Criado-mudo – Wikipédia, a enciclopédia livre

Mesa de cabeceira

Mesa de cabeceira ou criado-mudo com a portinhola aberta, mostrando o espaço onde era guardado o penico.

Tipo
mesa
gabinete (en)
bedroom furniture (d)

Uma mesa de cabeceira, também conhecida no Brasil como criado-mudo, é um pequeno móvel auxiliar usado para aparar objectos,[1] geralmente colocado ao lado da cama, servindo sobretudo para guardar os objectos que podem ser necessários durante a noite.[2]

A palavra criado-mudo tem origem provável na tradução literal da palavra inglesa dumbwaiter.[3] Embora atualmente signifique um pequeno elevador doméstico de carga, já teve o significado de móvel auxiliar para dispor de pratos e talheres. Segundo a Encyclopædia Britannica (edição de 1911), tais móveis tiveram origem em Inglaterra no final do século XVIII.[4] Na língua inglesa, essa palavra é atestada desde 1749.

No Diccionario brazileiro da lingua portugueza, de Antônio Joaquim de Macedo Soares, publicado em 1889, o termo surge como sinônimo de bidé e "velador", descrito como "móvel de quarto de dormir, colocado ao pé da cama, e sobre o qual se bota o castiçal com a vela, a caixa de fósforos, o copo de água, etc.; tem tampo de mármore, gavetinha, e duas prateleiras com porta onde se guardam urinois". Antes disso, o termo usado para o móvel era donzela.[5]

É um termo composto, derivando, por analogia, do substantivo criado, por ser um móvel auxiliar, e silencioso, ou seja, mudo.[1][6]

Campanha da Etna

[editar | editar código-fonte]

No Brasil, em 2019, uma campanha do Dia da Consciência Negra da Etna, rede de decoração e móveis que existiu até 2022, afirmou que o termo criado-mudo tinha origem racista. O vídeo da campanha alegava uma relação entre a origem do móvel e a existência de servos escravizados que supostamente ficariam de noite do lado da cama dos seus senhores para entregar objetos como roupas e copos d'água. A campanha teve um grande sucesso, a ponto de o nome criado-mudo ter sido citado em várias listas de termos relacionados ao racismo nos anos seguintes.[7][8]

A veracidade da história da campanha foi posteriormente questionada por especialistas em etimologia, linguística e historiadores. O fato de o termo donzella ser usado durante o período escravagista do Brasil, a provável origem da tradução do dumbwaiter anglófono - idiomas como o alemão usam termos equivalentes - e especialmente a inviabilidade de deixar pessoas escravizadas tão próximas dos seus donos nos quartos durante um momento de tanta vulnerabilidade como o sono, geraram discussões sobre se existiria alguma verdade na campanha, ou se ela fora uma mera estratégia de marketing. Existem poucos registros ligando o criado-mudo ao racismo na internet antes da campanha da Etna, que acabou sendo acusada posteriormente de desinformação.[9][10][5][11][12]

Como consequência direta da campanha, outras empresas, incluindo concorrentes da Etna, se engajaram e passaram a nomear o móvel com o sinônimo "mesa de cabeceira", levando a que em 2019 esse termo fosse mais usado no Brasil para se referir a esse móvel comercialmente.[13]

Referências

  1. a b Oliveira, Maria Lilia Simões de (2001). «A METÁFORA COMO LEITURA NA OBRA DE BARTOLOMEU CAMPOS QUEIRÓS». Soletras (1) 
  2. Infopédia. «Definição ou significado de mesa de cabeceira no Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa». Infopédia - Dicionários Porto Editora. Consultado em 25 de novembro de 2019 
  3. «criado-mudo | Palavras | Origem Da Palavra» 
  4. Encyclopædia Britannica. [S.l.: s.n.] 1911 
  5. a b «Criado-mudo é expressão racista? Entenda a polêmica e o mistério por trás do termo». CNN Brasil. 21 de janeiro de 2023. Consultado em 19 de março de 2024 
  6. «dumb-waiter | Origin and meaning of dumb-waiter by Online Etymology Dictionary» (em inglês) 
  7. «Marca de móveis tira a palavra 'criado-mudo' de seu catálogo». CartaCapital. 21 de novembro de 2019. Consultado em 19 de março de 2024 
  8. «Etna deixa de usar termo racista 'criado-mudo' em catálogo». Catraca Livre. 21 de novembro de 2019. Consultado em 19 de março de 2024 
  9. «Criado-mudo é uma expressão racista? Entenda a polêmica». Aventuras na História. 20 de janeiro de 2023. Consultado em 19 de março de 2024 
  10. «Criado-mudo é um termo racista?». Casa Vogue. 21 de janeiro de 2023. Consultado em 19 de março de 2023 
  11. «A polêmica do cancelamento de palavras». Super. 21 de janeiro de 2022. Consultado em 19 de março de 2024 
  12. «Criado-mudo: racismo histórico ou campanha contemporânea para vender móveis?». Oeste Mais. 22 de maio de 2023. Consultado em 19 de março de 2024 
  13. «Painel S.A.: Lojas de móveis mudam nome de criado-mudo após considerar termo racista». Folha de S.Paulo. 24 de janeiro de 2019. Consultado em 19 de março de 2024