Silepse – Wikipédia, a enciclopédia livre

Silepse é uma figura de construção ou sintática que trata da concordância que acontece não com o que está explícito na frase, mas com o que está mentalmente subentendido, com o que está oculto. É, portanto, uma concordância ideológica, irregular ou figurada, que ocorre com a ideia que o falante quer transmitir. É também chamada de concordância irregular. O termo silepse vem da língua grega e significa “ato de compreender”, “compreensão”.

A silepse é uma figura de construção ou sintática. Trata-se da concordância que acontece, não com o que está explícito na frase, mas com o que está mentalmente subentendido, com o que está oculto. Portanto, é uma concordância ideológica, que ocorre com a ideia que o falante quer transmitir. É também chamada de concordância irregular ou figurada.

Há três tipos de silepse:

Silepse de pessoa

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"Todos nesta sala somos brasileiros". Nesta frase, o verbo somos não concorda com o sujeito claro Todos, que é da 3ª pessoa, portanto, a concordância "normal" seria "Todos nesta sala são brasileiros". O verbo concorda com a ideia nele implícita. O falante se inclui entre os brasileiros.

Para entender melhor este tipo de concordância, é preciso recordar uma regra que diz: Quando o sujeito for composto de pessoas diferentes (eu, tu, ele), do qual faça parte o EU, o verbo vai para a 1ª pessoa do plural. Exemplo: "Tu, ele e eu fomos ao cinema ontem".

Logo, no exemplo acima, a ideia subentendida é o EU, que representa a pessoa que fala. Esse recurso é muito usado em textos argumentativos, quando o autor quer se incluir na frase.

Este tipo de construção é constantemente utilizado na publicação de decretos, como em: O Presidente da República faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei (...)[1]

Silepse de número

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"O brasileiro é bravo e forte. Não fogem da luta".

O verbo fugir – fogem – não concorda com o sujeito o brasileiro, e sim com o que ele representa: os brasileiros.

Observação: Estamos ciente. Nesta frase, o sujeito é da primeira pessoa do plural (nós) e o predicativo é usado no singular, porque se trata de uma pessoa. É o que se chama de “plural de modéstia”. Em vez de o verbo ser empregado na 1ª pessoa do singular, é usado na 1ª pessoa do plural. Muito empregado por escritores e oradores, principalmente políticos, para evitar o tom individualista no discurso, expressando uma fala coletiva.

Silepse de gênero

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"Rio de Janeiro é linda. Vista daqui parece o paraíso".

Nesse caso, os adjetivos linda e vista não concordam com o substantivo Rio de Janeiro, mas com a palavra cidade. Este tipo de silepse ocorre principalmente com:

  • Pronomes de tratamento: Vossa Senhoria foi taxativo em seu discurso.

Subentende-se neste exemplo que a pessoa representada pelo pronome Vossa Senhoria é do sexo masculino.

  • Com nomes de cidades: São Paulo está muito poluída.

O adjetivo poluída concorda com cidade, que está subentendida.

  • Com a expressão “a gente”: A gente é novo ainda.

O adjetivo novo não concorda com a gente, levando a entender que o falante é do sexo masculino.

A silepse é muito empregada na linguagem coloquial, mas grandes escritores também a utilizaram em suas obras. Eis alguns exemplos:

“Sobre a triste Ouro Preto o ouro dos astros chove.” – Olavo Bilac. “Nuvens baixas e grossas ocultavam Ilhéus, vista dali em mar grande e livre.” – Adonias Filho. “A certa altura, a gente tem que estar cansado.” – Fernando Pessoa. “Corria gente de todos os lados, e gritavam.” – Mário Barreto. “O casal de patos nada disse, pois a voz das ipecas é só um sopro. Mas espadanaram, ruflaram e voaram embora.” – Guimarães Rosa. “Aliás todos os sertanejos somos assim.” – Raquel de Queirós. “Ficamos por aqui, insatisfeitos, os seus amigos.” – Carlos Drummond de Andrade. “Dizem que os cariocas somos pouco dados aos jardins públicos” – Machado de Assis. “Esta gente já terá vindo? Parece que não. Saíram há um bom pedaço.” - Machado de Assis. “E os dois, ali no quarto, picamos em mil pedaços as trezentas páginas do livro.” - Paulo Setúbal.

Obs: desgastada pelo uso, a silepse não representa recurso expressivo da língua portuguesa, pelo menos no Brasil.

Quando a gente é novo, gosta de fazer bonito.” (Guimarães Rosa)

Neste período, o escritor usou o adjetivo “novo” concordando com o sexo da pessoa que fala (masculino) e não com a palavra gente (feminino). Este é um exemplo de silepse, figura de sintaxe ou construção que se caracteriza por concordar com a ideia que se quer transmitir, não com os termos que aparecem na oração.

Em botânica crescimento siléptico diz respeito ao tipo de crescimento em que os meristemas se ativam tão pronto se formam, sem entrar em período de dormência.[2]

Referências

  1. LEI Nº 9.711, DE 20 DE NOVEMBRO DE 1998
  2. Granda, Juan Manuel Cardona. (2008). «Glosario Multilingüe de Terminología Forestal». Ed. do autor. Books.google.com.br. p. 132 
  • CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima Gramática da Língua Portuguesa. 46.ed. São Paulo Nacional, 2005.
  • HERNANDES, Paulo. Plural de modéstia. Disponível em: www.paulohernandes.pro.br Acesso em: 21 de outubro de 2007.
  • NICOLA, José de; INFANTE, Ulisses. Gramática Contemporânea da Língua Portuguesa. São Paulo: Scipione, 1989.
  • Silepse ou Concordância Irregular. Disponível em: cultura.com.br Acesso em: 21 de outubro de 2007.
  • Silepse ou Concordância Ideológica. Disponível em: www.ficharionline.com Acesso em: 21 de outubro de 2007.