Síndrome compartimental abdominal – Wikipédia, a enciclopédia livre
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Síndrome compartimental abdominal é o aumento da pressão intra-abdominal a ponto de provocar mau funcionamento ou falência de vários órgãos como rins, coração, pulmão, fígado e trato gastrointestinal. Possui causas e tratamentos diversos.
Tecnicamente, pode ser definida como pressão intra-abdominal (PIA) constantemente maior que 20mmHg mais a falência de pelo menos um órgão.[1] Pode ser dividida em três grupos: primário, secundário, e recorrente.[2]
Não deve ser confundido com hipertensão intra-abdominal, que seria o aumento da PIA acima de 16,2mmHg, podendo ou não ocorrer anormalidades na perfusão de alguns órgãos e queda do débito urinário. A PIA normal varia de 0 a 12mmHg.
Fisiopatologia
[editar | editar código-fonte]A principal característica é o aumento da pressão abdominal a ponto de comprimir vasos sanguíneos agravando em primeiro lugar o retorno venoso para o coração e a a drenagem de sangue renal. Como o diafragma tem dificuldade de se expandir, existe uma restrição na ventilação.
A pressão abdominal acima de 12mmHg já pode provocar distúrbios de perfusão.
Para o entendimento leigo
[editar | editar código-fonte]Uma síndrome compartimental ocorre quando a pressão dentro de uma cavidade ou loja anatômica aumenta a ponto de bloquear o fluxo venoso e/ou arterial de sangue da região.
Quando ocorre um trauma ou pancada no braço, por exemplo, ocorre uma inflamação e inchaço da região. Contudo, o braço não tem a capacidade de edemaciar indefinidamente. Os músculos da sua estrutura estão envoltos por uma membrana resistente, chamada fáscia, que delimita um espaço anatômico. Após certo ponto, o inchaço dos músculos do braço aumenta a pressão nesse espaço anatômico, fazendo com que nem mesmo o sangue consiga vencer tal resistência. Seria como um “fusca lotado”: muita gente em um espaço bem apertado, não sobra nem entra oxigênio suficiente para todos.
Isso pode ocorrer em várias regiões do corpo: o glaucoma do globo ocular(compartimento delimitado pela esclera), a hipertensão intra-craniana (compartimento delimitado pelo crânio), a síndrome compartimental da perna (fáscia da perna) e na cavidade abdominal (compartimento delimitado por músculos, fáscias e o osso da pelve).
A Síndrome Compartimental Abdominal é patologia de gravidade e comprometimento sistêmico, pois o bloqueio de fluxo sanguíneo implica o comprometimento de grandes vasos (como a veia cava) e de órgãos nobres como rins e pulmão.
Órgãos acometidos e suas alterações
[editar | editar código-fonte]Coração: O aumento da resistência vascular periférica e queda do retorno venoso levam à queda do débito cardíaco.
Sistema nervoso central: aumento da pressão intra-craniana.
Pulmão: Aumenta pressão intratorácica e diminui a ventilação e expansibilidade pulmonar devido à restrição do diafragma.
Rim: diminui fluxo sanguíneo e taxa de filtração glomerular. Queda do débito urinário.
Gastrointestinal: Diminui fluxo sanguíneo. Queda do pH, isquemia.
Na medicina como regra mnemônica usamos para a síndrome compartimental os "5Ps" Pain (DOR) Pulseless(Diminuição do pulso) Parestesia Paralisia Palidez
Etiologia
[editar | editar código-fonte]Fechamento com tensão do abdômen
Ascite e acumulo de fluido intra abdominal
Massa e tumores intra-abdominais
Pancreatite
Obstrução intestinal
Excesso de fluidos (infusão de soro fisiológico)
Trauma abdominal, pack abdominal para controle de hemorragias
Tratamento
[editar | editar código-fonte]O objetivo principal é tratar causa de base. O tratamento complementar pode ser cirúrgico ou não cirúrgico.
Não cirúrgico
[editar | editar código-fonte]Medidas gerais como jejum, esvaziamento intestinal com enemas, laxantes e passagem de sonda nasogástrica.
Controle rigoroso do balanço hídrico
Analgesia e sedação adequados.
Drenagem de excesso de fluidos da cavidade abdominal por paracentese (para retirada de ascite, por exemplo).
Cirúrgico
[editar | editar código-fonte]Abertura da cavidade abdominal e fechamento quando o processo de base esfriar, como a diminuição do edema das alças intestinais. A cavidade abdominal pode ser mantida aberta utilizando-se a Bolsa de Bogotá, que consiste na proteção das vísceras expostas ao ar livre com uma bolsa plástica para evitar sua desidratação e perda de calor.
Referências
- ↑ Cheatham, Michael (abril de 2009). «Abdominal compartment syndrome». Current Opinion in Critical Care (em ENGLISH) (2): 154–162. ISSN 1070-5295. PMID 19276799. doi:10.1097/MCC.0b013e3283297934. Consultado em 7 de dezembro de 2020
- ↑ Hunt, Leanne; Frost, Steve A; Hillman, Ken; Newton, Phillip J; Davidson, Patricia M (5 de fevereiro de 2014). «Management of intra-abdominal hypertension and abdominal compartment syndrome: a review». Journal of Trauma Management & Outcomes. 2 páginas. ISSN 1752-2897. PMC 3925290. PMID 24499574. doi:10.1186/1752-2897-8-2. Consultado em 7 de dezembro de 2020