Nova Esquerda – Wikipédia, a enciclopédia livre

A Nova Esquerda (em inglês: New Left) foi um amplo movimento político principalmente nas décadas de 1960 e 1970. Consistia de ativistas do mundo ocidental que faziam campanha por uma ampla gama de questões sociais, como direitos civis e políticos, feminismo, direitos dos homossexuais, papéis de gênero e reformas nas políticas de drogas.[1] Alguns veem a Nova Esquerda como uma reação de oposição aos movimentos marxistas e sindicais anteriores por justiça social que se concentravam no materialismo dialético e na classe social, enquanto outros que usaram o termo veem o movimento como uma continuação e revitalização dos objetivos esquerdistas tradicionais.[2][3][4]

Alguns[quem?] que se identificaram como "Nova Esquerda"[5] rejeitaram o envolvimento com o movimento operário e a teoria histórica da luta de classes do marxismo,[6] embora outros tenham gravitado em torno de suas próprias formas de marxismo e marxismo-leninismo, como o Novo Movimento Comunista (inspirado no maoismo) nos Estados Unidos ou o K-Gruppen no mundo de língua alemã. Nos Estados Unidos, o movimento foi associado aos movimentos de protesto anti-guerra no campus universitário, incluindo o Movimento pela Liberdade de Expressão.

A Nova Esquerda é um termo utilizado para se referir aos movimentos políticos de esquerda surgidos em vários países a partir da década de 1960.[7] Eles se diferenciam dos movimentos de esquerda anteriores que haviam sido mais orientados para um ativismo trabalhista, e adotam uma definição de ativismo político mais ampla, comumente chamada de ativismo social. Nos Estados Unidos, a Nova Esquerda está associada aos movimentos populares, como o Hippie, os de protesto à Guerra do Vietnã e pelos direitos civis, que visavam acabar com a opressão de classe, gênero, raça e sexualidade. Na Europa, a Nova Esquerda foi um movimento intelectualmente dirigido, que buscava corrigir os erros dos antigos partidos de esquerda no período do pós-guerra. O movimento começou a perder força na década de 1970, quando ativistas ou se engajavam em projetos partidários, desenvolviam organizações de justiça social ou se tornaram inativos no movimento.[8]

O ex-Beatle John Lennon também exerceu grande influência no movimento, chegando a ser investigado pelo FBI por causa de suas ideologias políticas. Através de sua influência, lutou pelo fim da Guerra do Vietnã e também tentou forçar a derrota de Richard Nixon nas eleições de 1972 nos Estados Unidos, tendo em razão disso quase sido deportado.[9][10]

Herbert Marcuse, associado à Escola de Frankfurt da teoria crítica, é celebrado como o "Pai da Nova Esquerda"[11]

As origens da Nova Esquerda foram atribuídas a vários fatores. Notavelmente, a resposta confusa do Partido Comunista dos EUA e do Partido Comunista da Grã-Bretanha à Revolução Húngara de 1956 levou alguns intelectuais marxistas a desenvolver uma abordagem mais democrática da política, oposta ao que eles viam como a política centralizada e autoritária dos partidos de esquerda do pré-guerra. Aqueles comunistas que ficaram desiludidos com os partidos comunistas devido ao seu caráter autoritário finalmente formaram a "nova esquerda", primeiro entre intelectuais dissidentes do Partido Comunista e grupos universitários no Reino Unido, e mais tarde ao lado do radicalismo universitário nos Estados Unidos e no Bloco Ocidental.[12] O termo nouvelle gauche já era corrente na França na década de 1950. Foi associado ao France Observateur e seu editor Claude Bourdet, que tentou formar uma terceira posição, entre as tendências stalinistas e social-democratas dominantes da esquerda e os dois blocos da Guerra Fria. Foi dessa "nova esquerda" francesa que a "Primeira Nova Esquerda" da Grã-Bretanha tomou emprestado o termo.[13]

