Ilha de Luanda – Wikipédia, a enciclopédia livre
Ilha de Luanda | |
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Localização em Angola | |
Coordenadas: | |
Geografia física | |
País | Angola |
Localização | África |
A ilha de Luanda, língua de terra em frente à cidade de Luanda |
A Ilha do Cabo,[1] mais conhecida por Ilha de Luanda,[2] é um cordão litoral, em Angola, composto por uma estreita língua de terra com 7 km de comprimento que, separando a cidade de Luanda do Oceano Atlântico, cria a Baía de Luanda.
A Ilha de Luanda, ou simplesmente A Ilha como a chamam os habitantes de Luanda, encontra-se ligada à cidade por um pequeno istmo no sopé da Fortaleza de São Miguel. É por excelência o local de divertimento e lazer dos luandenses e das demais pessoas que desejam conhecer a ilha do cabo, podendo aqui encontrar-se uma grande variedade de equipamentos turísticos, dos bares aos restaurantes junto ao mar e das discotecas aos hotéis, sem esquecer os mercados de rua, as inevitáveis praias e a marina.
Na ilha está localizada a Igreja da Nossa Senhora do Cabo, a mais antiga de Angola, fundada em 1575 pelos quarenta portugueses que viviam na ilha antes da mudança da cidade de Luanda para o continente, feita por Paulo Dias de Novais.[3]
A Ilha de Luanda faz parte do município de Luanda, na província de mesmo nome, sendo administrativamente parte do bairro Da Ilha e do distrito urbano da Ingombota.
Origem do nome
[editar | editar código-fonte]Cerca de 1570, Duarte Lopes escreveu, na sua "Relação do Reino do Congo e das Terras Circunvizinhas", que o lugar chamava-se "Loanda, que quer dizer, naquela língua, terra rasa, sem montes e baixa", levando a concluir que o local se chamaria assim por ser um areal raso. No entanto, estudos etimológicos da palavra levam a outra conclusão.
Seguindo o princípio da derivação das línguas bantas, o prefixo lu é aplicado em palavras que descrevem regiões alagadas, como ilhas, braços e bacias de rios etc., seguido da estilização ortográfica das características topológicas dessa região. Dessa forma, surge a palavra luando, que, por se referir a uma ilha, um vocábulo feminino, ao ser aportuguesada deu o actual "Luanda", vocábulo obtido através da aglutinação de lu + (nd)ando, onde ando é o étimo comprimido de ndandu, que significa "mercadorias", "objecto de comércio", "valores" etc., relativo aos produtos retirados da ilha, como o peixe ou os pequenos búzios (cauris) ali apanhados, normalmente conhecidos como njimbo ou zimbo e que eram a moeda corrente do Reino do Congo.[4] Segundo este estudo, a ilha teria o nome de Luando por ser um local de comércio situado num areal.
Uma outra versão refere que o nome deriva de "axiluandas" (homens do mar), nome supostamente dado pelos portugueses aos habitantes da ilha, porque, quando ali chegaram e lhes perguntaram o que estavam a fazer, estes teriam respondido uwanda, um vocábulo que, em quimbundo, significa "trabalhar com redes de pesca".[5]
História
[editar | editar código-fonte]No século XVI, Duarte Lopes e Filippo Pigafetta descreviam a ilha desta maneira:
“ | Após o Rio Coanza jaz o porto de Loanda, que está em 10 graus de largura, formado, como se disse, por uma ilha chamada Loanda, que quer dizer, naquela língua, terra raza, sem montes e baixa, que ela pouco se alevanta sobre o Oceano, e é feita da areia e vaza do mar e do Rio Coanza, encontrando-se os seus cursos, e caindo ali no fundo a matéria; terá de comprimento 20 milhas e de largura, quando muito, uma milha, e, em alguns lugares, um tiro de arco somente; e coisa maravilhosa é que naquela areia, cavando-se dois ou três palmos de fundo, se acha água doce, a melhor daquelas comarcas; e sucede nela um efeito estranho; pois, como o Oceano baixa, aquela água se torna um pouco salgada, porém, logo que sobe de todo, é dulcíssima: coisa que na Ilha de Cádiz, em Espanha, segundo o testemunho de Estrabão, assim acontecia. | ” |
Cerca de 1844, Arsénio Pompílio Pompeu de Carpo, madeirense exilado em Angola, onde se dedicava ao comércio de escravos, morador na Ilha de Luanda, doou a sua casa e quinta nessa ilha para a construção do Hospital da Estação Naval, oferta que foi recusada pelo Governador Geral de Angola, com os devidos agradecimentos, por já estar estabelecido o Hospital Flutuante em Luanda.[6]
A ilha de Luanda era uma imensa barreira natural de separação do oceano Atlântico, que se estendia até a Corimba, nas proximidades do rio Vala da Samba, até a primeira metade do século XX, quando o canal natural que formava a grande baía de Luanda foi terraplanado para a construção de uma passagem da avenida 4 de Fevereiro. Assim, a avenida separou a porção norte da porção sul da baía de Luanda, formando um novo acidente geográfico, que recebeu o nome de baía da Samba, mas com características de estuário. A porção sul da ilha de Luanda ainda fraturou-se em duas novas penínsulas, virando a ponta da Chicala (norte) e a ponta da Corimba (sul).[7]
Habitantes
[editar | editar código-fonte]Os habitantes originais da ilha são os axiluanda (Axilwanda), um subgrupo dos ambundos, em tempos súbditos do rei do Congo.[8] Os seus descendentes, os "pescadores da ilha", guardam até hoje alguns hábitos tradicionais.
