Tumor odontogênico epitelial calcificante – Wikipédia, a enciclopédia livre

O tumor odontogênico epitelial calcificante (TOEC), também conhecido como tumor de Pindborg, é uma neoplasia odontogênica benigna rara, de origem epitelial.[1][2] Foi descrito pela primeira vez pelo patologista dinamarquês Jens Pindborg em 1958.[1][2]

Sinais e sintomas

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O TOEC pode ser encontrado de forma acidental, ou por apresentar o crescimento de uma massa lenta e assintomática.[1][2] Ele pode ser dividido entre a forma intraóssea/central (que representa 94% dos casos), mais frequentemente associada a dentes inclusos ou a odontomas, e a forma extraóssea/periférica (que representa 6% dos casos).[2] A forma extraóssea tipicamente se apresenta como uma massa firme, indolor e séssil na gengiva, que pode causar uma depressão óssea ou mesmo erodir o osso subjacente.[2]

Aspectos radiográficos e histológicos

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Radiograficamente, o tumor normalmente se apresenta como uma lesão radiolúcida uni ou multilocular, com ou sem focos radiopacos.[1][2] A presença de calcificações, que se tornam radiopacas à radiografia, depende do estágio do tumor: em estágio inicial, o TOEC possui um aspecto de bolhas de sabão, sendo radiolúcido, e à medida que o tumor progride, ele se torna mais radiopaco pelos focos de calcificação.[1] Pode haver reabsorção das raízes dentárias.[2]

Cerca de 60% dos casos intraósseos são associados a dentes não irrompidos ou odontomas.[2]

Histologicamente, o TOEC possui um aspecto bastante distinto de outros tumores odontogênicos pela presença de proteínas amiloides, que na coloração de HE (hematoxilina-eosina) aparece de forma eosinofílica e quase hialina.[3] São essas proteínas amiloides que tendem a se calcificar, e que em estágios mais avançados podem dar um aspecto de focos radiopacos na lesão.[1][3] As células do tumor tendem a ser pleomórficas, de tamanho intermediário e com núcleo centralizado e proeminente, de bordas distintas e citoplasma abundante e eosinofílico.[2][3] Em meio às ilhotas epiteliais, há uma matriz mixoide ou mucinosa com calcificações distróficas de aspecto concêntrico, e o tumor normalmente é encapsulado.[2] Atipia celular e mitoses, quando presentes, são raras.[2][3]

O TOEC, na última classificação das lesões odontogênicas da OMS de 2022, foi classificado em três subtipos:[4]

Teoriza-se que o TOEC surge a partir de restos da lâmina dentária ou dos restos epiteliais de Malassez.[1]

O TOEC está relacionado a algumas mutações genéticas conhecidas, nos seguintes genes: PTCH1, ABMN, PTEN, CDKN2A, JAK3, e MET.[3]

A presença de proteínas amiloides que é característica desse tumor acontece por um pequeno trecho da proteína ODAM (proteína odontogênica associada a ameloblastos), no locus AODAM.[4]

Epidemiologia

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O TOEC é raro e representa 1-2% de todas as neoplasias odontogênicas.[1][2] Afeta adultos (93%) mais frequentemente do que crianças (7%).[2] Possui predileção pela mandíbula, mas quando em maxila, tende a ser mais agressivo, podendo infiltrar a órbita ou base do crânio.[2][4]

O diagnóstico do TOEC requer exame anatomopatológico.[1][2] Além de hematoxilina-eosina, colorações especiais como vermelho Congo (que cora os depósitos amiloides) e imuno-histoquímica podem auxiliar no diagnóstico da lesão.[2]

Diagnóstico diferencial inclui:[2]

Prognóstico e tratamento

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Apesar de benigno, o TOEC é localmente agressivo e infiltrativo, e possui potencial de transformação maligna.[2]

O tratamento consiste na ressecção do tumor com pelo menos 1 cm de margem negativa, independente do tamanho, pela alta taxa de recidiva: 15% dos pacientes tratados com enucleação e 30% dos tratados com curetagem tiveram recidiva do tumor.[2] Quando afeta a maxila, o tratamento deve ser ainda mais radical, pela possibilidade de infiltração da órbita e base do crânio. Recomenda-se acompanhamento por pelo menos 5 anos para evitar a recidiva.[2]

O TOEC possui risco de transformação maligna, o que pode ser observado pelos aspectos histológicos: a presença de necrose, alto índice de proliferação por Ki-67, e pleomorfismo nuclear são associados a maior risco de malignização, enquanto a presença de calcificações e depósitos amiloides indica maior grau de diferenciação e menor risco de recidiva e malignização.[2] TOECs malignos podem apresentar também invasão vascular, metástases linfonodais e metástases à distância.[2] A malignização do TOEC é raríssima, tendo sido relatados 7 casos na literatura.[1]

  1. a b c d e f g h i j Fazeli, Shoreh R.; Giglou, Kamyar R.; Soliman, Mahmoud L.; Ezzat, Waleed H.; Salama, Andrew; Zhao, Qing (15 de fevereiro de 2019). «Calcifying Epithelial Odontogenic (Pindborg) Tumor in a Child: A Case Report and Literature Review». Head and Neck Pathology (4): 580–586. ISSN 1936-055X. PMC 6853849Acessível livremente. PMID 30771214. doi:10.1007/s12105-019-01009-1. Consultado em 9 de outubro de 2024 
  2. a b c d e f g h i j k l m n o p q r s t u v Lin, Hung-Pin; Kuo, Ying-Shiung; Wu, Yang-Che; Wang, Yi-Ping; Chang, Julia Yu-Fong; Chiang, Chun-Pin (junho de 2016). «Non-calcifying and Langerhans cell-rich variant of calcifying epithelial odontogenic tumor». Journal of Dental Sciences (2): 117–122. ISSN 1991-7902. PMC 6395191Acessível livremente. PMID 30894958. doi:10.1016/j.jds.2016.02.001. Consultado em 9 de outubro de 2024 
  3. a b c d e Soluk-Tekkesin, Merva; Wright, John M. «The World Health Organization Classification of Odontogenic Lesions: A Summary of the Changes of the 2022 (5th) Edition». Turkish Journal of Pathology (2): 168–184. ISSN 1018-5615. PMC 9999699Acessível livremente. PMID 35578902. doi:10.5146/tjpath.2022.01573. Consultado em 9 de outubro de 2024 
  4. a b c Soluk-tekkesin, Merva; Wright, John M. (2013). «The world health organization classification of odontogenic lesions: a summary of the changes of the 2017 (4th) edition». Turkish Journal of Pathology. ISSN 1018-5615. doi:10.5146/tjpath.2017.01410. Consultado em 9 de outubro de 2024