, defesa, energia nuclear, cooperação anti-terrorismo e espacial.

Ambos são membros de vários organismos internacionais, onde em conjunto colaboram estreitamente em assuntos compartilhados de interesse nacional. Exemplos importantes incluem a ONU, BRICS, G20 e SCO, onde a Índia possui o estatuto de observador e foi convidada pela Rússia para se tornar um membro pleno. A Rússia já declarou publicamente o seu apoio à Índia para que esta venha a receber um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas. Além disso, a Rússia manifestou interesse em aderir à SAARC com o estatuto de observador, no qual a Índia é um dos membros fundadores.

Dados comparativos

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Dados Países
Índia República da Índia
Republic of India
Rússia Federação da Rússia
Rossiyskaya Federatsiya
Data de fundação 15 de agosto de 1947 25 de dezembro de 1991
População 1 380 004 385 habitantes[2] 145 934 462 habitantes[3]
Área 3 287 263 km² () 17 098 246 km² ()
Densidade populacional 413.7 hab./km² 8,3 hab./km²
Capital Nova Déli Moscou
Maiores cidades Bombaim
(12 478 447 hab.)
Moscou
(11 979 529 hab.)
Tipo de Estado República federal parlamentarista República federal semipresidencialista
Líder atual Presidente Ram Nath Kovind (BJP)
Primeiro-ministro Narendra Modi (BJP)
Presidente Vladimir Putin (RU)
Primeiro-ministro Mikhail Mishustin
Idioma oficial Russo
PIB (nominal) US$ 2.5 trilhões () US$ 1.4 trilhão (11º)
Gastos militares $76.6 bilhões (2021)[4] $65.9 bilhões (2021)[4]

Índia e Império Russo

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Monumento ao explorador russo Afanásio Nikitin em Tver.

Bens descobertos em sítios arqueológicos como Pazyryk indicam que nômades que habitavam a área realizaram atividades comerciais com a Índia durante os séculos IV e III a.C.[5] Em 1468, o viajante russo Afanásio Nikitin iniciou sua jornada para a Índia. Entre 1468 e 1472, viajou pela Pérsia, Índia e Império Otomano. A documentação de suas experiências durante esta jornada está compilada no livro Jornadas entre os três mares (Khozheniye za tri morya).[6]

A cidade russa de Astracã foi um importante centro do comércio indo-russo durante a Idade Média.

No século XVIII, as cidades russas de Astracã, Moscou e São Petersburgo eram frequentemente visitadas por mercadores indianos. A Rússia e o Irã foram usados ​​como comércio de trânsito entre a Europa Ocidental e a Índia, especialmente depois que Pedro I, solicitou ao imperador mogol Aurangzeb o início das relações comerciais em 1696.[7] Décadas depois, o czar russo concedeu pessoalmente à empresa comercial indiana de Anbu-Ram Mulin o direito de resolver questões de propriedade em Astracã, permitindo que os indianos trouxessem caravanas com seus tecidos de linho, algodões, sedas e tecidos indianos, persas e uzbeques. O governador de Astracã foi ordenado a demostrar "bondade e boa vontade" aos mercadores indianos na Rússia, que prezavam sua liberdade religiosa e privilégios comerciais especiais que nunca tiveram em outros países orientais; até meados do século XVIII, os membros da comunidade pagavam apenas 12 rublos anuais como aluguel de uma loja no "Indian Trading Compound" e eram isentos de impostos e taxas pelas autoridades russas. Em 1724, o valor dos bens exportados por eles de Astracã para as cidades do interior da Rússia excedeu 104.000 rublos, totalizando quase um quarto de todo o comércio da cidade. Esta ampla relação comercial entre os dois povos foi interrompida e prejudicada a partir da ocupação britânica da Índia na década de 1850.[6][8][9]

Em 1801, o czar Paulo I iniciou planos para a invasão da Índia britânica por uma tropa de 22.000 cossacos, o que nunca ocorreu devido ao mau planejamento da operação. A intenção era que a Rússia formasse uma aliança com a França e atacasse o Império Britânico com tropas francesas de 35.000 homens e um tropas russas de 25.000 soldados de infantaria e 10.000 cavalariços cossacos. Alguns cossacos se aproximaram de Oremburgo quando o Paulo I foi assassinado. Ao herdar o trono, seu sucessor Alexandre I imediatamente cancelou os planos.[10]

Índia e União Soviética

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Selo soviético de 1974 ilustrando a relação comercial indo-soviética.