O teórico crítico alemão Herbert Marcuse é referido como o "Pai da Nova Esquerda". Ele rejeitou a teoria da luta de classes e a preocupação marxista com o trabalho. De acordo com Leszek Kołakowski, Marcuse argumentou que, uma vez que "todas as questões da existência material foram resolvidas, os comandos e proibições morais não são mais relevantes". Ele considerava a realização da natureza erótica do homem, ou Eros, como a verdadeira libertação da humanidade, que inspirou as utopias de Jerry Rubin e outros.[14] No entanto, Marcuse também acreditava que o conceito de Logos, que envolve a razão de alguém, também absorveria Eros com o tempo.[15] O proeminente pensador da Nova Esquerda, Ernst Bloch, acreditava que o socialismo provaria ser o meio para todos os seres humanos se tornarem imortais e finalmente criarem Deus.[16]

Os escritos do sociólogo Charles Wright Mills, que popularizou o termo 'Nova Esquerda' em uma carta aberta de 1960,[17] também dariam grande inspiração ao movimento. O biógrafo de Mills, Daniel Geary, escreve que seus escritos tiveram um "impacto particularmente significativo nos movimentos sociais da Nova Esquerda dos anos 1960".[18]

Referências

  1. Carmines, Edward G.; Layman, Geoffrey C. (1997). «Issue Evolution in Postwar American Politics». In: Shafer, Byron. Present Discontents. NJ: Chatham House Publishers. ISBN 978-1-56643-050-0 
  2. Kaufman, Cynthia (2003). Ideas for Action: Relevant Theory for Radical Change. [S.l.]: South End Press. ISBN 978-0-89608-693-7 – via Google Books 
  3. Gitlin, Todd (2001). «The Left's Lost Universalism». In: Melzer, Arthur M.; Weinberger, Jerry; Zinman, M. Richard. Politics at the Turn of the Century. Lanham, MD: Rowman & Littlefield. pp. 3–26 
  4. Farred, Grant (2000). «Endgame Identity? Mapping the New Left Roots of Identity Politics». New Literary History. 31 (4): 627–48. JSTOR 20057628. doi:10.1353/nlh.2000.0045 
  5. Thompson, Willie (1996). The Left in History: Revolution and Reform in Twentieth-Century Politics. [S.l.]: Pluto Press. ISBN 978-0-74530891-3 
  6. Coker, Jeffrey W. (2002). Confronting American Labor: The New Left Dilemma. [S.l.]: University of Missouri Press 
  7. Breines, Wini (1989). Community and Organization in the New Left, 1962-1968: The Great Refusal (em inglês). [S.l.]: Rutgers University Press. 187 páginas. ISBN 9780813514031 
  8. Rossinow, Doug. The Politics of Authenticity: Liberalism, Christianity, and the New Left in America (Columbia University Press, 1998). ISBN 0-231-11057-X
  9. Patricia, Richard. John Lennon: Original FBI Files: Interesting FBI Paperwork Involving Cases (em inglês). [S.l.]: Richard Patricia 
  10. Mäkelä, Janne (2004). John Lennon Imagined: Cultural History of a Rock Star (em inglês). [S.l.]: Peter Lang. p. 143, 177, 160. 301 páginas. ISBN 9780820467887 
  11. Kellner, Douglas. «Herbert Marcuse». University of Texas 
  12. Kenny, Michael. The First New Left: British Intellectuals After Stalin. Londres: Lawrence & Wishart 
  13. Hall, Stuart (2010). «Life and times of the first New Left». New Left Review. New Left Review. II (61) 
  14. Kołakowski, Leszek (1981). Main Currents Of Marxism. III. [S.l.]: Oxford University Press. p. 416. ISBN 0-19-285109-8 
  15. Marcuse, Herbert (1955). Eros and Civilization. [S.l.]: Beacon Press. pp. 125–126. ISBN 978-1-135-86371-5 – via Google Books 
  16. Kołakowski, Leszek (1981). Main Currents Of Marxism. III. [S.l.]: Oxford University Press. pp. 436–440. ISBN 0-19-285109-8,  quoting Dans Prinzip Hoffnung pp. 1380–1628.
  17. Wright, C. Wright (1960). Letter to the New Left. [S.l.: s.n.] – via Marxists Internet Archive 
  18. Geary, Daniel (2009). Radical Ambition: C. Wright Mills, the Left, and American Social Thought. [S.l.]: University of California Press. p. 1. ISBN 9780520943445 – via Google Books 

Ligações externas

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