Anandamida – Wikipédia, a enciclopédia livre
Anandamida, também conhecida como N-araquidonoiletanolamina (AEA), é um ácido graxo que atua como neurotransmissor derivado do metabolismo não oxidativo do ácido araquidônico, um ácido graxo essencial da família dos ômega 6. O nome é uma junção dos termos ananda (que em sânscrito significa "alegria", "felicidade") e amida.[1][2] É sintetizada a partir do N-araquidonoilfosfatidiletanolamina através de múltiplas vias metabólicas.[3] É hidrolisada pela enzima FAAH (amida hidrolase de ácidos graxos),[4] sendo convertida em etanolamina e ácido araquidônico. Assim sendo, inibidores da FAAH levam à elevação dos níveis de anandamida e estão sendo pesquisados para fins terapêuticos.[5][6]
Anandamida Alerta sobre risco à saúde | |
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Nome IUPAC | (5Z,8Z,11Z,14Z)-N-(2-hydroxyethyl)icosa-5,8,11,14-tetraenamide |
Outros nomes | N-arachidonoylethanolamine arachidonoylethanolamide |
Identificadores | |
Número CAS | |
PubChem | |
ChemSpider | |
MeSH | |
ChEBI | |
SMILES |
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InChI | 1/C22H37NO2/c1-2-3-4-5-6-7-8-9-10-11-12-13-14-15-16-17-18-19-22(25)23-20-21-24/h6-7,9-10,12-13,15-16,24H,2-5,8,11,14,17-21H2,1H3,(H,23,25)/b7-6-,10-9-,13-12-,16-15- |
Propriedades | |
Fórmula molecular | C22H37NO2 |
Massa molar | 347.53 g/mol |
Página de dados suplementares | |
Estrutura e propriedades | n, εr, etc. |
Dados termodinâmicos | Phase behaviour Solid, liquid, gas |
Dados espectrais | UV, IV, RMN, EM |
Exceto onde denotado, os dados referem-se a materiais sob condições normais de temperatura e pressão Referências e avisos gerais sobre esta caixa. Alerta sobre risco à saúde. |
Funções fisiológicas
[editar | editar código-fonte]Os efeitos fisiológicos da anandamida podem se manifestar tanto no sistema nervoso central quanto no sistema nervoso periférico, sendo mediados primariamente pelos receptores canabinoides CB1 no sistema nervoso central e pelos receptores canabinoides CB2 no sistema nervoso periférico,[7] estando estes últimos envolvidos principalmente em funções do sistema imunológico. Receptores canabinoides foram originalmente descobertos como sendo sensíveis ao Δ9-tetraidrocanabinol, principal canabinoide psicoativo encontrado na Cannabis. A descoberta da anandamida veio com a pesquisa dos receptores CB1 e CB2, de modo que era inevitável que houvesse uma substância endógena que tivesse afinidade pelos mesmos.
A anandamida vem se mostrando prejudicial à memória de ratos[8] Estudos sobre o papel desempenhado por essa substância no comportamento humano, como em padrões de sono e alimentação, bem como no alívio da dor, ainda estão em andamento.
Esta substância também apresenta um importante papel na etapa de nidação do embrião no útero materno. Portanto, canabinoides como o THC podem influenciar os processos durante os estágios iniciais da gravidez.[9] Picos de anandamida no plasma ocorrem na ovulação, de modo que há correlação com picos nos níveis de estradiol e gonadotrofina, sugerindo que estes hormônios podem estar relacionados com a regulação dos níveis de anandamida.[10] Posteriormente, a anandamida foi proposta como um biomarcador de infertilidade, mas até agora faltam valores de referência para serem utilizados clinicamente.[11]
É encontrada no chocolate juntamente com a N-oleoiletanolamina e a N-linoleoiletanolamina, que são substâncias que mimetizam os efeitos da anandamida.[12] Essa substância também pode ser encontrada no organismo de moscas drosófilas, apesar de que não foram encontrados receptores CB em nenhum inseto até agora.[13][14]
Síntese, degradação e metabolismo
[editar | editar código-fonte]Em seres humanos, a anandamida é biossintetizada a partir da N-araquidonoil fosfatidiletanolamina (NAPE) que, por sua vez, surge da transferência do ácido araquidônico a partir de uma lecitina para um grupo amino livre da fosfatidiletanolamina, através da enzima N-aciltransferase. A síntese da anandamida a partir da NAPE ocorre através de múltiplas vias metabólicas, envolvendo enzimas como a fosfolipase A2, fosfolipase C e N-araquidonoil fosfatidiletanolamina-hidrólise fosfolipase D (NAPE-PLD).[15]
A estrutura cristalina da NAPE-PLD complexada com a fosfatidiletanolamina e com desoxicolato mostra como este canabinoide é gerado pelas NAPEs de membrana e revela que ácidos biliares - os quais estão envolvidos principalmente na emulsificação de lipídeos no intestino delgado - modulam sua biogênese.[16]
A anandamida endógena encontra-se presente em baixas concentrações e possui um curto tempo de meia-vida devido à ação da FAAH, que hidrolisa essa substância em ácido araquidônico e etanolamina. Estudos envolvendo leitões mostram que níveis dietéticos de ácido araquidônico e outros ácidos graxos essenciais afetam os níveis de anandamida e outros endocanabinóides no cérebro.[17] Em ratos, a alimentação com alto teor de gorduras também mostraram resultados quanto ao aumento de níveis de anandamida no fígado, bem como um aumento da lipogênese[18]. Isto sugere que, ao menos em roedores, a anandamida pode exercer um importante papel no desenvolvimento da obesidade.
Paracetamol é metabolicamente combinado com ácido araquidônico para formar AM404[19]. Este metabólito é um potente agonista do receptor vaniloide TRPV1, enquanto que atua como um agonista fraco para os receptores CB1 e CB2. O metabólito AM404 é também um inibidor da recaptação de anandamida. Portanto, a ingestão de paracetamol leva a um aumento dos níveis de anandamida no cérebro. Desta forma, o paracetamol atua como um pró-fármaco para um metabólito canabimimético, o que pode explicar parcial ou completamente os efeitos analgésicos deste medicamento.[20][21]
Referências
[editar | editar código-fonte]- ↑ Devane, W.; Hanus, L; Breuer, A; Pertwee, R.; Stevenson, L.; Griffin, G; Gibson, D; Mandelbaum, A; Etinger, A; Mechoulam, R (18 de dezembro de 1992). «Isolation and structure of a brain constituent that binds to the cannabinoid receptor». Science. 258 (5090): 1946–1949. Bibcode:1992Sci...258.1946D. PMID 1470919. doi:10.1126/science.1470919
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- ↑ Hwang, Jeannie; Adamson, Crista; Butler, David; Janero, David R.; Makriyannis, Alexandros; Bahr, Ben A. (abril de 2010). «Enhancement of endocannabinoid signaling by fatty acid amide hydrolase inhibition: A neuroprotective therapeutic modality». Life Sciences. 86 (15–16): 615–623. PMC 2848893. PMID 19527737. doi:10.1016/j.lfs.2009.06.003
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