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Visões Úteis
Visões Úteis
Companhia de Teatro
Fundação 1994
Sede Rua Justino Teixeira, nº 653
Website oficial visoesuteis.pt

Visões Úteis é uma companhia de teatro profissional portuguesa fundada no Porto em 1994. O teatro foi a raiz de uma atividade constante e intensa que rapidamente se alargou a outras áreas das artes performativas, como a Performance na Paisagem e a Performance em Comunidade.

Até ao final de 2021 criou, produziu e apresentou em Portugal, Bélgica, Espanha, França, Grécia, Itália, Letónia, Reino Unido,  Suécia, 45 espetáculos de teatro, dez trabalhos na área de Performance na Paisagem, três Performances em Comunidade e cinco festivais/encontros de criadores.

A fundação do Visões Úteis foi da responsabilidade de um grupo de pessoas que, anos antes, se tinham cruzado na Universidade de Coimbra e em particular num grupo de teatro universitário: o CITAC – Círculo de Iniciação Teatral da Academia de Coimbra.

Esta matriz informal dá origem, já no Visões Úteis, a um primeiro ciclo de trabalho, entre 1994 e 1999, visando a absorção das mais diversas influências, em que é central a aposta em encenadores convidados (Paulo Lisboa, Paulo Castro, Carlos Curto, João Paulo Seara Cardoso, António Feio, Diogo Dória e José Wallenstein; a que se juntaram as primeiras experiências de encenação de Nuno Cardoso, um dos fundadores), levando à cena um vasto leque de autores (entre os quais se contam Genet, José Gomes Ferreira, Dostoievski, Ionesco, Gregory Motton, Samuel Beckett, Kafka, Al Berto), e colaborando com os principais programadores da época como a Culturgest, o Centro Cultural de Belém e o Teatro Nacional São João.

Entre 1999 e 2008, aponta-se um segundo ciclo de trabalho, orientado pela necessidade de pesquisa e laboratório. Predominam então os trabalhos dirigidos pelos responsáveis artísticos da companhia (Ana Vitorino, Carlos Costa, Catarina Martins e Pedro Carreira) e a criação dramatúrgica ganha especial relevo. Neste período destaca-se a abordagem a autores como Kafka, Tonino Guerra, Tchekov, Pirandello, Gregory Motton, Bohumil Hrabal, Ibsen[1], Juan José Millás, Gemma Rodriguez, bem como a regular edição dos textos produzidos. Importa salientar, sobretudo, a crescente importância de espetáculos completamente originais e de uma metodologia de escrita de cena (também conhecida por Devised Theatre) que se vai sedimentando ao longo da primeira década do século XXI.

"Teoria 5S" - criação Visões Úteis / 2017

Desde a fundação do Visões Úteis que a sua atividade se desdobrou em diversos projetos, paralelos à criação e itinerância de espetáculos de teatro, que traduziram o desejo de confronto com outras áreas artísticas[2] – através da organização de encontros de criadores e da produção de exposições e concertos – e com públicos distantes da produção artística[3] – apresentação de espetáculos em estabelecimentos prisionais, em pequenas localidades do interior e em diferentes espaços urbanos, trabalho com crianças e jovens de áreas carenciadas e com público escolar[4]. Esta diversificação passou também pelo rápido enquadramento dos novos processos digitais de criação, pela organização e difusão de conteúdos, pelo início da criação em áreas transdisciplinares e pelo progressivo desejo de internacionalização.

Em 2001 o Visões Úteis recebeu a Medalha de Ouro de Mérito Cultural da Cidade do Porto, em reconhecimento da sua ação artística junto de públicos variados; e no mesmo ano deslocou-se ao Parlamento Europeu, onde apresentou, a convite da Comissão de Cultura, uma comunicação sobre o seu percurso pessoal em articulação com uma ideia de cultura e acesso à mesma na Europa.

Entretanto, e a partir de 2001, o projeto artístico alargou-se progressivamente a trabalhos sobre a paisagem urbana que foram conhecendo uma progressiva internacionalização, nomeadamente através de parcerias com instituições prestigiadas de Espanha, França e Itália. E, ao longo da década, os trabalhos sobre a paisagem urbana começaram também a abrir caminho para processos de criação no âmbito da Performance em Comunidade, sempre acompanhados por um crescente reconhecimento da crítica, dos públicos e de instituições como o Teatro Nacional de São João ou o Teatro Nacional Dona Maria II.

A partir de 2009, a equipa permanente cresceu, com uma direção artística partilhada entre Ana Vitorino e Carlos Costa[5], de forma a permitir um trabalho quotidiano cada vez mais estruturado e dinâmico. Esta situação apresentou-se como um convite a novas formas de organização dos processos criativos (numa multiplicação de oportunidades para todos os criadores envolvidos), a uma acrescida capacidade de produção e a um envolvimento permanente com a comunidade.