Cultura
[editar | editar código-fonte]Muitas mulheres usam penteados trançados, missangas nos pulsos e ao pescoço e as bessanganas, traje tradicional feito com tecidos coloridos. No mês de Novembro comemora-se a Festa da Quianda (ou Kianda), ritual de veneração à divindade das águas, protectora dos pescadores.
São também típicos da ilha os pratos Mufete e Muzongué (um tipo de caldo).[9]
O grupo de carnaval União Mundo da Ilha,[10] foi fundado em 1968 pelos habitantes indígenas e é um dos grupos de Carnaval mais antigos de Luanda.[11] O grupo possui na sua galeria 12 títulos[11] e usa nos seus numero danças populares como a Varina e o Semba[12] e canções em kimbundo.[11] Tem na sua constituição mais de duas mil pessoas, entre pescadores, quitandeiras e peixeiras.[11]
Na ilha também se encontram dois clubes náuticos históricos, o Clube Náutico da Ilha de Luanda e o Clube Naval de Luanda. É um dos centros de difusão e ensino da arte marcial tradicional angolana bassula.
Referências
- ↑ «Rádio Ecclesia: Paróquia da Ilha do Cabo em festa, 341 anos de Fundação». Consultado em 18 de agosto 2011
- ↑ «Ponte que liga marginal à Ilha de Luanda será inaugurada sexta-feira». ANGOP. Consultado em 18 de Agosto 2011
- ↑ «7 igrejas históricas de Luanda». O País. Consultado em 18 de Agosto 2011. Arquivado do original em 29 de abril de 2014
- ↑ João de Jesús Pires (1965). «O Lobito e o Umbigo do Mundo». Boletim da Câmara Municipal do Lobito. Consultado em 19 de Agosto 2011 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20160621011658/http://www.angola-saiago.net/cidmae15.html# |arquivodata=21 de junho de 2016 |urlmorta=yes }}
- ↑ Chicoadão (2005). As Origens do Fenómeno Kamutukuleni e o Direito Costumeiro Ancestral Angolense Aplicável. Viana: Instituto Piaget. 212 páginas. ISBN 9789727717965
- ↑ Annaes Maritimos e Coloniaes. 4ª série. [S.l.]: Imprensa Nacional. 1944. p. 6
- ↑ Amaral, llídio do. Luanda e os seus dois arcos complexos de vulnerabilidade e risco: o das restingas longas e ilhas baixas e o das escarpas abarrocadas. Lisboa: Revista Territorium, setembro de 2002.
- ↑ José Redinha (1975). Etnias e culturas de Angola. Luanda: Instituto de Investigação Científica de Angola
- ↑ «Ilha de Luanda e as suas tradições». Ilha de Luanda. Consultado em 19 de Agosto 2011. Arquivado do original em 3 de março de 2016
- ↑ «União Mundo da Ilha abre desfile da classe A do Carnaval de Luanda». ANGOP. Consultado em 19 de Agosto 2011
- ↑ a b c d «União Mundo da Ilha será homenageado». ANGOP. 22 de janeiro de 2009. Consultado em 19 de Agosto 2011
- ↑ «União Mundo da Ilha vai desfilar com mais de dois mil integrantes». RNA. 9 de fevereiro de 2011. Consultado em 19 de Agosto 2011[ligação inativa]