Teatro Experimental do Negro – Wikipédia, a enciclopédia livre

Teatro Experimental do Negro ensaiando Sortilégio, com Abdias Nascimento e Léa Garcia, 1957. Arquivo Nacional.

Teatro Experimental do Negro (TEN) foi uma companhia teatral brasileira, fundada por Abdias do Nascimento, que atuou entre 1944 e 1961. Entre 1952 e 1953 o grupo teve um programa de mesmo nome na TV Tupi apresentando teleteatros.

O TEN foi fundado e dirigido por Abdias Nascimento e Maria Nascimento, sua esposa.[1][2] A ideia para sua criação nasceu em 1941, após um encontro com os poetas Efraín Tomás Bó, Godofredo Tito Iommi, Raul Young e Napoleão Lopes Filho, que desde a década de 1930 formavam a Santa Hermandad Orquídea, para assistir à peça O Imperador Jones, de Eugene O'Neill, no Teatro Municipal de Lima. Naquela montagem, um ator branco com o rosto pintado de negro, o argentino Hugo D’Evieri, interpretava o protagonista negro.[3]

De volta ao Brasil, Abdias do Nascimento foi preso em consequência de seus protestos contra a discriminação racial. Ainda na penitenciária do Carandiru, criou com outros presos o Teatro do Sentenciado. Ao deixar a prisão, concebeu uma companhia teatral voltada para o desenvolvimento da cidadania e conscientização racial. O elenco foi composto por operários e empregadas domésticas. Alguns dos primeiros membros eram analfabetos, e foi preciso realizar cursos de alfabetização para que eles pudessem ler os textos das peças.

A estreia da companhia foi em 1945, com O imperador Jones. Eugene O’Neill cedeu gratuitamente os direitos para encenar o texto. A escolha se justificou pela ausência, na dramaturgia brasileira da época, de obras que contemplassem o problema racial. No dia 8 de maio de 1945, o TEN se apresentou no palco do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Aguinaldo Camargo representou o papel principal sob a direção de Abdias Nascimento.

A primeira montagem de um texto brasileiro veio dois anos depois, com O filho pródigo, drama poético de Lúcio Cardoso. Aguinaldo Camargo vatuou ao lado de Ruth de Souza, José Maria Monteiro, Abdias do Nascimento, Haroldo Costa e Roney da Silva. Tomás Santa Rosa assinou os cenários.[4][5] Nelson Rodrigues escreveu para o TEN a peça Anjo Negro (1946), cuja estreia no Teatro Municipal do Rio de Janeiro teve como condição de o ator principal ser um branco pintado de preto. O TEN produziu vários outros espetáculos, trabalhando com textos brasileiros e estrangeiros.

Além da atuação nos palcos, o TEN assumiu uma postura política, criando entidades como a Associação das Empregadas Domésticas e o Conselho Nacional de Mulheres Negras. Publicou o jornal Quilombo, que denunciava a discriminação racial em todo o Brasil e dava notícias e informações sobre cultura negra no mundo. Combateu o padrão eurocentrista de beleza dos concursos de Miss Brasil, realizando concursos de beleza para mulheres negras. Em 1955, promoveu a Semana do Negro e um concurso de artes plásticas tendo como tema o Cristo Negro. Publicou o jornal Quilombo (1948-50), a antologia Dramas para negros e prólogo para brancos (1961),[6] e os livros Sortilégio (Mistério Negro), de Abdias Nascimento (1959), e Teatro Experimental do Negro: Testemunhos (1966).

O TEN foi impedido pelo governo brasileiro de participar do primeiro Festival Mundial de Artes Negras, realizado no Senegal em 1966,[7] ocasião em que Abdias Nascimento publicou sua "Carta Aberta a Dacar" denunciando o critério discriminatório aplicado pelo Itamaraty (Ministério das Relações Exteriores). O artigo foi publicado pela revista Présence Africaine, editado pelo renomado intelectual senegalês Alioune Diop.

Em 1968, o TEN realizou um ciclo de debates e a primeira exposição do projeto Museu de Arte Negra, no Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro. Logo em seguida, Abdias Nascimento viajou para o exterior, onde foi obrigado a ficar durante 13 anos de exílio. No exterior, ele continuou o trabalho do TEN ao desenvolver atividades culturais e artísticas, bem como continuar o combate ao racismo.

Peças encenadas

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Em 30 de março de 1947.
Lea Garcia e Fredman Ribeiro na peça "Onde está marcada a cruz"
Ensaio para "O Colar de Coral", em 12 de setembro de 1958.
  • 1945 - O Imperador Jones
  • 1946 - O Moleque Sonhador
  • 1946 - Festival do 2º Aniversário do Teatro Experimental do Negro
  • 1946 - Othello
  • 1946 - Todos os Filhos de Deus Tem Asas
  • 1947 - Terras do Sem Fim
  • 1947 - O Filho Pródigo
  • 1947 - Recital Castro Alves
  • 1948 - A Família e a Festa na Roça
  • 1948 - Aruanda
  • 1949 - Filhos de Santo
  • 1949 - Calígula
  • 1952 - Rapsódia Negra
  • 1953 - O Imperador Jones
  • 1953 - O Filho Pródigo
  • 1954 - Festival O'Neill
  • 1954 - Onde Está Marcada a Cruz
  • 1956 - João Sem-Terra (Teatro Novos Comediantes de S.Paulo)
  • 1956 - Orfeu da Conceição
  • 1957 - Perdoa-me por Me Traíres
  • 1957 - Sortilégio - Mistério Negro[8]
  • 1958 - O Colar de Coral

Referências

  1. Criolo, Ceará. «Maria Nascimento e a força das mulheres na política - Ceará Criolo». Consultado em 17 de setembro de 2021 
  2. Roncolato, Murilo (24 de novembro de 2015). «A caminhada do movimento negro no Brasil». Nexo Jornal. Consultado em 20 de novembro de 2022 
  3. NASCIMENTO, Abdias do. Teatro experimental do negro: trajetória e reflexões. Estud. av. [online]. 2004, vol.18, n.50 [cited 2014-03-20], pp. 209-224
  4. Teatro experimental do negro: trajetória e reflexões. Cultura.rj, 18 de março de 2014
  5. Teatro Experimental do Negro, o pioneiro a levar o negro para os palcos. SP Escola de Teatro, 18 de novembro de 2013
  6. Seção TEN. Acervo Ipeafro
  7. Teatro Experimental do Negro - TEN. Enciclopédia Itaú Cultural
  8. Teatro Experimental do Negro - espetáculos. Enciclopédia Itaú Cultural