Josef Stalin considerava Mahatma Gandhi, o Congresso Nacional Indiano e Jawaharlal Nehru como ferramentas do capitalismo britânico e líderes monopolistas. Até sua morte em 1953, as relações entre os dois países eram frias.

Um contato cordial foi iniciado em 1955 e representou a mais bem-sucedida das tentativas soviéticas de promover relações mais estreitas com os países do Terceiro Mundo. A relação foi iniciada através de uma visita do Primeiro-ministro indiano Jawaharlal Nehru à União Soviética em junho de 1955, correspondida com uma visita oficial do Secretário-geral do Partido Comunista Nikita Khrushchov à Índia no outono do mesmo ano. Enquanto na Índia, Khrushchov anunciou que a União Soviética apoiaria a reivindicação de soberania do país vizinho sobre o território disputado da região da Caxemira e sobre os enclaves costeiros portugueses, como Goa.

Durante a era Khrushchov, as fortes relações da União Soviética com a Índia tiveram um impacto negativo nas relações bilaterais de ambos os países com a República Popular da China. Em 1959, a União Soviética declarou sua neutralidade diante da disputa de fronteiras pelos dois países vizinhos e manteve a posição durante a subsequente Guerra sino-indiana de 1962. A União Soviética deu à Índia substancial assistência econômica e militar durante o governo de Khrushchov e, em 1960, a Índia recebeu mais assistência soviética do que a China. Esta disparidade tornou-se outro ponto de discórdia nas relações sino-soviéticas. Em 1962, o governo soviético concordou em transferir tecnologia para co-produzir o caça a jato Mikoyan-Gurevich MiG-21 em fábricas indianas, direito que havia sido negado anteriormente à China.

Em 1965, a União Soviética serviu com sucesso como mediador de paz entre a Índia e o Paquistão após a Guerra Indo-Paquistanesa de 1965. Na época, o primeiro-ministro Alexei Kossygin reuniu-se com representantes dos dois países e liderou negociações que levaram ao cessar-fogo e o fim pacífico do conflito pela região histórica da Caxemira.

Em 1971, a antiga região do Paquistão Oriental iniciou um esforço para se separar de sua união política com o Paquistão Ocidental. A Índia apoiou a secessão e, como garantia contra uma possível entrada chinesa no conflito ao lado do Paquistão Ocidental, assinou com a União Soviética o Tratado Indo-Soviético de Amizade e Cooperação em agosto de 1971. Em dezembro do mesmo ano, a Índia entrou oficialmente no conflito e assegurou a vitória dos revolucionários paquistaneses e o estabelecimento do novo estado que viria a ser conhecido como Bangladesh.

Durante o governo do Partido Janata na década de 1970, as relações indo-soviéticas permaneceram próximas e inalteradas embora a Índia tenha buscado estabelecer melhores relações econômicas e militares com os países ocidentais. Na tentativa de frear os esforços dos indianos em diversificar suas relações diplomáticas, a União Soviética ampliou sua rede de assistência econômica e militar.

Apesar do assassinato da primeira-ministra Indira Gandhi por separatistas siques, considerada o pilar das boas relações indo-soviéticas, a Índia manteve a relação estreita com a União Soviética. Em 1985, o novo premiê indiano Rajiv Gandhi escolheu Moscou como seu primeiro destino oficial, indicando a alta prioridade das relações com os russos. De acordo com Rejaul Karim Laskar, um estudioso da política externa indiana, durante esta visita, Rajiv Gandhi desenvolveu um relacionamento amistoso pessoal com o secretário-geral soviético Mikhail Gorbachev. Apesar da melhoria das relações sino-soviéticas no final da década de 1980, as relações estreitas com a Índia permaneceram importantes como um exemplo da nova política de terceiro mundo de Gorbachev.

