Iarsanismo – Wikipédia, a enciclopédia livre
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Iarsanismo[1] (em curdo: ﯼاڔﮦساﻥ; romaniz.: Yâresân[2][3]; em persa: اهل حق<; romaniz.: Ahl-e Haqq) é uma corrente religiosa de raiz muçulmana fundada por Sultão Ixaque (ou Ixaque) no final do século XIV no Curdistão, no que é hoje o Irão Ocidental.[4]
O número total de seguidores estima-se em cerca de um milhão segundo algumas fontes[5] ou 2,25 milhões segundo outras fontes,[6] que se encontram sobretudo nas regiões mais ocidentais do Irão e Iraque (Curdistão).[5] A maior parte dos iarsanitas são etnicamente curdos e Lakis, mas também há grupos menores de luros, azeris, persas e árabes.[7] Alguns dos iarsanitas do Iraque são chamados Kaka'i.
Variantes do nome
[editar | editar código-fonte]Outros nomes e grafias aplicadas aos membros deste grupo religioso, algumas delas pejorativas, são: Iarsanismo, Yâresân, Yârisân, Aliullâhi, Ali-llâhi ("aqueles que endeusam Ali"), Alihaq, Ahl-i Haqq (derivado do árabe[carece de fontes], que pode ser traduzido como "povo da verdade" ou "homens de Deus"), Ahl-i Haq ("o povo do Espírito"), Sha Ytânparass ("adoradores do diabo") ou até Nusayri ("nazarenos", um termo geralmente aplicado aos cristãos).[8]
Origens e filiações
[editar | editar código-fonte]As origens do iarsanismo são difíceis de compreender, pois é possível identificar influências de numerosas crenças.[9]
Alguns consideram que o iarsanismo é uma ordem religiosa aparentada com outros grupos heterodoxos islâmicos esotéricos como os batinitas, xiitas ghulats, alevitas, shabaks, jahalten, kırklar e outros.[carece de fontes] Além disso, os iarsanitas praticam a taqiyya (disssimulação), como os xiitas, mas foram criticados e perseguidos pelas autoridades sunitas que consideram as suas práticas superficiais e que no fundo a sua fé não é muçulmana.
Outros autores consideram que o iarsanismo constitui uma religião inteiramente à parte. Segundo o investigador universitário Mehrdad Michael Izady, o iarsanismo, juntamente com os alevismo e o iazidismo, é uma das três religiões que formam o iazdanismo, um termo que ele usa para designar as religiões curdas anteriores ao Islão.[10] A propósito dos pontos em comum dessas três religiões, a turcóloga Irène Melikoff escreveu que os três princípios bektaşi-alevitas relativos à criação do mundo se encontram igualmente nas religiões próprias dos curdos, entre os iazidis e os Ahl-è-Hakk. Há outros pontos em comum entre estas religiões, como por exemplo a crença em Melek Taus (em curdo: Tawûsê Melek, o "Anjo-Pavão") comum ao iarsanismo e ao iazidismo, ou a representação de Melek Taus sob a forma de um galo, um animal venerado pelos alevitas.[11]
Os yârsâns têm literatura religiosa, escrita sobretudo em gorani e marginalmente em persa, embora os iarsanitas atuais falem igualmente o turcomeno e o sorâni.
Perseguições
[editar | editar código-fonte]A perseguição sofrida pelos yarsans no Irão constitui uma ameaça para a sua sobrevivência. Um relatório de julho de 2006 da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa afima que apesar das perseguições, «a antiga religião do yazadanismo ainda é praticada sob a forma de alevismo, iazidismo e iarsanismo (Ahl-i-Haqq), mas o número de fiéis não pára de diminuir».[12]
No entanto, face às tentativas que visam a sufocar a minoria yarsan, esta começa a organizar-se politicamente e reivindicou a sua herança cultural curda e a sua própria religião através da aprovação dos estatutos fundadores do Movimento Democrático Yarsan (MDY), adotados durante o Congresso Geral Yarsan reunido em Oslo a 10 e 11 de março de 2007. O MDY tornou-se a principal força política yarsan e os seus estatutos afirmam que os yarsans fazem parte da nação curda e aderem à religião yarsani.[carece de fontes]
Distribuição geográfica
[editar | editar código-fonte]Até ao século XX, a fé iarsanita estava reservada unicamente aos curdos nascidos dentro da comunidade, chamados checkedea, por oposição aqueles que entravam na comunidade por via de casamento com alguém iarsanita, que são apelidados de chasbedea ("ligados"). Os praticantes do iarsanismo são principalmente das tribos dos gurãs, calcanis, bajalanis e sanjabis, as quais vivem sobretudo no Irão ocidental e constituem aproximadamente um terço da população da província de Quermanxá. Também existem algumas comunidades à volta de Quircuque, no norte do Iraque.[13]
Se bem que a grande maioria dos iarsanitas sejam de etnia curda, há também iarsanitas de outros grupos indo-europeus: luros, azeris e persas.[6] Alguns dos iarsanitas teem o árabe como língua materna, nomeadamente nas cidades iraquianas de Mandali, Khanaqin e Bacuba.[14]
As estimativas do número de fiéis variam entre um milhão[5] e 2,25 milhões (2 milhões no Irão, 200 000 no Iraque e 50 000 na Turquia).[6]
Notas
[editar | editar código-fonte]Texto inicialmente baseado na tradução dos artigos «Yârsânisme» na Wikipédia em francês (acessado nesta versão) e «Ahl-e Haqq» na Wikipédia em inglês (acessado nesta versão).