O Visões Úteis assumia-se já como um projeto artístico marcadamente de autor, que se produzia a si próprio, um projeto pluridisciplinar, com uma direção partilhada e assente em metodologias de trabalho colaborativas que convocam uma especial participação de toda a equipa artística, corporizando paradigmas das artes performativas (na Europa e nos Estados Unidos da América) e a que normalmente se associava em Portugal a conotação com a escrita de Cena[6] e a designação de coletivo Visões Úteis[7].

Assim, ao longo da segunda década do século XXI, o projeto estético continuou a crescer em sintonia com uma forte motivação ética, numa constante reflexão acerca do sentido contemporâneo de fazer arte e teatro[8], que quotidianamente marcou as opções de trabalho, colocou a colaboração e a sustentabilidade no centro do projeto (nomeadamente através da consideração da pegada ecológica da criação artística e da utilização de licenças Creative Commons) e agudizou a consciência da responsabilidade social e política[9] para com as comunidades envolventes[10]. Consciência esta que exigiu a presença permanente de um Serviço Educativo, um espaço onde as metodologias de trabalho das artes performativas se convertiam em ferramentas de reflexão e autonomia da população em geral, e, em particular, de todos aqueles que viviam nas periferias, fossem estas de geografia, género, geração, cultura ou etnia.

O núcleo do Visões Úteis continuava a ser a criação artística, mas a sua atividade espalhava-se cada vez mais por outros domínios como a programação, a circulação nacional e internacional, a edição, o desenvolvimento de públicos, a investigação e a formação da equipa[11].

Em 2020 o Visões Úteis mudou as suas instalações para a freguesia de Campanhã[12], dando assim uma convicção mais profunda aos sentidos projetados para a década seguinte, em que mantendo a criação artística como núcleo do projeto, se assume com igual convicção o crescimento da atividade para outros domínios, em particular o da programação, enquanto parceiro da Câmara Municipal do Porto, para o polo de Campanhã do Cultura em Expansão, um programa anual de promoção cultural e artística, que se materializa em múltiplas iniciativas em associações de moradores, coletividades e diferentes espaços por toda a cidade.

A Direção Artística é de Carlos Costa, que partilha a direção de projetos e os processos de criação com Ana Vitorino, Inês de Carvalho, João Martins e Jorge Palinhos, e ainda com diversos artistas convidados. Juntos garantem, através dos seus ricos e transversais percursos de formação e experiência, a pluridisciplinaridade[13] e transversalidade do projeto artístico.

Investigação

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Desde 2017 que a investigação é um domínio relevante na atividade do Visões Úteis, não apenas no âmbito da pesquisa inerente aos processos criativos, como também no de projetos de caráter tendencialmente científico e em articulação com instituições do ensino superior, centros de investigação, docentes e investigadores. Esta linha – que já se deixava adivinhar 10 anos antes, nas escolhas académicas de alguns diretores artísticos[14] – permite produzir e transferir conhecimento e reforçar o questionamento estético e o impacto político dos projetos no domínio da criação

No Visões Úteis é possível encontrar ações regulares de formação, na área do teatro, de caráter anual e dirigidas a jovens e adultos.

Desde 2009 são oferecidos cursos anuais de teatro para adultos. Neste espaço – em horário pós-laboral – as metodologias das artes performativas, e em particular as mais próximas aos processos de trabalho do Visões Úteis (nomeadamente a escrita para cena), são projetadas como ferramentas de reflexão, autonomia, participação e felicidade.

É também possível frequentar formações intensivas e um curso dirigido a crianças e jovens com Perturbações do Espectro do Autismo.

Desde 2007 que em Campanhã – a freguesia mais oriental do concelho do Porto – o Visões Úteis tem encontrado sentidos para o desenvolvimento seu projeto, em termos estéticos, políticos e sociais[15].

Em 2018, o Visões Úteis integrou o projeto municipal Coletivos Pláka, do qual resultou o livro "Politics of Survival", que visava pensar a dimensão política da transmissão de conhecimento[16]. No mesmo ano, desenvolveu Pegada na Rotunda – título inspirado pela Rotunda da Areosa – trabalho que era já a matriz conceptual da linha de ação em Campanhã, procurando colocar a cultura, e os agentes culturais, na generalidade dos processos de pensamento e decisão acerca da cidade do Porto.

Em 2019 assumiu a responsabilidade pelo Polo de Campanhã do Programa Cultura em Expansão[17], da Câmara Municipal do Porto. E, em 2020 mudou-se para a freguesia.

O Visões Úteis é membro de diversas redes nacionais e internacionais para o setor da cultura e das artes performativas. E ainda de inúmeras organizações que constantemente estimulam a sua exigência em termos políticos, sociais e ambientais.

Acolhe, também, em programas bienais, artistas performativos[18] – entre os quais se contam, cronologicamente, Erva Daninha (2009/2010), A Turma (2011/2022), Porta 27 (2013/2014), Teatro Anémico (2015/2016), Cão à Chuva (2017/2018), Mário Moutinho (2018/2019), Carminda & Maria Soares, Joana Castro & Maurícia Neves, Solveig Phyllis Rocher (2019/2020), Filipe Moreira, Lapso, Ervilha no Topo do Bolo (2021/2022).