O caça Sukhoi/HAL FGFA da Força Aérea Indiana foi produzido por cooperação tecnológica entre os dois países.[11][12]

A Índia é o segundo maior mercado para a indústria de defesa russa. Nos últimos anos, entre 60% e 70% dos equipamentos militares das forças armadas indianas foram comprados da Rússia, que se tornou o principal fornecedor de equipamentos de defesa. Alguns destes produtos, como os carros de combate T-72 e T-90, além dos caças multiuso Sukhoi Su-30MKI e helicópteros Mil Mi-17, atualmente fazem parte do inventário militar indiano.[13]

A União Soviética foi um importante fornecedor de equipamentos de defesa por várias décadas, e esse papel foi herdado pela Federação Russa. A Rússia (68%), Estados Unidos (14%) e Israel (7,2%) são os principais fornecedores de armamentos para a Índia no período 2012-2016 enquanto Índia e Rússia aprofundaram sua cooperação de fabricação armamentos na parceria Make in India, assinando acordos para a construção de fragatas, helicópteros utilitários bimotores KA-226T e mísseis de cruzeiro BrahMos.[14] Em dezembro de 1988, foi assinado um acordo de cooperação Índia-Rússia, que resultou na venda de uma infinidade de equipamentos de defesa para a Índia e também no surgimento dos países como parceiros de desenvolvimento em oposição a uma relação puramente comprador-vendedor, incluindo a projetos de joint ventures para desenvolver e produzir o Sukhoi/HAL FGFA e o Ilyushin Il-276.[15][11][12] Em 1997, os dois países assinaram um acordo de dez anos para uma maior cooperação técnico-militar abrangendo uma ampla gama de atividades, incluindo a compra de armamento completo, desenvolvimento e produção conjuntos e comercialização conjunta de armamentos e tecnologias militares.[16]

Membresia internacional

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Países Organizações internacionais
ONU CSNU OTAN FMI BM G8 G20 BRICS OECD UNESCO
 Índia Sim Sim Sim Sim Sim Sim
 Rússia Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim

Referências

  1. Relações entre Índia e Rússia
  2. «Population Clock». India Stats 
  3. «Population Clock». Russia Stats 
  4. a b Tian, Nan; Fleurant, Aude; Kuimova, Alexandra; Wezeman, Pieter D.; Wezeman, Siemon T. (24 de abril de 2022). «Trends in World Military Expenditure, 2021» (PDF). Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo 
  5. Bahn, Paul G. (2000). The Atlas of World Geology. Nova Iorque: Checkmark Books. p. 128. ISBN 0816040516 
  6. a b Волков, Даниэль (2013). «Journey beyond three seas by Athanasius Nikitin». Proza.ru 
  7. Rubchenko, Maxim (9 de setembro de 2016). «Russia and India: A civilisational friendship». Russia Beyond 
  8. Rubchenko, Maxim (15 de setembro de 2016). «8th century Russia welcomed & cherished Indian merchants». Russia Beyond 
  9. Kamalakaran, Ajay (16 de março de 2020). «Astrakhan's India Connection». Open 
  10. Strong, John (1965). Russia's Plans for an Invasion of India in 1801. [S.l.]: Canadian Slavonic Papers 7.1. p. 114-126 
  11. a b Siddiqui, Huma (5 de outubro de 2019). «Make in India: IAF will focus on the indigenous AMCA for its fighter fleet, says Air Chief RKS Bhadauria». Financial Express 
  12. a b «Indo-Russian Jet Program Finally Moves Forward». Defense News. 14 de setembro de 2019 
  13. Cooperação em Defesa: Índia e Rússia
  14. «Deeper defence & security cooperation with Russia enhances India's strategic choices». The Economic Times. 22 de dezembro de 2017 
  15. Grevatt, Jon (14 de outubro de 2009). «Global Defence News and Defence Headlines - IHS Jane's 360». Janes 
  16. Singh, Rahul (6 de dezembro de 2021). «India, Russia conclude AK-203 deal, renew 10-yr pact for military cooperation». Hidustan Times 
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