Referências
- ↑ Gashti, Alice Menezes (2017). A Relevância de Zoroastro para As Conceituações Pós-Hegemônicas da Ordem Mundial. Brasília: Centro Universitário de Brasília. p. 24
- ↑ Hamzeh'ee, M. Reza Fariborz (1995). Syncretistic Religious Communities in the Near East (Studies in the History of Religions). Methodological Notes on Interdisciplinary Research on Near Eastern Religious Minorities. Collected Papers of the International Symposium “Alevism in Turkey and Comparable Syncretistic Religious Communities in the Near East in the Past and Present”, Berlin, 14-17 April 1995 (em inglês) Kehl-Bodrogi, Krisztina; Kellner-Heinkele, Barbara; and Otter-Beaujean, Anke ed. Leida: Brill. ISBN 9004108610
- ↑ Hamzeh'ee, M. Reza. Review of The Yaresan: A Sociological, Historical and Religio-Historical Study of a Kurdish Community (em inglês). Berlim: Klaus Schwarz. ISBN 392296883X
- ↑ Elahi, Bahram (1987). The path of perfection, the spiritual teachings of Master Nur Ali Elahi (em inglês). [S.l.: s.n.] ISBN 0712602003
- ↑ a b c Encyclopedia of the Modern Middle East and North Africa (em inglês). Detroit: Macmillan. 2004. 82 páginas. ISBN 9780028659879
- ↑ a b c Kjeilen, Tore. «Ahl-e Haqq». looklex.com (em inglês). LookLex Encyclopaedia. Consultado em 27 de janeiro de 2011. Cópia arquivada em 28 de janeiro de 2011
- ↑ «Principle Beliefs and Convictions». www.ahle-haqq.com (em inglês). Consultado em 27 de janeiro de 2011
- ↑ «Yaresanism» (em inglês). Kurdistanica.com, The encyclopaedia of Kurdistan. 14 de julho de 2008. Consultado em 27 de janeiro de 2011. Cópia arquivada em 28 de janeiro de 2011
- ↑ «Ostad Elahi et la tradition Ahl-e haqq». e-ostadelahi.fr (em francês). 9 de março de 2008. Consultado em 27 de janeiro de 2011. Cópia arquivada em 4 de julho de 2010
- ↑ Izady, Mehrdad R. (1992). The Kurds : a concise handbook (em inglês). Washington: Taylor & Francis (Routledge). 28 páginas. ISBN 978-0-8448-1727-9
- ↑ Mélikoff, Irène (1998). Hadji Bektach: un mythe et ses avatars : genèse et évolution du soufisme populaire en Turquie (em francês). [S.l.]: Brill. ISBN 9789004109544|páginas=182
- ↑ Lord Russell-Johnston (relator) (7 de julho de 2006). «Doc. 11006 - La situation culturelle des Kurdes». assembly.coe.int (em francês). Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa. Consultado em 27 de janeiro de 2011. Cópia arquivada em 27 de janeiro de 2011
- ↑ Mir-Hosseini, Z. (1994). «Inner Truth and Outer History: The Two Worlds of the Ahl-e Haqq of Kurdistan». International Journal of Middle East Studies (em inglês). 26: 267-269
- ↑ Leezenberg, Michiel. «Gorani Influence on Central Kurdish: Substratum or Prestige Borrowing» (rtf) (em inglês). Faculdade de Ciências Humanas da Universidade de Amesterdão. Consultado em 27 de janeiro de 2011. Cópia arquivada em 28 de agosto de 2008
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Gobineau, J. Arthur de (1859). «Les Nossayrys». Trois ans en Asie, 1855 à 1858 (em francês). Paris: Hachette et c. p. 337-370. LCCN 04014722. OCLC 7928827. OL 6941267M
- Minorsky, Vladimir (1920). «Notes sur la sect des Ahlé-Haqq». Mission Scientifique du Maroc. Revue du Monde Musulman (em francês). 40-41: 19-97. Consultado em 22 de março de 2017
- Minorsky, Vladimir (1921). «Notes sur la sect des Ahlé-Haqq (deuxiéme partie)». Mission Scientifique du Maroc. Revue du Monde Musulman (em francês). 44-45: 205-302. Consultado em 23 de março de 2017
- Mir-Hosseini, Ziba (1992). «Faith, ritual and culture among the Ahl-e-Haqq». In: Philipp G. Kreyenbroek; Christine Allison. Kurdish culture and identity (em inglês). London: Zed Books. pp. 111–134. ISBN 1-85649-330-X
- Moosa, Matti (1987). Extremist Shiites. The Ghulat Sects. Col: Contemporary issues in the Middle East (em inglês). [S.l.]: Syracuse University Press. p. 185-244. 580 páginas. ISBN 9780815624110