Revolução marginalista – Wikipédia, a enciclopédia livre
Revolução marginalista é o nome que se deu ao surgimento, independente e (quase) simultâneo, por volta de 1870, de uma série de contribuições teóricas que fundamentariam uma nova abordagem da Economia - o marginalismo -, baseada na ideia de que o valor econômico resulta da utilidade marginal.
Essa mudança de abordagem - da economia política para ciência econômica - fundamenta-se sobretudo nas obras de Menger (1871), Jevons (1871) e Léon Walras (1874), e levou à formação das chamadas escola neoclássica e escola austríaca de economia.
Histórico
[editar | editar código-fonte]A teoria moderna do valor começou com Adam Smith (1776), David Ricardo (1817) e vários outros autores que compõem o grupo da Escola Clássica de Economia.
Estes autores explicavam a formação dos preços, basicamente, pelos seus custos de produção. Se uma mercadoria "A" custava, para ser produzida, o dobro que a mercadoria "B", o preço de "A" seria duas vezes maior que o preço de "B".
Mas ficava evidente que essa análise era muito imperfeita. Como os custos dependem do volume de produção, e (na maioria dos casos) quando o volume de produção aumenta os custos caem, uma análise da teoria dos preços precisaria levar em consideração a demanda pelas mercadorias.
O estudo da demanda de um produto é relacionado com sua utilidade. Mas os economistas clássicos tinham uma certa dificuldade para lidar com o conceito de utilidade na formação dos preços. Criaram o paradoxo da água e do diamante: como a água, que é tão útil, é tão barata, e o diamante, de utilidade relativa, é tão caro? - perguntavam-se eles, sem obter resposta.
A criação da Teoria da Utilidade Marginal
[editar | editar código-fonte]A criação do conceito de utilidade marginal, que floresceu no final do século XIX, veio trazer a resposta ao paradoxo e hoje é a base teórica da análise econômica da demanda.
O valor da utilidade marginal se define como sendo o valor, para o consumidor, representado por uma unidade adicional de alguma mercadoria.
Para exemplificar: para um consumidor que esteja com fome, a primeira fatia de pão tem uma utilidade enorme. Essa utilidade vai decrescendo à medida que se vai adicionando mais unidades. A décima fatia de pão já representará uma utilidade bem menor que a primeira. A trigésima fatia de pão terá uma utilidade quase nula e a centésima poderá até ter uma utilidade marginal negativa se causar, em nosso consumidor, uma indigestão.
Os criadores do conceito de Utilidade Marginal
[editar | editar código-fonte]A análise da demanda se tornou possível pela teoria da utilidade, inventada primeiramente pelo funcionário público Hermann Heinrich Gossen (1810-1858) na Prússia em 1854, que criou, num raro e desconhecido livro em alemão,[1] a "Segunda Lei de Gossman" ou a "Lei dos rendimentos Marginais Decrescentes". Seu trabalho, entretanto, foi desprezado por seus contemporâneos e permaneceu totalmente desconhecido até 1878. Na década de 1870 Carl Menger na Áustria (1871), Léon Walras na França (1874-77) e W. S. Jevons na Inglaterra (1871), quase que simultaneamente, recriaram de forma independente o conceito inicialmente descoberto por Gossen, que então foi amplamente divulgado.
Mais tarde Alfred Marshall, na Inglaterra, aprofundou essas análises em seu livro Principles of Economics (Princípios de Economia) - 1890 e passou a considerar que os preços são determinados simultaneamente por fatores de custos e de demanda. A análise de Marshall também reconhece as complexas interdependências que ocorrem num sistema de preços, com a demanda e a oferta de várias mercadorias interagindo e se afetando reciprocamente.
Ver também
[editar | editar código-fonte]Referências
- ↑ GOSSEN, Hermann Heinrich. The Laws of Human Relations and the Rules of Human Action Derived Therefrom.Entwicklung der Gesetze des menschlichen Verkehrs und der daraus fließenden Regeln für menschliches Handeln. Translated by Rudolph C. Blitz; introduction by Nicholas Georgescu-Roegen. Cambridge, MA: MIT Press, 1983. Arquivado em 22 de setembro de 2006, no Wayback Machine. ISBN 0262070901
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- «GOSSEN, Hermann Heinrich. The Laws of Human Relations and the Rules of Human Action Derived Therefrom (Entwicklung der Gesetze des menschlichen Verkehrs und der daraus fließenden Regeln für menschliches Handeln).Translated by Rudolph C. Blitz; introduction by Nicholas Georgescu-Roegen. Cambridge, MA: MIT Press, 1983.». ISBN 0262070901
- «TUBARO, Paola. Doctoral dissertation. The Origins of Mathematical Economics: Calculus and Price Theory. Joint Doctoral Program, Université Paris X – Nanterre (France) and J.W. Goethe-Universität Frankfurt am Main (Germany).» (PDF)