De modo regular, e desde 2006, o Visões Úteis é também parceiro em diversos projetos europeus[19] de criação ou aprendizagem[20], e mais recentemente em projetos nacionais para a coesão territorial.

Responsabilidade Ambiental

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Ao introduzir uma Taxa de Carbono – que compense o planeta pelos gases que a sua atividade implica – no orçamento anual de despesas, o Visões Úteis espera contribuir não só para a consciencialização do problema das emissões de gases estufa, mas também para apoiar entidades que se dedicam à preservação do meio ambiente e sustentabilidade energética.

Para além desta aplicação, e visando reduzir a sua pegada ecológica, o Visões Úteis promove boas práticas ambientais não só em termos quotidianos, mas também através da reciclagem de cenografias e de equipamentos[21], sendo uma entidade credenciada, junto da Câmara Municipal do Porto, para deposição de materiais em ecocentros.

Finalmente, o Visões Úteis é membro da Zero, uma associação para um sistema terrestre sustentável. O objetivo é alcançar uma pegada carbónica zero em 2030.

Referências

  1. Figueira, Jorge Louraço. «A ditadura da maioria compacta». PÚBLICO. Consultado em 8 de julho de 2022 
  2. Azevedo, Eunice Tudela. A Transdisciplinary Space: Projecto Teatral, Karnart, Visões Úteis and Circolando (PDF). [S.l.]: Teatro Nacional Dona Maria II 
  3. Correia, André Brito (1 de dezembro de 2003). «Teatro fora dos teatros. Arte dramática na prisão, no jardim e no bairro». Revista Crítica de Ciências Sociais (67): 55–73. ISSN 0254-1106. doi:10.4000/rccs.1113. Consultado em 20 de junho de 2022 
  4. Costa, Carlos. «Da reintegração à reconstrução: apelo a uma outra relação entre a arte e o Estado» (PDF): 218. Consultado em 20 de junho de 2022 
  5. Teatro Nova Europa (2022). «Conversa-Acção com Visões Úteis». Consultado em 8 de julho de 2022 
  6. Carlos Manuel de Matos Moura da Costa (15 de dezembro de 2009). «"Os escritores de cena - na primeira década do século XXI" Tese de Mestrado apresentada à Faculdade de Letras da Universidade do Porto». Consultado em 8 de julho de 2022 
  7. Keiserman, Nara (2018). «Um olhar estrangeiro, sete anos depois, sobre o processo criativo da Companhia do Chapitô, do Teatro Meridional e do Visões Úteis». Sinais de Cena. Consultado em 20 de junho de 2022 
  8. seer.unirio.br http://seer.unirio.br/opercevejoonline/article/download/1795/1529?inline=1. Consultado em 20 de junho de 2022  Em falta ou vazio |título= (ajuda)
  9. Lusa. «Políticos e cidadãos encontram-se à volta de jogos de tabuleiro em novo projecto do Visões Úteis». PÚBLICO. Consultado em 8 de julho de 2022 
  10. Monteiro, Maria. «Visões Úteis cede recursos de produção para apoiar distribuição de alimentos em Campanhã». PÚBLICO. Consultado em 20 de junho de 2022 
  11. Palinhos, Jorge. «Visões Úteis - Viagens Performativas: A "Arte na Paisagem" como trabalho site-specific». Consultado em 8 de julho de 2022 
  12. Miranda, Mariana Correia Pinto, Adriano. «Fábrica Social fecha portas, Visões Úteis muda-se para Campanhã». PÚBLICO. Consultado em 8 de julho de 2022 
  13. «trans/missão». Spotify. Consultado em 8 de julho de 2022 
  14. Carlos Manuel de Matos Moura da Costa (21 de abril de 2014). «"Vens Ver ou Vens Viver? Estética e Política da Participação" Tese de Doutoramento apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra». Consultado em 8 de julho de 2022 
  15. «Apocalipse já aqui ao lado». PÚBLICO. Consultado em 8 de julho de 2022 
  16. «Politics of survival - Galeria Municipal do Porto». www.galeriamunicipaldoporto.pt. Consultado em 8 de julho de 2022 
  17. Pinto, Mariana Correia. «Cultura em Expansão volta em Março com mais de 50 espectáculos com e para a comunidade». PÚBLICO. Consultado em 20 de junho de 2022 
  18. Andrade, Sérgio C. «Um espectáculo para Mário Moutinho, uma "cara familiar"». PÚBLICO. Consultado em 8 de julho de 2022 
  19. Pace Europa (2012). «Performing Arts for Crisis in Europe». Consultado em 8 de julho de 2022 
  20. Palinhos, Jorge (2022). «Encenar a vizinhança: uma experiência de performance social na zona urbana pós-industrial de Campanhã» (PDF). Centro de Estudos Arnaldo Araújo. Arte inclusiva: Quem inclui quem?. Consultado em 20 de junho de 2022 
  21. Lusa. «Visões Úteis estreia em Coimbra "Versão Beta", uma peça "quase" carbono zero». PÚBLICO. Consultado em 20 de junho de 2022 

Ligações externas

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